sábado, 20 de agosto de 2022

Lar é onde o coração está - capítulo 51

 

Entrou no apartamento de Letícia se sentindo ainda um pouco deslocada e insegura, mesmo após terem tido aquela conversa no restaurante. Enquanto a outra cruzava o espaço da sala, que fazia divisa com uma cozinha diminuta, Mayara se ocupou de observar o espaço, parando ao lado de uma enorme estante de livros, observando os títulos.


— É um dos meus poucos vícios. Comprar livros. Sempre que tenho a chance peço novos pela internet, agora ler... É um hobby totalmente a parte. — Letícia riu enquanto perguntava se a outra moça queria algo para beber.

— Água tá ótimo. — Mayara estava encantada com a coleção de títulos na estante e tinha tirado um exemplar aleatório, que folheava com cuidado, o que fez com que quando Letícia encostou com leveza o copo de água gelada em seu braço, a moça soltasse um gemido baixinho de surpresa.

— Obrigada. Você tem uma bela coleção aqui. — recolocou o livro de volta na prateleira e tomou um gole de água, enquanto se dava conta de que estavam sozinhas em um lugar privado pela segunda vez desde que começaram a sair.

Gostava de Letícia, sentia isso cada dia mais. Mas, fazia tanto tempo que não namorava alguém e o ultimo relacionamento que teve não terminou muito bem, com sua ex indo embora gritando que ela era só uma idiota que tinha medo de intimidade. Pensar nisso fez com que engasgasse com a água e tivesse uma crise de tosse.

— Tá tudo bem? Quer sentar um pouco? — Mayara encarou a outra moça enquanto sentia a falta de ar e as lágrimas causadas pela tosse se juntarem nos cantos dos olhos. Letícia era tão bonita, com o cabelo castanho e cortado curtinho e aquele sorriso encantador e claro, os olhos mais gentis que ela já tinha visto.

            Concordou com um meneio de cabeça e se deixou guiar até o sofá que ficava em frente da tevê, embutida na parede. Agora que percebia que o apartamento da outra moça tinha uma estrutura muito parecida com a casa de Diego e Marcelo. Parecia que o minimalismo nas construções estava se tornando uma norma.

— Que tal a gente assistir um filme? Eu tenho um monte! — Acabaram optando por um de fantasia sombria que se passava durante a ditadura Franquista*, Mayara confessou à outra de que só tinha visto aquele filme uma vez, no cinema, desde então tinha jurado que nunca mais iria rever, pelo menos não sozinha.

— Bom, então é uma boa hora para tentar rever. — ela ouviu a outra moça dizer sorrindo e então, aconchegou-se no abraço de Letícia e enroladas numa manta quentinha que estava sobre o sofá, começaram a assistir o filme enquanto Mayara tentava reafirmar em sua cabeça que Letícia não era como sua ex e que precisava começar a confiar na pessoa que estava namorando.

***

Eles chegaram ao cinema de rua meio cedo para a sessão, o que deu tempo de Diego escolher o filme com calma. Marcelo não entendia muito de filmes “cult”, mas costumava gostar do que o marido sugeria, até porque sempre que saia um daqueles filmes de super-herói no cinema, Diego sempre ia com ele sem reclamar.

— Que acha desse aqui? Coreano e pelo que diz aqui na internet, é uma espécie de terror psicológico com toques de drama social.* Pode ser esse? — viu Diego olhar para ele com aquela expressão ansiosa, mas pela primeira vez em dias não era uma expressão ansiosa ruim, mas sim o tipo de cara que as pessoas fazem quando estão animadas com alguma coisa.

— Claro. Eu disse que a gente ia assistir o que você escolhesse. Vamos lá pegar os ingressos. — nas ultimas semanas Diego estava sempre cansado e estressado, em parte por conta do trabalho na imobiliária e em parte por cuidar e se preocupar com Paulo (ele se preocupava um bocado, apesar de o garoto quase não dar motivos). Vê-lo daquele jeito animado deixou Marcelo feliz.

Apesar de estar tentando entender o enredo do filme, Marcelo não conseguia evitar olhar o marido ao seu lado, que estava com os olhos fixos na tela, apesar de a cabeça estar encostada em seu ombro. Podia ver que Diego estava feliz de verdade em tempos. A ansiedade que ele tinha atrapalhava-o de curtir as pequenas felicidades da vida, pois como o ouviu dizer uma vez, “é como se eu tivesse de ficar o tempo todo esperando alguma coisa ruim cair na minha cabeça pra tirar minha alegria”.

Sentiu Diego abraçar seu braço esquerdo e sorriu.

***

O filme tinha acabado de terminar e Mayara estava destruída de tanto chorar e sentindo-se muito idiota por isso, afinal, tinha ido pro apartamento de Letícia para ficarem juntas e agora ela tinha quebrado o clima por completo.

— Desculpa... Eu avisei que... Esse filme mexe comigo... Mas eu não queria chorar assim e... — ela sentiu as mãos mornas da namorada segurarem seu rosto e então a pressão suave dos lábios dela contra os seus e em resposta, entreabriu a boca com cuidado, deixando o beijo evoluir para algo mais profundo.

