Capítulo 25
Paulo deu para Mayara um desenho comemorando o dia das
mulheres, o qual ela disse que guardaria com carinho. Claro que ele era muito
pequeno pra entender o real significado da data, mas o que disse para a moça, “que ela era a mulher que ele mais admirava
no mundo”, fez com que ela sentisse que o garoto estava no caminho certo.
A turma do garoto teve sua primeira reunião de pais e
mestres e Diego compareceu como responsável. Ele e a professora de Paulo,
Marta, se deram muito bem, mas ficou claro que a mãe do tal Emmanuel, o garoto
que implicava constantemente com seu irmãozinho, não era lá flor que se cheire.
A mulher veio tirar satisfação com a professora,
porque ela falou sobre dinossauros com o “filho
dela” e que aquilo era “um absurdo
sem tamanho” e quando em certo momento Diego falou e mencionou o marido, só
faltou a tal mulher, que se chamava Olinda, explodir em mil pedacinhos, tamanha
era a repulsa que exibia no rosto. Ela ficou encarando-o durante todo o resto
da reunião, deixando Diego muito desconfortável.
Lá Diego também conheceu a mãe de Agatha, Vanessa, uma
moça negra bonita, alta e esguia com porte de modelo de passarela e um largo
sorriso simpático, mas que exibia bolsas profundas sob os olhos. O divorcio
devia estar sendo difícil pra ela.
E após essa reunião conturbada, chegou Abril e então,
o aniversário de Paulo estava se aproximando. Sábado, Dia 13. Diego vinha
planejando uma festinha comemorativa para o menino desde fim de Março e já
tinha até passado em uma loja de festas e comprado a decoração, que era claro,
do Homem-Aranha.
Faltando uma semana para a data, ele entregou na mão
do menino trinta e cinco convites com a estampa do herói aracnídeo cujo
interior dizia “Este é um convite do
Homem-aranha, seu amigo da vizinhança, para o aniversário de sete anos do
Paulo. Vamos nos divertir muito dia 13 de Abril as 16h00 no endereço...”.
– Entrega um pra cada coleguinha da sua sala, tá bom?
– viu o menino concordar com um gesto de cabeça e um sorriso largo enquanto
descia do carro para entrar na escola, sendo recebido pelos amigos, Agatha e
Luís, para os quais ele já entregou os convites.
– Que legal Paulo, eu vou no seu aniversário sim, pode
deixar! – respondeu Agatha enquanto guardava o convite dentro da mochila, com
cuidado.
Ao entrar na sala de aula, ele pediu permissão a
profê. Marta para distribuir os convites, estava muito animado, pois seria a
primeira festa de aniversário que ele teria. Até aquele momento, tudo o que sua
mãe fazia na data era um pequeno bolo de chocolate com uma velinha simples.
Eles cantavam parabéns, quando o pai não estava por perto, é claro e às vezes
ela lhe dava um presente que consistia em um livro de colorir ou algo barato e
simples.
Entregava os convites para as crianças, mas quando
chegou a vez de Emmanuel, pensou em passar reto e ignorá-lo, mas então
lembrou-se do irmão dizendo para entregar os convites a todos os coleguinhas.
– Eu vou fazer aniversário sábado que vem; você
gostaria de vir? – perguntou enquanto colocava o convite sobre a carteira do
menino, mas, mal terminou de falar, viu o outro garoto picar o cartão em
pedacinhos enquanto o encarava com uma expressão de puro ódio.
– Nunca que eu vou no aniversário de um fresco como
você. – aquilo o chateou, mas Paulo respirou fundo e continuou distribuindo os
convites, ignorando as caretas que Emmanuel fazia a suas costas.
Enquanto isso Diego marcava como “feito” os
preparativos da lista de aniversário. Já havia comprado a decoração, balões,
salgadinhos, docinhos, bolo, Paulo ia usar a fantasia do carnaval, enviou os
convites, chamou alguns amigos e conhecidos, mas faltava algo muito
importante... O presente. Não tinha ideia do que o menino poderia querer
ganhar, afinal Paulo era muito quieto e quase não demonstrava interesse nas
coisas, com exceção do Homem-Aranha e Dinossauros.
Estava sentado à mesa com o papel a sua frente e
mordendo o lábio inferior de um jeito nervoso e inconsciente e teria continuado
até fazê-lo sangrar, se não tivesse sentido a mão firme do marido no seu ombro.
Naquele dia ambos estavam de folga.
– Oi, o que tá fazendo? – libertou o lábio inferior
das mordidas constantes e suspirou cansado.
