Naquela Segunda-feira,
quando Paulo chegou à escola, ele viu Agatha descer do carro da mãe com a
cabeça baixa e um pouco desligada do que acontecia ao seu redor. Assim que ela
passou pelo portão e entrou no pátio, o garoto correu até ela, perguntando como
estavam as coisas, ao que viu a amiguinha suspirar cansada e responder que “estão indo”.
Depois do fiasco
com o pai no aniversário no sábado passado, Agatha vinha sentindo como se sua
jovem vida não tivesse mais a mesma alegria de antes, pois até aquele dia, ela
ainda nutria a esperança de que o pai se lembrava dela. De que ele a amava. Mas
agora ela tinha certeza de que isso não passava de uma enorme mentira que tinha
inventado para si mesma.
O sinal para a
aula soou estridente e enquanto Luís se juntava as outras duas crianças e
trocava um breve olhar preocupado com o amigo, Paulo deu um abraço de lado na garota,
sem saber bem o que dizer. Ainda assim, durante a aula, ele não conseguiu
deixar de pensar o que era pior. Ele que tinha perdido os pais para sempre ou
Agatha, que ainda tinha um pai vivo, mas que não dava mais a menor atenção para
a menina. Paulo passou tanto tempo pensando nisso que quase acabou se
esquecendo de fazer as contas de soma e subtração da aula e as terminou quando
o sinal do recreio soou.
A amiga ainda
tinha a mãe e ele tinha Diego e Marcelo, mas pais eram pais, independente do
quão complicados eles fossem e sentir que um deles não te amava mais, doía.
***
Desde que havia
dito sim ao pedido de casamento de Francisco, Joaquim vinha se perguntando
várias coisas que até aquele momento jamais havia parado para pensar. De quanto
teriam de desembolsar para fazer uma modesta festa de casamento, até se estavam
mesmo prontos para tomar uma decisão tão complexa.
Claro que se não
desse certo, poderiam se separar, cada um ia para um lado e vida que segue. Mas
ele não queria pensar nessa possibilidade, não queria se quer imaginar que ao
casarem de “papel passado” isso poderia arruinar o relacionamento que vinham
levando tão bem por cinco anos. Quase nunca brigavam. Tinham gostos parecidos e
acomodavam as fantasias um do outro na cama, quantos casais, hétero ou não,
podiam dizer o mesmo? O rapaz se perguntou enquanto listava o estoque de
sabonetes da loja.
Ele queria muito
contar para os seus poucos amigos sobre aquele grande passo que dariam juntos,
mas não tinha vontade de ter de repetir a notícia várias vezes e por isso,
combinou com Diego e Marcelo de saírem no final de semana para um barzinho.
Também chamou Mayara e Letícia e Darcy, com quem vinha conversando bastante
desde que se conheceram no casamento de Maurício.
Pensar no ex de
Francisco fez um calafrio incomodo percorrer sua espinha. Por mais que agora não
houvesse qualquer chance de que o outro se aproximasse de seu namorado, Joaquim
ainda não gostava de Maurício. Em parte por causa do que ele lhe sussurrou
quando iam embora da festa.
“Estou feliz pelo Francisco.”
— Mas se estivesse
mesmo feliz, não teria me fuzilado com os olhos durante a festa toda... —
murmurou para a loja vazia e em seguida depositou a prancheta sobre o balcão de
vidro, enquanto olhava o relógio de parede. 11h45. Francisco logo estaria ali
para almoçarem juntos.
E depois de dez
minutos que lhe pareceram se arrastar como uma hora, o namorado chegou,
trazendo as marmitex de sempre. O rapaz loiro o cumprimentou com um beijo
rápido nos lábios enquanto virava a placa na porta da loja para “fechado” e
girava a tranca, só para se certificar de que não seriam incomodados durante o
almoço.
Por mais que tenha
se esforçado, Joaquim não conseguiu disfarçar seu desconforto pelos pensamentos
intrusivos que ele vinha tendo nas ultimas horas. Naquele momento, empurrava um
pouco de arroz de um lado para o outro da forma de alumínio enquanto pensava se
deveria ou não expressar seus receios para o namorado.