— Não tem que se desculpar por nada. Eu achei fofo você se emocionar com o filme... — Letícia retirou algumas mechas de cabelo da outra e as colocou atrás da orelha direita da moça e olhou para ela com admiração. Aquele rosto bonito, os lábios cheios, a pele naquele tom maravilhoso que descendentes de indígenas têm e o nariz redondinho, com a ponta levemente vermelha por causa do choro. Mayara era linda e uma pessoa tão gentil. Tão doce.

— Para com isso... Eu fiz um baita papelão... — respondeu a moça enquanto desviava o olhar para algum ponto no canto da sala, ao mesmo tempo em que sentia as bochechas esquentarem de vergonha.

Sentiu os dedos longos e macios de Letícia acariciar seu rosto com delicadeza e um calafrio delicioso percorreu sua espinha em resposta. Encarou a namorada e criando coragem, tomou a iniciativa e a beijou com ardor, experimentando a sensação aveludada das línguas se tocando e a suavidade deliciosa dos lábios se encontrando até precisarem parar para respirar.

Em resposta àquela permissão silenciosa, Letícia aproximou-se e começou a beijar a curva do pescoço de Mayara, recebendo em resposta pequenos suspiros deliciados. Arriscou desabotoar a blusa da moça e mergulhar a mão com cuidado sob o sutiã rendado, enchendo-a com a maciez morna do seio delicado e arreliando um dos mamilos com o polegar, ouvindo a outra ofegar em resposta.

Mayara deixou-se ser deitada no sofá e experimentou a sensação libertadora de ser despida pela namorada, que presenteava cada parte do corpo descoberta com um longo beijo. Em minutos ela estava apenas usando o conjunto de roupa de baixo e então, sentando-se novamente no sofá, puxou Letícia pela mão, fazendo-a se sentar ao seu lado e começando a despi-la, um tanto receosa.

Sentia que amava Letícia, sentia que queria fazer amor com ela, mas ao mesmo tempo também sentia receio e um pouco de vergonha de tomar a iniciativa mais uma vez, como havia feito minutos atrás com o beijo.

Notando o receio da namorada, Letícia a ajudou, removendo a própria blusa e desabotoando a calça jeans que usava, exibindo um conjunto simples de roupas intimas e um corpo bonito, mas com uma enorme cicatriz na altura da barriga.

— O que é isso? — deslizou os dedos com cuidado, como se a cicatriz ainda pudesse doer e ouviu a outra contar que era sequela de um assalto mal sucedido que ela tinha sofrido.

— O cara, além de levar minha mochila e bicicleta, ainda me esfaqueou porque ficou com raiva de eu só ter R$20,00 na carteira. Eu tava no primeiro ano da faculdade, mal tinha dinheiro pra me manter e tinha ficado mais que o normal do campus e acabei voltando muito tarde pra casa e bom... Pelo menos eu sobrevivi. — sentiu a carícia delicada dos dedos macios de Mayara sobre sua barriga e sorriu, pegando a mão nas suas e beijando-a com delicadeza.

— Estou feliz que você sobreviveu. — Mayara disse enquanto engatinhava por cima da namorada no sofá, derrubando-a sobre as almofadas. Estava tendo de criar muita coragem para ser tão agressiva, mas lá no fundo ela queria ser assim. Queria demonstrar para Letícia que o desejo era mutuo.

Logo os beijos deram lugar a toques mais ousados e quando se deu conta, Letícia estava sugando o bico de um de seus seios, enquanto mantinha o outro seguro pela mão direita. As coisas estavam evoluindo rápido e em segundos a moça passou a trilhar um caminho de beijos por seu ventre, rumando para o sul do seu corpo e quando Mayara sentiu que a peça intima havia sido removida e a sensação dos dedos de Letícia, já úmidos de lubrificante em sua entrada, ela acabou se apoiando nos cotovelos, em um movimento impulsivo e que assustou a outra moça.

— O que foi? Eu te machuquei? — viu a moça negar com um gesto violento de cabeça e sorrir nervosa. Uma gota de suor escorria da testa dela e trilhava caminho para baixo de forma sinuosa.

— É só que... Eu não gosto de... Ser penetrada. É tão vergonhoso falar isso em voz alta! — algumas lágrimas começaram a surgir nos olhos de Mayara, lembrando-se da ex-namorada, com quem levou um bom tempo para criar uma conexão emocional antes de deixar o relacionamento ir para um próximo nível, e quando contou isso a ela, a outra a chamou de “idiota que tinha medo de intimidade”.

— Não tem problema. Sexo não se resume a penetração, especialmente se for entre duas pessoas como nós... — sentiu as mãos meladas de gel da outra acariciarem suas coxas de forma sensual e riu alto.

Então experimentou o calor morno dos lábios dela em suas panturrilhas e tornozelos, no peito dos seus pés, na altura dos joelhos e em resposta sua área sensível respondeu pulsando. O passeio das caricias por seu corpo durou mais tempo do que conseguiu mensurar e Mayara podia dizer com toda certeza que até então, sexo nunca havia sido tão bom.