– A lista de preparativos pro aniversário do Paulo. Já
fiz praticamente tudo, mas ainda falta o presente. Eu já pensei em vários, mas
não sei se ele vai gostar. – abriu o celular e começou a procurar coisas
aleatórias no Google, até que Marcelo sugeriu.
– Que tal uma bicicleta? Vamos procurar... Hmm, aqui
diz que pra crianças de sete anos a recomendada é a aro 20. Essa aqui é bonita
e o preço está bom e a gente pode ensinar ele a andar com ela, vai ser
divertido. Podemos comprar juntos. – sentiu Diego lhe dar um beijo suave na
bochecha e sorriu.
– Vamos buscar ela agora. A gente esconde lá no nosso
quarto até sábado, ele não tem tido mais pesadelos então não pede mais pra
dormir na nossa cama. Podemos deixar montada já também. – Diego parecia
maravilhado com a ideia de dar ao irmão uma bicicleta.
***
A semana seguinte passou voando e logo chegou o final
de semana. A bicicleta estava montada e escondida embaixo da cama deles,
coberta por um lençol e foi bom terem feito isso, porque as sete da manhã
daquele 13 de Abril, o menino entrou como um foguete no quarto, sem bater, sem
chamar antes e pulou na cama acordando os dois no susto.
– É hoje! É hoje! – Paulo gritava alegre enquanto
pulava, agora ao lado da cama após ser removido de cima dela por Marcelo.
– Feliz aniversário rapaz! Quantos anos tá fazendo?
Vinte e um? – brincou enquanto via o menino rir e olhava o marido resmungar
embaixo do lençol.
– Sete! – Paulo riu mais alto ainda, fazendo Diego
gemer incomodado de novo. Marcelo levantou e após sugerir que o garoto fosse se
trocar descobriu o marido e beijou-o na testa com carinho. Diego tinha voltado
tarde pra casa na sexta-feira, foi beber com o pessoal da imobiliária e tinha
abusado um pouco na dose.
– Acha que vai dar conta de hoje? – perguntou enquanto
vestia as calças e uma camiseta regata e via o outro finalmente sair debaixo do
lençol, bocejando e resmungando irritado.
– Tenho que dar né, é o aniversário dele. Eu preciso
colar os enfeites e as brincadeiras, ir buscar os salgados e o bolo, botar os
refrigerantes pra gelar e claro, tirar essa magrela debaixo da cama. – apontou
para sob o colchão onde uma ponta da roda da bicicleta espiava sob o lençol.
– Vamos fazer assim então, eu te ajudo com a decoração
enquanto você toma um banho e um café pra melhorar e coloca os refrigerantes na
geladeira e daí mais tarde eu vou com ele buscar o kit festa. – Diego se sentou
na cama exibindo o tórax nu e riu.
– Às vezes eu acho que você é bom demais pra ser
verdade, sabe? – sentiu um agrado ser feito em seus cabelos e suspirou cansado.
***
A festa era toda do herói aracnídeo, desde a decoração
nas paredes aos copos e pratos. E havia até uma versão de “coloque o rabo no
burro”, mas que era “coloque as aranhas na teia”. Pequenas aranhas de E.V.A.
com velcro que deviam ser colocadas numa enorme teia pintada em um pedaço de
TNT vermelho.
Os saquinhos de festa também eram do super-herói e
continuam todo tipo de bugiganga plástica e bala barata comum nesse tipo de
brinde.
Conforme iam colando a decoração no pequeno quintal
dos fundos, o menino ia ficando mais e mais animado. A mesa da cozinha foi
levada até lá e coberta com uma toalha plástica com estampas do personagem e na
parede havia uma série de letras de papelão em que se lia “Feliz aniversário Paulo”.
Encheram balões, estouraram balões porque os encheram
demais, riram da situação, encheram mais balões e no fim pregaram todos na
parede do quintal.
Com tudo isso feito, eles teriam de esperar dar o
horário para irem buscar a comida, já que a festa estava marcada para as 16h00,
isso só aconteceria uma hora antes. O que deixou Paulo ansioso e elétrico
perguntando de dez em dez minutos se já tava na hora. Sim, ele tinha aprendido
a ler o relógio de ponteiros, mas sua animação era tanta que não conseguia se
focar o bastante para ver as horas.
O tempo parecia se arrastar e nada conseguia distrair
o garoto, que já tinha deixado a fantasia que ganhou em fevereiro em cima da
cama, junto do par de tênis com luzinhas nos calcanhares e a toalha, tudo do
tal super-herói.
Assistiu desenhos, brincou com seus brinquedos, ajudou
o irmão com as tarefas de casa, viu mais alguma coisa na televisão e olhou o
relógio em cada um dos intervalos entre essas atividades. Por que as horas não
passavam?
