sábado, 22 de agosto de 2020

Lar é onde o coração está - capítulo 03

Tinha combinado com Rosária, para que a assistente social levasse Paulo por volta das 20h00 à sua casa, pois nesse horário tanto ele quanto Marcelo já estaria em casa para receber o menino.

Naquele exato momento Diego estava mostrando uma casa para um jovem casal. A moça exibia uma gravidez avançada e fazia uma série de perguntas sobre o bairro, a casa, se havia escolas ou creches próximas, ao que Diego tentava responder com rapidez, auxiliado pelo celular.
Aquela já era a quarta casa que ele mostrava ao casal, mas já estava sem muitas esperanças de conseguir vender algo hoje. Na verdade já fazia alguns meses que não conseguia vender um imóvel e por isso estava começando a se sentir meio frustrado. Foi quando ouviu a moça falar.
– Vamos ficar com a casa. – as palavras pareciam algum tipo de miragem sonora, afinal, depois de tantos meses... Diego pediu que ela repetisse e ao confirmar o que achou ter ouvido, quis dar um grande pulo de alegria para comemorar, mas ao invés disso apenas sorriu simpático e apertou a mão dos dois, para em seguida dizer que viessem com ele a imobiliária acertar a papelada.
Foi uma venda grande, ele conseguiu uma boa comissão. Já havia notificado o dono do imóvel e feito a transferência bancária do valor e estava se sentindo tão feliz que quase podia flutuar. A partir daquele momento, o resto do dia pareceu passar voando.
***
Enquanto isso, na clinica de acupuntura, Marcelo terminava de aplicar as ultimas agulhas no rosto de uma moça, cujo lado direito tinha sofrido paralisia de Bell e estava temporariamente sem movimento. Ele em seguida apagou a luz do pequeno quarto onde ficava a maca, na qual a paciente estava deita e informou que voltaria dali mais ou menos uma hora. Sabia que deixando as luzes apagadas e a musica ambiente de fundo, as pessoas acabavam cochilando e isso ajudava as agulhas a fazerem mais efeito nos pontos onde foram aplicadas.
No corredor da clinica, Marcelo tirou o celular do bolso, o qual ele deixava no silencioso durante o trabalho e viu que tinha uma mensagem de Diego. Ao abri-la, sorriu enquanto lia o texto:
"Eu vendi aquela casa grande da qual estive falando há meses! O casal já pagou e eu ganhei a minha comissão! Queria muito contar pra você. Nós nos vemos hoje a noite, por favor, não demore, porque a assistente social vai levar o Paulo lá em casa. Te amo"
Respondeu com "parabéns pela venda" e "pode deixar, eu vou chegar no horário" e claro "Também te amo".
Diego estava eufórico com a chegada do garoto. Era interessante como a atitude dele em relação ao menino mudou tão rapidamente, há três dias ele dizia que não se sentia capacitado para cuidar de uma criança e, no entanto, ontem, tinha passado em uma loja de brinquedos e comprado coisas para colocar no quarto do irmão menor. E tinha de confessar que ele também estava animado em receber Paulo como parte da família.
***
Chegaram em casa com uma diferença de uns quinze minutos. Mal desceu do carro, Diego correu até Marcelo, que o esperava na porta da casa e pulou nele, abraçando-o. Exibia um sorriso largo e contagiante de satisfação.
– Ainda não consigo acreditar que vendi aquela casa! Eles a jogaram pra mim porque o valor venal era alto demais, todo mundo naquela imobiliária parece que quer me ver pelas costas... Mas eu vendi! – Marcelo o abraçou pela cintura enquanto puxava-o para dentro da casa. Estava calor, era começo de Janeiro e quatro ventiladores pela casa ainda não pareciam ser o suficiente.
– Ainda falta uma hora pra Rosária chegar com o Paulo, eu acho que vou tomar um banho... Gostaria de vir comigo? – observou Diego em pé no meio do corredor, a camisa social grudando no corpo por conta do suor, a pele chocolate reluzindo com as gotas de suor e aquele sorriso tão convidativo, não pensou muito mais, apenas seguiu até ele e o beijou com paixão para em seguida lhe dar um tapa leve no traseiro como se dissesse "vá na frente".
Já no banheiro, eles se ocupavam mais em trocar beijos e acariciar os corpos um do outro, do que com qualquer outra coisa. Já há algum tempo eles não faziam amor, primeiro por conta do trabalho de ambos, dos quais sempre chegavam exaustos e nos últimos dias, foi a coisa toda com a chegada de Paulo.
Diego se ajoelhou no chão do Box e tomou a ereção firme do marido nas mãos, deslizando a língua com cuidado pela rigidez firme. Ergueu então os olhos para ver o rosto vermelho e afogueado de Marcelo. O cabelo macio e castanho estava caindo pela testa, cobrindo os olhos, encharcado pela água do chuveiro. Diego sentiu as mãos firmes do outro tocar sua cabeça e deslizar por sua nuca em um pedido mudo o qual ele atendeu prontamente.