Quando Letícia tocou ali com a ponta da língua, Mayara ofegou e jogou a cabeça para trás, extasiada e em um ato reflexo, procurou a mão da namorada, que entrelaçou os dedos na sua no mesmo momento, enquanto o contato íntimo se tornava mais forte e a sensação de que o mundo se desfazia ao seu redor ficava mais gritante.

E foi então que chegou. O orgasmo mais forte e devastador que ela já havia tido na vida. Foi como ter uma corrente elétrica violenta percorrendo todo seu corpo em questão de segundos. Mayara expressou o ápice em um gemido sem som, com os lábios abertos e as pálpebras apertadas enquanto sua respiração entrava num ritmo acelerado e sua cabeça inclinava para trás.

Quando enfim abriu os olhos, encontrou Letícia encarando-a por entre suas pernas, corada e ofegante e sorrindo como se tivesse ganhado o maior premio da sua vida.

— Você fica linda quando está gozando, sabia? — em resposta, Mayara apoiou-se em um dos cotovelos e bagunçou o cabelo da namorada, rindo deliciada e ainda ofegante.

— Isso foi... Muito bom! — viu a outra se sentar sobre os calcanhares, ainda nua e exibindo pequenas gotículas de suor pelo corpo, os seios pequenos firmes e bonitos. Foi quando Mayara perguntou se também não deveria retribuir o que ela lhe havia feito.

— Não existe nenhum quid pro quo aqui, Clarice*. Mas se você quiser fazer alguma coisa, pode brincar um pouco aqui embaixo com seus dedos. — Mayara riu da referencia que a namorada usou, não havia nada mais fora de contexto para um depois do sexo do que aquilo, mas, aceitou o convite.

A expressão de puro êxtase no rosto de Letícia conforme ela a estimulava aquela área delicada com lentidão era impagável e quando ela atingiu o ápice então... Mayara teve certeza de que tinha tomado a decisão certa quando sentiu que queria levar o relacionamento para o nível seguinte.

Acabaram cochilando ali mesmo, nuas, cobertas pela manta que usaram mais cedo ao ver o filme. A tevê estava rodando outro filme qualquer, servindo apenas como trilha de fundo. Mayara sentia-se saciada pela primeira vez em anos, sexual e emocionalmente.

Sob a manta, ela sentia a mão morna de Letícia segurar a sua com carinho, enquanto a moça ressonava baixinho ao seu lado, os lábios entreabertos e as pálpebras tremeluzindo em meio ao sono. O calor morno do corpo dela contra o seu, a pulsação quente que ela podia sentir do coração da outra contra seu corpo. Tudo parecia muito real.

E Mayara se sentiu feliz de estar ali.

Continua...

 

 

 

Nota da autora:

Gente dossel,

(Se você estiver lendo isso muito tempo depois, por favor,  só ignore)

Nem sei como começar a explicar porque demorei tanto tempo para atualizar essa história, mas aqui vai a versão resumida: tive uma crise depressiva ferrada que congelou tudo na minha vida por quase 2 meses. Então, para quem esteve esperando atualização, peço desculpas e prometo que vou tentar voltar ao ritmo de postagens semanais.

Agora vamos ao capitulo!

Este foi a parte 2 de 3 do Dia dos Namorados.  Aqui tivemos um pouquinho de Diego e Marcelo e muito de Mayara e Letícia. Confesso que fiquei um pouco preocupada de a cena de sexo delas ter ficado ruim ou superficial, se alguém que estiver em um relacionamento com outra pessoa que tem vagina quiser opinar na cena, eu agradeço – afinal, é assim que a gente aprende, né?

Agora as referencias do capítulo:

1.      “Fantasia sombria que se passava durante a ditadura Franquista”: Eu estou falando do filme “O labirinto do Fauno” e o que a Mayara diz, de só ter visto o filme no cinema uma vez, bom, é o que aconteceu comigo. Só fui rever ele esse ano, quase 16 anos depois do lançamento. E sim, eu choro muito com a cena final.

 

2.      “Coreano e pelo que diz aqui na internet, é uma espécie de terror psicológico com toques de drama social.” : aqui o Diego está falando de “Parasita” grande ganhador do Oscar de 2020 e olha, se você ficou com curiosidade, recomendo muito que procure pra ver, é um baita filmão que mistura suspense com drama.

 

3.      “quid pro quo aqui, Clarice” : esta parte da fala da Letícia é uma menção a “O silêncio dos inocentes” mais especificamente na parte em que Hannibal Lecter diz a agente especial Clarice que só lhe dirá o que ela quer saber, se ela lhe falar algo dela para ele. Este é um filme de suspense/terror bem interessante.

 

Bom gente, é isso, espero que tenham gostado do capítulo. No próximo teremos a noite do Diego com o Marcelo no hotel e daí, no capítulo seguinte, como foi o fim de semana do Paulo na casa da Agatha.

Obrigada por ler até aqui e por favor, deixe um comentário se puder, eles são muito importantes para eu saber o que vocês estão achando da história,

Até o próximo capítulo,

Perséfone Tenou

 

 

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