Enquanto isso,
Francisco observava o loiro exibir uma expressão desanimada e meio apática e se
preocupou, mas, com receio de ser invasivo, apenas segurou a mão morna e macia
dele dentro da sua sobre a pequena mesa, recebendo em resposta um olhar alerta.
— Tá tudo bem? — Joaquim
esboçou um pequeno sorriso e demorou alguns segundos para responder, por fim
dizendo que estava pensando bastante em tudo o que envolveria a cerimônia de
casamento deles.
— A gente nem
pensou numa data. E tem o básico como alianças e se vamos fazer uma pequena
recepção e onde ela será e quem nós vamos convidar... Eu não queria chamar
muita gente, mais por causa dos gastos... — mas ele cortou a frase no meio e
ficou em silencio outra vez.
— Sobre tudo isso
que você falou, vamos dar um jeito. Podemos tirar orçamento e ver datas nos
cartórios do centro e não precisamos casar este mês. Dá até pra ser ano que
vem, se você quiser. Eu sei, você comentou comigo que está com um pouco de medo
do que aquele idiota pode fazer enquanto está sentado lá na presidência, uma
canetada e essa conquista que a gente conseguiu com muito esforço vai pro
buraco. Eu lembro de tudo o que você me disse enquanto voltávamos para casa. — Joaquim
sentiu o rosto corar ao ouvir o namorado mencionar exatamente as palavras que
havia dito naquele Domingo de manhã.
— Desculpa, acho
que estou exagerando de novo... É só que... Querendo ou não, vai ser uma coisa
que se for mal planejada, pode virar uma memória ruim... Ah, sei lá, não
consigo parar de pensar besteira! — declarou o rapaz loiro por fim, para em
seguida soltar um longo suspiro desanimado.
— Ei, não tem
problema, essas coisas a gente pode ir planejando com calma. — Quando eles
começaram a namorar e Francisco ouviu a história sobre o ex de Joaquim, ele
tinha se comprometido mentalmente a dar todo o apoio que o namorado precisasse,
por quanto tempo fosse necessário, ainda mais depois de ver que o estrago
causado nele havia sido físico e emocional.
— E você não tem
de pedir desculpas. Digo, eu sei que você quer casar tanto quanto eu, ou de
outra forma não teria me dito sim. E ta tudo bem. Como já disse antes, fico
feliz que confie em mim o suficiente para falar sobre o que te preocupa, por
mais simples que seja o assunto. — enquanto falava, Francisco conferiu o
relógio e se deu conta de que tinha de voltar para a editora, mas antes de
sair, sugeriu de irem a um shopping comprar as alianças, quando saíssem do
trabalho.
— Se você quiser, é
claro. — Joaquim sorriu e respondeu “é
claro que eu quero, seu bobo” e então eles trocaram um ultimo beijo, que
podia ter evoluído para algo mais nada seguro para o local de trabalho, se
Francisco não tivesse se afastado, deixando para trás um namorado bastante
frustrado.
***
Mayara estava
esperando Paulo sair da escola. Em pé, ali perto do portão a moça observava as
crianças saírem correndo para abraçarem seus responsáveis e contarem sobre o
dia que tiveram e então ela viu os garotos três vindo pelo corredor do pátio.
Paulo de um lado, Agatha no centro e Luís na outra ponta. A menina ainda exibia
uma expressão chateada, mas ao lado dos amiguinhos, ela até esboçava um pequeno
sorriso.
— Oi Mayara! —
Paulo a cumprimentou com um sorriso cativante para em seguida abaixar na calçada,
com a mochila em mãos, na qual vasculhou com atenção.
— Oi Agatha, como
você está, querida? — Mayara viu a menina erguer os grandes olhos escuros e
ainda carregados de tristeza em sua direção e pensou em quanto estrago mais
Silas faria na vida da menina.
— Tou indo, tia
May. — a moça sorriu e deu um abraço de lado na menina. Tinha ganhado uma
sobrinha “por afinidade”. Em seguida,
ela conversou com Luís, que também a chamou de tia, e estava ouvindo o menino
contar como tinha passado o final de semana jogando vídeo-game com a irmã mais
velha, quando Paulo levantou em um impulso, como um daqueles bonecos de mola na
caixa.