Acabou cochilando no sofá e então, de repente foi
acordado por Marcelo perguntando se ele queria ir junto buscar o bolo. Saltou
de um pulo e disse que sim! Diego observava a animação do irmão, que até o
momento era um garoto silencioso e tímido e sorriu.
***
O bolo era a cabeça do personagem feita com pasta
americana e a vela também tinha a foto do herói. Paulo estava se sentindo
maravilhado com tudo naquela festa e antes que os convidados chegassem, ele
abraçou o irmão e depois Marcelo, agradecendo pela festa, o que fez com que Diego
tivesse de segurar algumas lágrimas que quiseram aparecer.
Mayara, Letícia e Talita foram as primeiras a chegar.
A garotinha fez campanha na cabeça dos pais para vir ao aniversário do menino e
como Letícia comentou, “Ela sempre
consegue o que quer”. Paulo, que já estava de banho tomado e fantasia
vestida, abriu os presentes recebidos das três ali no meio do corredor mesmo, Mayara
deu um livro, Letícia um kit escolar e Talita um boneco do Homem de Ferro. Ele
então correu para o quarto, para colocá-los sobre a cama e o papel, claro, ia
embaixo da cama.
Lola e Joana apareceram uns quinze minutos depois,
deram roupas, coisa que Paulo não gostou muito, mas se forçou a agradecer por
educação. Em seguida chegaram Francisco e Joaquim, que lhe deram um balde de lego,
ao que Diego comentou em tom de brincadeira.
– Ai, isso ai espalhado no chão do quarto de noite...
– todos os adultos riram.
Mas até aquele momento nenhum dos seus colegas de
escola tinha chegado e isso começou a preocupar o garoto. Será que o endereço
estava escrito errado? Será que eles não conseguiram encontrar a casa? Será
que... E então viu Agatha acompanhada da mãe, a menina estava usando um vestido
armado com estampa floral e os cabelos soltos e cheios na cabeça. Não pensou
duas vezes, correu para encontrá-la e apresentou-a a Talita. Agatha lhe deu um
jogo de tabuleiro o qual ela prometeu que viria um dia para jogar com ele.
Meia hora depois chegou Luís, trazido pela tia. Uma
moça asiática gordinha e de sorriso simpático. Enquanto as crianças iam se
acumulando em um lado do quintal, os adultos ficavam do outro, conversando.
No fim, chegaram apenas mais três crianças da sala de
Paulo, com suas mães, tias e avós, deram presentes simples e pareciam meio
deslocadas, apesar das tentativas do menino de fazê-las se sentirem mais
confortáveis.
E foi quando a mãe de uma garotinha chamada Flávia
contou a Diego o motivo de quase nenhuma criança ter vindo.
– Foi a Olinda, aquela... – ela baixou a voz até quase
um sussurro – aquela escrota sem coração. A mulher ligou para cada uma das
casas das crianças e disse que o Paulo tinha dois pais e que isso era uma
abominação e essa merda toda. Eu não me deixo intimidar por aquela mulher, mas,
parece que vários dos pais sim ou isso ou são homofóbicos mesmo. Sinto muito
que isso esteja acontecendo no aniversário do Paulo. – Diego tentou explicar
que era irmão do garoto, mas no fim viu que isso não tinha muita importância.
– Obrigado por me contar e por trazer a Flávia, eles
estão se divertindo todos juntos e isso é o que importa. – mas viu que o garoto
estava meio chateado, apesar de estar brincando de pega com as outras crianças.
– Muito bem, antes de cantar parabéns, você ainda não
recebeu o nosso presente, Paulo. Marcelo, busca lá no quarto? – viu o menino
parar de correr e olhá-lo com uma expressão fixa e quando Marcelo apareceu no
quintal carregando a bicicleta, as pupilas do garoto ficaram maiores ainda, se
é que isso era possível.
– Uma bicicleta! – ele subiu no selim, sendo escorado
por Marcelo e posou para fotos tiradas por Diego e disse que no dia seguinte ia
querer aprender a andar naquilo. O sorriso que tinha desaparecido do rosto do
menino tinha enfim retornado.
Se juntaram para cantar parabéns, soprou a velinha,
várias fotos, distribuir os pedaços de bolo, “O primeiro pedaço... é difícil!”
declarou Paulo, mas no fim incentivado pelo irmão, deu-o para Mayara.
Quando assoprou a velinha, desejou que pudesse fazer
parte da família de Diego e Marcelo para sempre, que Agatha e Luís continuassem
sendo seus amigos e que Mayara estivesse na sua vida por um longo tempo.
