Entrou no
apartamento de Letícia se sentindo ainda um pouco deslocada e insegura, mesmo
após terem tido aquela conversa no restaurante. Enquanto a outra cruzava o
espaço da sala, que fazia divisa com uma cozinha diminuta, Mayara se ocupou de observar
o espaço, parando ao lado de uma enorme estante de livros, observando os
títulos.
— É um dos meus
poucos vícios. Comprar livros. Sempre que tenho a chance peço novos pela
internet, agora ler... É um hobby totalmente a parte. — Letícia riu enquanto
perguntava se a outra moça queria algo para beber.
— Água tá ótimo. —
Mayara estava encantada com a coleção de títulos na estante e tinha tirado um
exemplar aleatório, que folheava com cuidado, o que fez com que quando Letícia
encostou com leveza o copo de água gelada em seu braço, a moça soltasse um
gemido baixinho de surpresa.
— Obrigada. Você
tem uma bela coleção aqui. — recolocou o livro de volta na prateleira e tomou
um gole de água, enquanto se dava conta de que estavam sozinhas em um lugar
privado pela segunda vez desde que começaram a sair.
Gostava de
Letícia, sentia isso cada dia mais. Mas, fazia tanto tempo que não namorava
alguém e o ultimo relacionamento que teve não terminou muito bem, com sua ex
indo embora gritando que ela era só uma idiota que tinha medo de intimidade. Pensar
nisso fez com que engasgasse com a água e tivesse uma crise de tosse.
— Tá tudo bem?
Quer sentar um pouco? — Mayara encarou a outra moça enquanto sentia a falta de
ar e as lágrimas causadas pela tosse se juntarem nos cantos dos olhos. Letícia
era tão bonita, com o cabelo castanho e cortado curtinho e aquele sorriso
encantador e claro, os olhos mais gentis que ela já tinha visto.
Concordou com um meneio de cabeça e se deixou guiar até o
sofá que ficava em frente da tevê, embutida na parede. Agora que percebia que o
apartamento da outra moça tinha uma estrutura muito parecida com a casa de
Diego e Marcelo. Parecia que o minimalismo nas construções estava se tornando
uma norma.
— Que tal a gente
assistir um filme? Eu tenho um monte! — Acabaram optando por um de fantasia
sombria que se passava durante a ditadura Franquista*, Mayara confessou à outra
de que só tinha visto aquele filme uma vez, no cinema, desde então tinha jurado
que nunca mais iria rever, pelo menos não sozinha.
— Bom, então é uma
boa hora para tentar rever. — ela ouviu a outra moça dizer sorrindo e então, aconchegou-se
no abraço de Letícia e enroladas numa manta quentinha que estava sobre o sofá,
começaram a assistir o filme enquanto Mayara tentava reafirmar em sua cabeça
que Letícia não era como sua ex e que precisava começar a confiar na pessoa que
estava namorando.
***
Eles chegaram ao
cinema de rua meio cedo para a sessão, o que deu tempo de Diego escolher o filme
com calma. Marcelo não entendia muito de filmes “cult”, mas costumava gostar do
que o marido sugeria, até porque sempre que saia um daqueles filmes de
super-herói no cinema, Diego sempre ia com ele sem reclamar.
— Que acha desse
aqui? Coreano e pelo que diz aqui na internet, é uma espécie de terror
psicológico com toques de drama social.* Pode ser esse? — viu Diego olhar para
ele com aquela expressão ansiosa, mas pela primeira vez em dias não era uma
expressão ansiosa ruim, mas sim o tipo de cara que as pessoas fazem quando
estão animadas com alguma coisa.
— Claro. Eu disse
que a gente ia assistir o que você escolhesse. Vamos lá pegar os ingressos. — nas
ultimas semanas Diego estava sempre cansado e estressado, em parte por conta do
trabalho na imobiliária e em parte por cuidar e se preocupar com Paulo (ele se
preocupava um bocado, apesar de o garoto quase não dar motivos). Vê-lo daquele
jeito animado deixou Marcelo feliz.