— May, May, olha
só o que eu tirei hoje! — ela pegou o papel e observou que havia uma nota 09/10
na folha de exercícios de matemática do menino.
— Que legal! Você
tirou um nove. — ela ainda conversava com o menino quando sentiu um toque
gentil em seu ombro e ao olhar para trás, encontrou Vanessa e Miriam, que haviam
vindo buscar Agatha e Luís.
Após conversarem
amenidades, a mãe da menina puxou as outras duas para o lado com sutileza e contou
sobre a situação da garota com o pai, para em seguida soltar um suspiro cansado
e informar de que Agatha estava irredutível em não perdoá-lo.
— Convenhamos que o que aconteceu no
aniversário dela foi a gota d’água. Ele já vinha negligenciando ela há uns bons
meses. E ainda tem aquela... Mulher. — o amargor na voz de Vanessa ao se
referir a atual namorada do ex-marido não deixou duvidas da mágoa que ainda guardava.
Não por ele ter arrumado outra pessoa, mas por ela ter descoberto que eles
estavam juntos, enquanto Silas ainda era casado com ela.
— Vamos tentar uma
última vez no final de semana. É o final de semana dele, ele tem de vir buscar
a Agatha, sabe? Agora, se ela vai querer ir é outra história. E eu já decidi
que não vou forçar. Conversei com a minha advogada e ela me disse que se a
Agatha se recusar, eu preciso ir até o juiz informar isso... Mas eu não vou
obrigar a minha filha a ficar ao lado de quem ela não gosta. — Vanessa fungou
baixinho e secou uma pequena lágrima que brotava no canto do olho direito, para
em seguida chamar a filha e se despedir das outras duas.
— Que complicado, não? — Miriam comentou ao
mesmo tempo em que também se despedia e ia embora segurando o irmãozinho pela
mão.
Mayara se despediu
da moça e em seguida, segurando a mão de Paulo, começaram a caminhar de volta
para casa e apesar da moça demonstrar interesse pelo que o menino estava
contando, uma parte de sua mente continuava repetindo a breve conversa que
tiveram com Vanessa.
***
Quando Diego
entrou na casa, Marcelo já havia chegado e estava dando atenção para Paulo, que
mostrava uma folha de papel com grande animação e antes que o rapaz pudesse
sequer dar um beijo no marido ou cumprimentar Mayara, o menino disparou em sua
direção com a folha de papel balançando,
para mostrar a nota que havia tirado na prova de matemática.
— Mas olha só, que
legal! Parabéns! — Diego respondeu enquanto fazia um afago nos cabelos do irmãozinho.
Queria poder dar mais atenção ao menino, mas estava exausto. Tinha mostrado dez
casas para uma família que foi até a imobiliária e no fim, eles não gostaram de
nenhuma das opções apresentadas e disseram que iam “pensar melhor”, o que costumava significar que não alugariam pela
imobiliária em que ele trabalhava.
Na verdade, tudo o
que ele queria naquele momento era um banho morno, jantar algo leve e dormir.
Mas não queria parecer insensível perante a alegria do menino, por isso fez o
melhor para demonstrar orgulho.
Estava massageando
a nuca com uma das mãos quando sentiu um toque suave em seu ombro esquerdo e ao
levantar a cabeça, encontrou Marcelo ao seu lado. Ele exibia um pequeno sorriso
de apoio e após beijá-lo com suavidade nos lábios, sussurrou contra seu ouvido.
— Vá tomar um
banho, eu levo a Mayara prá casa. E não se preocupe com o Paulo ou com o
jantar, só vai lá e descanse um pouco. — Diego quis expressar sua gratidão, mas
tudo o que pode fazer foi exibir um sorriso fraco e cansado e concordar com um
meneio de cabeça.