Então veio o ponto alto da festa, o bexigão. Cheio de
mais porcarias plásticas, iguais a da sacola de surpresas, a grande bola de
borracha foi estourada por Paulo, carregado por Marcelo e segurando uma tesoura
afiada, a qual Diego tomou dele assim que o balão foi estourado. Caiu confete,
balas e brinquedos pelo chão e as crianças presentes mergulharam para pegar.
Eram 19h00 quando a festa foi oficialmente encerrada.
As pessoas se despediram e Diego fez um pratinho para quem quisesse levar um
pedaço de bolo e alguns salgadinhos e antes de ir embora, Vanessa disse que
eles deviam marcar de sair juntos.
– Somos todas conhecidas, eu, a tia do Luís, a mãe da
Flávia, a avó do Miguel e a irmã mais velha do Carlo. Eu sei, é só mulherada,
mas, sei lá, talvez seja divertido sair pra conversar sobre o que nossos
pequenos arteiros aprontam. Adorei conhecer você Marcelo e Parabéns mais uma
vez, Paulo. A Agatha fala muito de você. – viu aquela mulher bonita e esguia ir
embora com o braço no ombro da filha, ela ainda exibia aquelas bolsas sob os
olhos, mas, estavam mais fracas.
Francisco e Joaquim foram os últimos a sair e Diego
ouviu o loiro comentar que não ia a uma festa de criança há anos e que foi
muito divertido. Joaquim exibia um sorriso genuíno de felicidade.
Diego tinha se recusado a comprar bebidas alcoólicas,
afinal, o aniversário era de criança e criança não bebe, mas a falta de cerveja
não causou nenhum problema, pelo contrário, parecia ter deixado o ambiente mais
leve.
Quando se despediram dos dois, Diego e Marcelo
trocaram um olhar exausto e após mandarem Paulo para o banho e jantarem,
desabaram exaustos na cama. Havia sido um dia muito cansativo, tinham de
concordar, mas ao mesmo tempo, a felicidade estampada no rosto do menino não
tinha preço.
Deitado na cama, Diego contou ao marido o que a mãe de
Flávia tinha lhe falado sobre a tal Olinda e o quanto ele queria torcer o
pescoço da mulher até dizer chega.
– Onde já se viu? Ela interferiu na festa de
aniversário do Paulo porque ele tem “dois pais” – frisou fazendo aspas com os
dedos, indignado.
– Mas apesar disso, foi um bom aniversário. Ele se
divertiu, vieram alguns amiguinhos, eles brincaram e riram. Não deixa essa
criatura te irritar, Di. – suspirou cansado, mas tinha de concordar, se
permitisse que aquela mulher o tirasse do sério isso ia estragar o que tinha
sido um dia maravilhoso.
– Tem razão. Agora, eu preciso dormir, parece que fui
atropelado por um trator umas mil vezes. – já tinha tomado remédios para a dor,
mas, como sempre, demoravam para fazer efeito.
Marcelo apagou a luz e deitou ao seu lado e em poucos
eles adormeceram e no quarto ao lado, Paulo também estava mergulhado no sono,
os presentes ganhos empilhados em cima da escrivaninha e os papéis embaixo da
cama. Ele exibia um sorriso de satisfação durante o sono.
Continua...
Nota da autora:
Gente dossel, nem conto pra vocês como foi escrever
esse capítulo! Não só porque ele é o mais longo da história até agora, oito
páginas, como também pelo fato de que eu tava escrevendo o que será “o capítulo
seguinte” como se fosse esse até que me dei conta da cronologia das datas e
tive de parar e começar esse aqui. Enfim... O lado bom é que o capt.26 tá quase
pronto por causa disso.
Mas vocês viram como foi a festa de aniversário do
Paulo, eu tentei me basear nas minhas próprias festas de quando eu era criança
e na dos amigos/parentes que eu fui. Então teve toda aquela coisa dos presentes
na cama, papéis embaixo, bixigão, bolo, salgadinho, nada de bebida alcoólica em
festa de criança, o Paulo fazendo careta por ganhar roupa.
E também tivemos a apresentação da mãe do pestinha do
Emmanuel, a Olinda, que deu uma boa dor de cabeça pro Diego e ela não vai parar
por ai e adianto, vem ainda mais chumbo no futuro e não será da Olinda.
Também conhecemos a mãe da Agatha, Vanessa, que é um
mulherão lindo, mas muito machucada pelas traições do ex-marido, Silas.
Eu escrevi esse capítulo (e boa parte do 26) de uma
vez só, na sexta-feira antes de postar e gostaria de pedir muito que se você
está gostando, por favor, deixa um comentário pra eu saber.
Obrigada por ler até aqui e até o próximo capítulo!
Perséfone Tenou
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