Abarcou a rigidez firme dentro de sua boca, sentindo-o pulsar entre seus lábios, para em seguida começar os movimentos de felação contínuos, aumentando ou diminuindo a velocidade conforme o som dos gemidos de Marcelo.
Parou pouco antes do outro atingir o ápice e ficando em pé, tomou os lábios do marido nos seus em um beijo cheio de desejo e urgência, para em seguida sussurrar contra o ouvido direito do outro "Sua vez".
Sentiu-se ser pego pela cintura e então, prensado contra a parede, a rigidez forte que exibia entre as pernas pulsava implorando por alivio e Danilo observou Marcelo ajoelhar, quase como ele mesmo fizera segundos antes e então acariciar em seu membro rijo, para em seguida engolfá-lo dentro da própria boca, ao mesmo tempo em que se masturbava de uma forma vigorosa.
Diego jogou a cabeça para trás enquanto soltava um gemido alto e extasiado enquanto sentia os espasmos elétricos do orgasmo se espalhar por seu corpo, conforme expelia sua semente em jatos quentes. Abaixo dele, Marcelo também soltou um gemido sufocado enquanto se esvaia em gozo.
Ele então se levantou e encostando a testa na de Diego, se deixou perder por alguns segundos dentro daqueles grandes olhos castanhos e bonitos e em seguida beijo-o na boca, sem pressa, apenas apreciando cada pequeno detalhe da boca do marido.
– Acho que... É isso que vai dar pra gente fazer... Pelo menos por enquanto. – disse Marcelo por fim enquanto pegava a esponja e o sabonete e começava a esfregar a si mesmo e a Diego.
– Pois é... Eu queria ter feito mais, mas, nós estamos meio em cima da hora e não seria nada bom a assistente social chegar e a gente não ouvir porque estávamos... Bem, ocupados. – Diego riu enquanto fechava o chuveiro e apanhava a toalha no suporte próximo ao Box.
– Mas vamos ter outras chances... Num futuro próximo. – murmurou Marcelo enquanto enrolava uma toalha na cintura.
***
Enquanto se vestiam, rolou mais alguns beijos e toques, mas Diego lembrou que a mulher chegaria logo e eles precisavam estar prontos. Ele disse isso com um tom de voz muito frustrado.
E estava certo, quinze minutos depois Rosário estava na porta da casa, tocando a campainha acompanhada de Paulo, que se escondia atrás da assistente social. Diego os convidou para entrar e quando ela disse, "Este é o seu irmão, Diego" ele quase a corrigiu com "meio-irmão", mas desistiu no momento que viu o garoto que espiava por trás da moça.
Aqueles grandes olhos castanhos assustados, a pele chocolate como a dele, talvez um pouco mais clara (herança do padrasto) e os cabelos cacheados e macios. Era como olhar para um ratinho assustado, que fugia perante qualquer som mais alto ou brusco. Agachou-se na altura do menino e se apresentou, estendendo a mão, a qual Paulo não apertou.
– Tudo bem, vamos ter tempo pra nos conhecer. – Marcelo entrou na sala, o que chamou a atenção do garoto, que o encarou de forma fixa com grandes olhos arregalados.
– Esse aqui é o Marcelo. Ele é meu marido. – viu Paulo piscar com lentidão algumas vezes e então voltar a se esconder atrás de Rosário.
– Sabe Paulo, a gente preparou um quarto muito legal, só pra você. Quer ver enquanto o Diego conversa com a Rosária? – Marcelo disse casualmente, sem olhar para o garoto que em resposta saiu de trás da moça e avançou alguns passos até o corredor, onde o acunputurista estava parado.
Ele deu mais alguns passos e olhou para Rosário, que confirmou que ficaria ali até ele voltar. O menino pareceu se sentir seguro com a promessa e seguiu com Marcelo até o fim do corredor onde do lado direito, havia uma porta com um desenho do Homem-aranha em E.V.A. e o nome dele escrito. Marcelo leu para ele.
– Este aqui é o seu nome, porque este agora é o seu quarto.
Enquanto isso na sala, Rosária pediu para conversar com Diego em particular. Eles foram até a cozinha, onde ele pediu que ela sentasse à mesa e perguntou se aceitaria um café.
– Por favor. Há algumas coisas que eu preciso contar sobre o Paulo antes de ir embora hoje. Coisas que aconteceram com ele e o traumatizaram. – no mesmo momento Diego pensou que o padrasto havia de alguma forma teria abusado do garoto e sentiu o sangue subir fervendo.
– Por acaso o meu padrasto... – ao que Rosária respondeu antes que ele terminasse a frase, erguendo a mão em um gesto apaziguador.