— Paulo, quer ir
comigo levar a Mayara pra casa? — antes que Marcelo terminasse a frase, o
menino já estava na porta que dava para a rua, dando pequenos pulos de alegria
e enquanto os adultos saiam, o menino correu até Diego e lhe deu um abraço
surpresa pelas costas, quase o derrubando no processo, ao mesmo tempo em que
gritava “Tchau Diego! A gente já volta!”
ao que o rapaz respondeu com uma despedida em tom baixo.
Enquanto ficou
sozinho em casa, Diego separou um jogo de pijama e entrou no chuveiro. A água
morna caia sobre seus músculos doloridos como um tipo de medicina mágica,
aliviando a dor e o cansaço. E enquanto estava debaixo do chuveiro, o rapaz
pensou mais uma vez na sorte que tinha por Marcelo estar ali com ele. Ele
sempre notava os seus sinais de cansaço e estresse, mesmo que não falasse nada
e dava um jeito de ajudá-lo.
Em seguida lembrou
da saída combinada com Joaquim e os outros no final de semana. Já havia
conversado com Lola e Joana, que demonstraram grande alegria em ficar com o
menino naquele final de semana. Só teve uma coisa que o preocupou um pouco,
Joaquim disse que convidaria uma amiga e isso fez com que a ansiedade social de
Diego já começasse a trabalhar contra ele.
— Caramba, para de
pensar tanta porcaria! Você ainda nem conheceu a moça e já ta ai surtando! — se
repreendeu em voz alta enquanto fechava o registro do chuveiro e enrolava a
toalha na cintura.
— Eu preciso
controlar esses pensamentos intrusivos... — Declarou por fim após vestir o
pijama e voltar para a pequena sala de estar/cozinha. Sentou-se em um dos sofá
e ligou a tevê, que ficou zapiando até achar um filme que o interessasse.
***
Um pouco antes,
Joaquim fechava a loja de sabonetes quando viu Francisco estacionar em frente
da loja. Ele ainda tinha um curto tempo antes de ir para o curso técnico e
assim que entrou no carro, foi recebido por um beijo apaixonado do outro.
— Nossa, tudo isso
é saudades? — brincou ao mesmo tempo em que colocava o cinto de segurança e
ouvia o outro rir baixinho e murmurar.
— Eu gosto de
beijar meu namorado, só isso. — em resposta, foi a vez do loiro beijar o outro
e pela segunda vez naquele dia a coisa poderia ter ficado mais física, se não
tivessem se afastado a tempo.
— Você vai
continuar gostando depois que a gente casar? — perguntou Joaquim em tom de
brincadeira, mas logo percebeu que Francisco havia levado a pergunta a sério,
quando o viu responder com uma expressão discreta.
— Pode ter certeza
que sim. — encarou o rosto impassível do namorado por alguns segundos para logo
em seguida começar a rir e ver que Francisco o acompanhou. Eles saíram de
frente da loja.
Isso tinha sido há
uma hora. Joaquim tinha decidido que ia faltar ao curso naquele dia, já que
estavam entrando no terceiro shopping atrás de uma joalheria para comprar as
alianças. Na primeira que foram, ao informarem que as jóias eram para eles, a
vendedora não se deu ao trabalho de esconder seu preconceito e após ele ter
convencido com algum esforço que Francisco deixasse para lá, foram embora.
Na segunda, a moça
até os tratou melhor, mas queria empurrar jogos de aliança que pareciam estar
encalhados na loja há tempo demais. Joaquim torcia muito para encontrarem algo
bom e um atendimento respeitoso nessa terceira joalheria, não só porque estava
ficando cansado, como também porque queria resolver logo alguma coisa da longa
lista de preparativos para o casamento.
Após serem
recepcionados por uma vendedora simpática, que ao ouvir que as alianças eram
para eles, desejou felicitações antecipadas e ofereceu uma série de amostras,
informando que eles poderiam fazer as peças sob encomenda.
— Demora alguns
dias para ficarem prontas, mas serão exatamente do jeito que vocês quiserem que
sejam. — ela informou enquanto pegava um jogo de anéis de metal, medidores,
para ter a base das futuras alianças.