Apesar de estar
tentando entender o enredo do filme, Marcelo não conseguia evitar olhar o
marido ao seu lado, que estava com os olhos fixos na tela, apesar de a cabeça
estar encostada em seu ombro. Podia ver que Diego estava feliz de verdade em
tempos. A ansiedade que ele tinha atrapalhava-o de curtir as pequenas
felicidades da vida, pois como o ouviu dizer uma vez, “é como se eu tivesse de ficar o tempo todo esperando alguma coisa ruim
cair na minha cabeça pra tirar minha alegria”.
Sentiu Diego
abraçar seu braço esquerdo e sorriu.
***
O filme tinha
acabado de terminar e Mayara estava destruída de tanto chorar e sentindo-se
muito idiota por isso, afinal, tinha ido pro apartamento de Letícia para
ficarem juntas e agora ela tinha quebrado o clima por completo.
— Desculpa... Eu
avisei que... Esse filme mexe comigo... Mas eu não queria chorar assim e... —
ela sentiu as mãos mornas da namorada segurarem seu rosto e então a pressão
suave dos lábios dela contra os seus e em resposta, entreabriu a boca com
cuidado, deixando o beijo evoluir para algo mais profundo.
— Não tem que se
desculpar por nada. Eu achei fofo você se emocionar com o filme... — Letícia
retirou algumas mechas de cabelo da outra e as colocou atrás da orelha direita
da moça e olhou para ela com admiração. Aquele rosto bonito, os lábios cheios,
a pele naquele tom maravilhoso que descendentes de indígenas têm e o nariz
redondinho, com a ponta levemente vermelha por causa do choro. Mayara era linda
e uma pessoa tão gentil. Tão doce.
— Para com isso...
Eu fiz um baita papelão... — respondeu a moça enquanto desviava o olhar para
algum ponto no canto da sala, ao mesmo tempo em que sentia as bochechas
esquentarem de vergonha.
Sentiu os dedos
longos e macios de Letícia acariciar seu rosto com delicadeza e um calafrio
delicioso percorreu sua espinha em resposta. Encarou a namorada e criando
coragem, tomou a iniciativa e a beijou com ardor, experimentando a sensação
aveludada das línguas se tocando e a suavidade deliciosa dos lábios se
encontrando até precisarem parar para respirar.
Em resposta àquela
permissão silenciosa, Letícia aproximou-se e começou a beijar a curva do
pescoço de Mayara, recebendo em resposta pequenos suspiros deliciados. Arriscou
desabotoar a blusa da moça e mergulhar a mão com cuidado sob o sutiã rendado,
enchendo-a com a maciez morna do seio delicado e arreliando um dos mamilos com
o polegar, ouvindo a outra ofegar em resposta.
Mayara deixou-se
ser deitada no sofá e experimentou a sensação libertadora de ser despida pela
namorada, que presenteava cada parte do corpo descoberta com um longo beijo. Em
minutos ela estava apenas usando o conjunto de roupa de baixo e então,
sentando-se novamente no sofá, puxou Letícia pela mão, fazendo-a se sentar ao
seu lado e começando a despi-la, um tanto receosa.
Sentia que amava Letícia,
sentia que queria fazer amor com ela, mas ao mesmo tempo também sentia receio e
um pouco de vergonha de tomar a iniciativa mais uma vez, como havia feito
minutos atrás com o beijo.
Notando o receio
da namorada, Letícia a ajudou, removendo a própria blusa e desabotoando a calça
jeans que usava, exibindo um conjunto simples de roupas intimas e um corpo
bonito, mas com uma enorme cicatriz na altura da barriga.
— O que é isso? —
deslizou os dedos com cuidado, como se a cicatriz ainda pudesse doer e ouviu a
outra contar que era sequela de um assalto mal sucedido que ela tinha sofrido.