– Não, nunca. O pai nunca fez nenhum mal físico ao menino, agora psicologicamente eu não posso confirmar... Mas, o fato é que, foi ele quem encontrou sua mãe morta. O aneurisma deve ter estourado de repente e ela estava caída ao lado da cama. Ele ficou um dia inteiro sozinho com ela lá, até que a vizinha da casa ao lado foi pedir uma xícara de açúcar emprestada e viu a porta da casa aberta. – Rosária pegou a xícara de café que Diego oferecia, agradeceu e bebeu um gole, para então continuar.
– Ele estava brincando na frente da casa, entrou por algum motivo e não bateu a porta e quando encontrou o corpo da sua mãe, ficou ali com ela. – a imagem se formou na mente de Diego e ele sentiu pena do irmão.
– Desde então ele não fala uma palavra. O levamos para um psicólogo infantil do Estado logo depois de recolhermos ele e disseram que isso é normal. Ele está em choque. Agora você compreende porque ele não te respondeu quando chegamos? Ele não fala com ninguém há mais de uma semana. – ela olhava para o café na xícara enquanto suspirava de forma triste. –
– E disseram quando ele voltará a falar? – viu Rosária negar com um meneio de cabeça e então a ouviu informar que talvez levasse algumas semanas, talvez meses, não sabia-se ao certo quanto tempo Paulo levaria para voltar a falar, mas o mais importante era que ele não o pressionasse.
– Eu jamais faria isso! Não depois de saber de tudo o que ele passou. Fique tranquila que eu e o Marcelo vamos achar uma forma de nos comunicarmos com o Paulo até que ele se sinta bem para falar de novo. Agora, Rosária, eu notei que ele trouxe só uma mala pequena, ele não tinha mais nada que quisesse trazer? – a assistente social aprumou-se na cadeira e disse que "não havia mais o que trazer".
– Ele não tinha muitos brinquedos, nem roupas, nem mobília que valesse a pena trazer para cá. Tudo o que o Paulo fez questão de vir com ele está naquela mala. Sabe, parece que seu padrasto não comprava muito de nada para ele ou sua mãe. Eles viviam com o mínimo básico para sobreviver. Segundo a vizinha que encontrou o Paulo, sua mãe, Beatriz, se submetia as ordens do seu padrasto e quando ele faleceu ano passado, era como se ela estivesse condicionada naquele estilo de vida para poder mudar. – mais um motivo para Diego odiar o finado padrasto. O homem era um monstro!
– Entendi. Mas se depender de mim, o Paulo vai ter tudo o que precisar e tudo o que eu puder dar a ele. Eu acredito que crianças devem ser muito bem cuidadas. – falou a ultima frase com um amargor na voz, ao lembrar-se dos poucos anos que viveu com os pais e quando após o pai falecer, a mãe se casar de novo com aquele homem horrível.
Enquanto do outro lado da casa, Marcelo observava Paulo da porta do quarto, via o menino tocar os brinquedos e objetos de decoração do cômodo com cuidado e reverencia, quase como se não acreditasse que eram reais. A pequena mala estava depositada em cima da cama, que tinha uma colcha do homem-aranha.
Lembrava-se de Diego contando que o vendedor disse que "muitas crianças gostam deste personagem, meninos e meninas". Por isso, o quarto todo era uma espécie de aranhaverso particular.
– Então Paulo, você gostou? – o menino virou-se e o encarou com aqueles grandes olhos castanhos e profundos e então fez um gesto lento e afirmativo com a cabeça e exibiu um pequeno sorriso.
– Que bom, foi o Diego que escolheu tudo. Ele queria que você se sentisse bem aqui, sabe? – novamente um meneio positivo de cabeça. Marcelo estava se perguntando por que o menino não falava, mas, achou melhor não perguntar ao garoto.
Então eles ouviram a voz de Rosário na sala de estar, ela chamou Paulo, que saiu correndo do quarto, mas deixou a mala em cima da cama. Marcelo o seguiu, mantendo-se alguns passos atrás e viu o menino abraçar a assistente social com força, como se assim conseguisse fazer que ela ficasse.
– Agora, a gente já conversou Paulo, você vai morar com o seu irmão e o marido dele. Mas não fique triste que logo eu volto pra te ver de novo, eu prometo. – Paulo estendeu o dedo mindinho e um gesto silencioso de "você jura?" ao que Rosária entrelaçou seu mindinho ao do menino e repetiu "eu prometo".
Ela havia combinado com Diego que viria mensalmente, sempre na terceira quarta-feira do mês, visitá-los para ver como Paulo estava. As visitas durariam, inicialmente um ano e se estivesse tudo bem, o prazo entre elas seria aumentado.
– Então, obrigada pelo café Sr. Silva. – ficaram os três em pé na frente da porta observando a moça ir embora. Paulo continuou em silencio e com os grandes olhos castanhos vidrados no portão, vários minutos depois que Rosária já havia partido.
Continua...

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