No fim eles
optaram por um par feito de prata, banhadas com ródio negro e que exibiam um
leve filete de ouro no centro e ao redor das alianças. A vendedora informou que
demoraria uma média de pelo menos uma semana para ficar pronta e mais uma
semana se desejassem gravar algo no interior das peças.
Quando chegou à
hora de pagar, Francisco parcelou em algumas vezes no cartão, mas Joaquim fez
questão de pagar a entrada em dinheiro. Eles haviam tido uma breve discussão
sobre o assunto enquanto iam até o primeiro shopping e que acabou ficando um
pouco acalorada, mas no fim, entraram em um acordo.
Enquanto eles iam
até o estacionamento buscar o carro, Francisco pediu desculpas por ter feito o
namorado perder a aula do curso técnico, ao que o loiro esboçou um sorriso
comedido e respondeu que não tinha problema.
— Não tinha aulas
muito importantes hoje, nem entrega de trabalho ou prova. Além do mais, é
praticamente a minha primeira falta desde que comecei o curso. — assim que
entrou no carro, o rapaz soltou um suspiro baixo e cansado, que não passou
despercebido por Francisco.
— Tudo bem? —
pegou o canhoto do estacionamento, para apresentar na cancela da saída e ouviu
o namorado responder que só estava um pouco cansado.
— E também... —
Joaquim segurou um risinho antes de continuar a frase — Eu achei que você ia
bater naquela vendedora homofóbica de antes... — agora que o momento havia
passado, a cena lhe parecia meio cômica, tragicômica, na verdade.
— Bater não, mas
eu ia fazer com que ela chamasse o gerente. Onde já se viu fazer aquela cara de
nojo quando falamos que as alianças eram pra nós! E eu teria feito um
escândalo, mas daí você me impediu... Sabe, no fim, foi melhor assim. —
Francisco segurou a mão do loiro por um breve instante, apertando-a de leve e
em seguida, esticou o braço para fora da janela, apresentando o canhoto para o
leitor da cancela.
— Uma coisa pro casamento
já foi, agora só faltam... — Joaquim fingiu pegar uma lista quilométrica
imaginária e soltou um riso nervoso. — todo o resto!
— Calma. Vai dar
tudo certo. Eu vou procurar alguns cartórios e entro em contato para ver quando
eles têm uma data e a gente estuda qual o melhor dia. Não se esqueça que o mais
importante para esse casamento acontecer, está aqui do meu lado, nesse carro. —
observou Francisco enquanto via o rosto do namorado se iluminar em um sorriso.
***
Diego havia
cochilado no sofá, com uma toalha úmida cobrindo os olhos e a tevê em volume
mínimo servindo de ruído branco. Sua cabeça estava estourando de dor quando
saiu do banho e apesar de ter tomado alguns analgésicos, o remédio parecia não
querer fazer efeito.
— Diego! A gente
trouxe pizza! — Paulo entrou correndo na casa, gritando a plenos pulmões e
fazendo o rapaz dar um salto assustado no sofá. Ao ver a reação do irmão, o
menino estacou no pequeno corredor de entrada e ficou observando em silencio,
pressentindo uma possível onda de violência, como acontecia quando seu pai
estava sentado na poltrona e ele por algum motivo aleatório, como, por exemplo,
ser uma criança, entrava gritando e correndo na casa. Paulo permaneceu assim
até que Marcelo, que entrava com a caixa de pizza, quase tropeçou nele.
— Ei rapaz, não
fica parado ai no meio do caminho desse jeito... — mas ele parou a frase ao ver
o marido sentado no sofá, a cabeça jogada sobre o encosto com uma toalha em
cima dos olhos. Fazia quase um ano que ele não via Diego fazer aquilo, pois
fazia quase um ano que o outro não tinha enxaqueca.
— O Diego ta bem?
— ouviu o menino perguntar baixinho num tom receoso e ao ver a expressão quase
de choro no rosto da criança, Marcelo esboçou um sorriso tranquilizador e
murmurou que estava tudo bem. “O Diego só
está cansado”.
Em seguida,
entregou a caixa de pizza para o garoto e sugeriu que ele a colocasse sobre a mesa.