— O cara, além de
levar minha mochila e bicicleta, ainda me esfaqueou porque ficou com raiva de eu
só ter R$20,00 na carteira. Eu tava no primeiro ano da faculdade, mal tinha
dinheiro pra me manter e tinha ficado mais que o normal do campus e acabei
voltando muito tarde pra casa e bom... Pelo menos eu sobrevivi. — sentiu a carícia
delicada dos dedos macios de Mayara sobre sua barriga e sorriu, pegando a mão
nas suas e beijando-a com delicadeza.
— Estou feliz que
você sobreviveu. — Mayara disse enquanto engatinhava por cima da namorada no
sofá, derrubando-a sobre as almofadas. Estava tendo de criar muita coragem para
ser tão agressiva, mas lá no fundo ela queria ser assim. Queria demonstrar para
Letícia que o desejo era mutuo.
Logo os beijos
deram lugar a toques mais ousados e quando se deu conta, Letícia estava sugando
o bico de um de seus seios, enquanto mantinha o outro seguro pela mão direita.
As coisas estavam evoluindo rápido e em segundos a moça passou a trilhar um
caminho de beijos por seu ventre, rumando para o sul do seu corpo e quando
Mayara sentiu que a peça intima havia sido removida e a sensação dos dedos de
Letícia, já úmidos de lubrificante em sua entrada, ela acabou se apoiando nos
cotovelos, em um movimento impulsivo e que assustou a outra moça.
— O que foi? Eu te
machuquei? — viu a moça negar com um gesto violento de cabeça e sorrir nervosa.
Uma gota de suor escorria da testa dela e trilhava caminho para baixo de forma
sinuosa.
— É só que... Eu
não gosto de... Ser penetrada. É tão vergonhoso falar isso em voz alta! —
algumas lágrimas começaram a surgir nos olhos de Mayara, lembrando-se da
ex-namorada, com quem levou um bom tempo para criar uma conexão emocional antes
de deixar o relacionamento ir para um próximo nível, e quando contou isso a
ela, a outra a chamou de “idiota que
tinha medo de intimidade”.
— Não tem
problema. Sexo não se resume a penetração, especialmente se for entre duas
pessoas como nós... — sentiu as mãos meladas de gel da outra acariciarem suas
coxas de forma sensual e riu alto.
Então experimentou
o calor morno dos lábios dela em suas panturrilhas e tornozelos, no peito dos
seus pés, na altura dos joelhos e em resposta sua área sensível respondeu
pulsando. O passeio das caricias por seu corpo durou mais tempo do que
conseguiu mensurar e Mayara podia dizer com toda certeza que até então, sexo
nunca havia sido tão bom.
Quando Letícia tocou
ali com a ponta da língua, Mayara ofegou e jogou a cabeça para trás, extasiada
e em um ato reflexo, procurou a mão da namorada, que entrelaçou os dedos na sua
no mesmo momento, enquanto o contato íntimo se tornava mais forte e a sensação
de que o mundo se desfazia ao seu redor ficava mais gritante.
E foi então que
chegou. O orgasmo mais forte e devastador que ela já havia tido na vida. Foi
como ter uma corrente elétrica violenta percorrendo todo seu corpo em questão
de segundos. Mayara expressou o ápice em um gemido sem som, com os lábios
abertos e as pálpebras apertadas enquanto sua respiração entrava num ritmo
acelerado e sua cabeça inclinava para trás.
Quando enfim abriu
os olhos, encontrou Letícia encarando-a por entre suas pernas, corada e
ofegante e sorrindo como se tivesse ganhado o maior premio da sua vida.
— Você fica linda
quando está gozando, sabia? — em resposta, Mayara apoiou-se em um dos cotovelos
e bagunçou o cabelo da namorada, rindo deliciada e ainda ofegante.
— Isso foi...
Muito bom! — viu a outra se sentar sobre os calcanhares, ainda nua e exibindo
pequenas gotículas de suor pelo corpo, os seios pequenos firmes e bonitos. Foi
quando Mayara perguntou se também não deveria retribuir o que ela lhe havia
feito.