Viu o menino caminhar com lentidão, sempre olhando na direção de Diego, no
sofá, com uma expressão que era um misto de preocupação e pavor.
Enquanto isso, ele
se aproximou com cuidado do outro que continuava sentado no sofá e parando as
suas costas, começou a massagear os ombros do marido com cuidado, o que fez com
que Diego retirasse a toalha de cima de um dos olhos para encará-lo.
— Oi, a gente
trouxe pizza. Quer comer um pedaço? — viu Diego exibir um pequeno sorriso
enviesado e concordar com um gesto leve de cabeça. Ele demorou alguns minutos
para conseguir ir até a mesa, mas quando se sentou, fez um agrado na cabeça do
irmãozinho e sorriu.
— Eu tou bem,
Paulo. Só fiquei cansado. Mas ta tudo bem. — O menino ainda o encarava de uma
forma cautelosa, com os grandes olhos castanhos.
Depois de comerem
e conversarem, Paulo pareceu entender que precisava falar mais baixo e se
esforçou para conter a animação enquanto contava sobre a nota alta na prova,
Diego fez questão de colocar o menino para dormir. O cobriu, acendeu o abajur
do Homem-Aranha e deu um beijo na testa dele, frisando que “Qualquer coisa já sabe né? Só bater aqui na
porta do nosso quarto”.
Mas quando enfim
ele entrou no próprio quarto, se atirou na cama de forma pesada, sentindo todos
os músculos do seu corpo doerem. Em resposta, sentiu-se ser abraçado com
carinho por Marcelo e inebriado pelo calor morno que o envolvia, Diego começou
a adormecer, mas antes disso, murmurou um “obrigado”
que parecia englobar tudo o que o outro fizera por ele e pelo menino.
— Eu te amo. — foi
o que ouviu em resposta. Queria agradecer por cada gesto que o marido fez por
ele, não só naquele dia, mas desde que eles se conheceram, queria demonstrar o
quão especial Marcelo era na sua vida, queria fazer tanto, mas acabou sendo
vencido pelo cansaço e o sono.
Bom, poderia dizer
tudo isso na manhã seguinte.
Continua...
Nota da autora:
Então gente, para
quem está lendo esta história na semana de 29 de Março, eu peço desculpas pelo
hiato de duas semanas. A verdade é que eu não sei bem se quem ainda está
acompanhando está história está gostando. Números de leituras no contador não
servem de parâmetro, porque uma quantidade enorme de pessoas podem ter lido só
o capítulo um e abandonado e ainda assim, essas leituras seriam contabilizadas.
Eu sei que hoje em
dia não é comum leitores deixarem comentários, mas eu sou de uma época
anterior, em que a gente ia traçando a narrativa com base no feedback do
publico, enfim, se alguém ler até aqui e quiser deixar um comentário, eu
agradeceria muito. Não precisa ser nada muito complexo, mas vocês não imaginam
o quanto um comentário positivo ajuda a continuar um projeto.
Enfim, sobre este
capítulo, tivemos o desfecho de como a Agatha vê o pai a partir de agora (e vai
ter mais reações sobre isso no futuro), também tivemos Francisco e Joaquim indo
comprar as alianças – eu optei por eles escolherem um par de alianças escuras
só porque acho esse tipo de jóia bonita.
E para finalizar,
tivemos um pouquinho de Diego, Marcelo e Paulo. Pelo fato do menino vir de um
lar abusivo, em que tinha de aprender a reconhecer os sinais de irritação do
falecido pai, quando ele viu Diego daquele jeito, já ligou o alerta. O que é algo
muito triste, se pararmos pra pensar. Uma criança não deveria jamais ter medo
das pessoas que são responsáveis por ela.
Em breve vamos ter
os casais indo â um barzinho e mais uma aparição da Darcy, eu adorei escrever ela para a cena do
casamento e pretendo trazê-la mais vezes para a história.
E é isso gente,
Espero que tenham
gostado e se puderem, por favor, deixem um comentário. Não demora nem dois
minutos, mas o impacto que causa na minha escrita é enorme.
Até o próximo
capítulo,
Perséfone Tenou
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