— Não existe
nenhum quid pro quo aqui, Clarice*. Mas se você quiser fazer alguma coisa, pode
brincar um pouco aqui embaixo com seus dedos. — Mayara riu da referencia que a
namorada usou, não havia nada mais fora de contexto para um depois do sexo do
que aquilo, mas, aceitou o convite.
A expressão de
puro êxtase no rosto de Letícia conforme ela a estimulava aquela área delicada com
lentidão era impagável e quando ela atingiu o ápice então... Mayara teve
certeza de que tinha tomado a decisão certa quando sentiu que queria levar o
relacionamento para o nível seguinte.
Acabaram
cochilando ali mesmo, nuas, cobertas pela manta que usaram mais cedo ao ver o
filme. A tevê estava rodando outro filme qualquer, servindo apenas como trilha
de fundo. Mayara sentia-se saciada pela primeira vez em anos, sexual e
emocionalmente.
Sob a manta, ela
sentia a mão morna de Letícia segurar a sua com carinho, enquanto a moça
ressonava baixinho ao seu lado, os lábios entreabertos e as pálpebras
tremeluzindo em meio ao sono. O calor morno do corpo dela contra o seu, a
pulsação quente que ela podia sentir do coração da outra contra seu corpo. Tudo
parecia muito real.
E Mayara se sentiu feliz
de estar ali.
Continua...
Nota da autora:
Gente dossel,
(Se você estiver
lendo isso muito tempo depois, por favor,
só ignore)
Nem sei como
começar a explicar porque demorei tanto tempo para atualizar essa história, mas
aqui vai a versão resumida: tive uma crise depressiva ferrada que congelou tudo
na minha vida por quase 2 meses. Então, para quem esteve esperando atualização,
peço desculpas e prometo que vou tentar voltar ao ritmo de postagens semanais.
Agora vamos ao
capitulo!
Este foi a parte 2
de 3 do Dia dos Namorados. Aqui tivemos
um pouquinho de Diego e Marcelo e muito de Mayara e Letícia. Confesso que
fiquei um pouco preocupada de a cena de sexo delas ter ficado ruim ou
superficial, se alguém que estiver em um relacionamento com outra pessoa que
tem vagina quiser opinar na cena, eu agradeço – afinal, é assim que a gente
aprende, né?
Agora as
referencias do capítulo:
1.
“Fantasia sombria
que se passava durante a ditadura Franquista”: Eu estou falando do filme “O
labirinto do Fauno” e o que a Mayara diz, de só ter visto o filme no cinema uma
vez, bom, é o que aconteceu comigo. Só fui rever ele esse ano, quase 16 anos
depois do lançamento. E sim, eu choro muito com a cena final.
2.
“Coreano e pelo
que diz aqui na internet, é uma espécie de terror psicológico com toques de
drama social.” : aqui o Diego está falando de “Parasita” grande ganhador do
Oscar de 2020 e olha, se você ficou com curiosidade, recomendo muito que
procure pra ver, é um baita filmão que mistura suspense com drama.
3.
“quid pro quo
aqui, Clarice” : esta parte da fala da Letícia é uma menção a “O silêncio dos
inocentes” mais especificamente na parte em que Hannibal Lecter diz a agente
especial Clarice que só lhe dirá o que ela quer saber, se ela lhe falar algo
dela para ele. Este é um filme de suspense/terror bem interessante.
Bom gente, é isso, espero
que tenham gostado do capítulo. No próximo teremos a noite do Diego com o
Marcelo no hotel e daí, no capítulo seguinte, como foi o fim de semana do Paulo
na casa da Agatha.
Obrigada por ler até aqui
e por favor, deixe um comentário se puder, eles são muito importantes para eu
saber o que vocês estão achando da história,
Até o próximo capítulo,
Perséfone Tenou
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