Passaram-se algumas semanas desde o
ocorrido e como o Duque profetizara Casper não conseguia vender mais nenhuma
música sequer. Apesar de serem boas composições, os possíveis compradores se
negavam a adquirir as peças pelo fato de que não queriam problemas com o Duque,
o qual mandava em pelo menos metade da cidade. Com isso, o jovem músico estava
entrando em depressão, bebendo e indo à casa de ópio mais do que o normal.
Naquele momento estava deitado em um
dos divãs, o longo cachimbo esculpido a mão entre os dedos, soltando baforadas
de fumaça alucinógena de tempos em tempos por entre os lábios quase fechados.
Sua mente viajava para longe, em um lugar onde as coisas não aconteciam daquela
forma e ele tinha coragem de expressar seu amor por Sophier.
–
Casper... Acorde. – a voz do amigo vinha de longe e parecia aflita, mas ele não
queria voltar para aquele lugar triste e deprimente onde tinha de viver. Sentiu
seus ombros serem segurado e então chacoalhado para frente e para trás até que
abrisse os olhos, encontrando Sophier com uma expressão de puro pavor no
rosto.
A visão de Casper foi se afirmando até
poder ver o rosto bonito do outro, que chamava seu nome com desespero crescente
na voz. Piscou algumas vezes, sem compreender muito bem o que estava acontecendo
e então se sentou com esforço no divã estampado com flores coloridas.
–
O que houve para você vir me chamar em um momento como este? – indagou
completamente indignado enquanto tentava se levantar, sendo amparado por
Sophier.
–
Fomos roubados. – disse o outro com um pesar na voz que trouxe Casper para a
lucidez muito rapidamente. Seus grandes olhos verdes fixaram-se no rosto do
amigo, completamente surpreso com a informação.
–
Levaram suas composições, meus poemas, além do dinheiro que tínhamos para o
resto do mês. – contou Sophier, desolado com tais fatos. Já Casper tinha uma
nítida idéia de quem havia feito aquilo com eles, o Duque de Canterville era
uma boa aposta.
Era óbvio, depois da rejeição pela qual
passara há algumas noites, o Duque não aceitaria perder e só se ficaria feliz
se infligisse algum tipo de sofrimento para eles dois, não importava que tipo
fosse. Suspirando vencido, Casper expressou sua idéia do que iriam fazer dali
para frente. Não podiam deixar-se levar pelas atitudes do Duque, mostrar que
haviam se intimidado com tal invasão.
–
Não há nada que possamos fazer quanto ao material perdido, a não ser escrevê-lo
novamente e em relação ao dinheiro, teremos de pedir emprestado para Archibalde
ou Anrie. – declarou soturno, enquanto se levantava do divã, o efeito da droga
havia passado há algum tempo, decorrente do choque pelo qual passou.
Abraçou o pescoço de Sophier,
utilizando-o como apoio para andar. Podia sentir o aroma de seus cabelos
castanhos e chegou a aspirar um pouco do perfume, completamente inebriado. Seus
dias se resumiam daquela forma, estar próximo ao outro sem, no entanto, jamais
tocá-lo diretamente.
Ainda guardava na memória a lembrança
do beijo roubado há algumas semanas, o calor dos lábios mornos e a respiração
cálida que fugia por entre eles, preenchendo sua própria boca. No momento não
havia prestado tanta atenção aos detalhes, mas agora conseguia se lembrar com
nitidez da cena toda, inclusive do fato de que apesar de sua ousadia, o outro
não despertara. Tinha esperanças de poder repetir o gesto em breve, pois estas
seriam as únicas imagens que teria para recordar-se de Sophier se um dia se
separassem.
Ao entrarem no pequeno apartamento,
Casper teve idéia do tamanho do roubo. As gavetas estavam reviradas, tinteiros
foram despejados no chão, a cama recebera uma série de facadas, e despejava
enchimento para fora. As roupas estavam amarrotadas em um canto do quarto, e ao
se aproximar delas, se arrependeu, descobrindo que as mesmas haviam sido
encharcadas com a garrafa de absinto que guardavam para dias festivos. Olhou
então para Sophier, que o observava de longe, com as mãos nos bolsos da calça,
completamente apático. Queria perguntar quem havia feito aquilo, mas ele sabia
muito bem quem fora e pior, também sabia que não poderia fazer nada para
conseguir uma vingança.
Sophier retribuiu a mirada do amigo,
que fitava o quarto com um olhar vazio e desolado, e seu peito se apertou
perante aquela visão, não gostava de ver o outro daquela forma. Uma parte dele
queria abraçá-lo e confortá-lo, mas o outro lado de sua mente o impedia,
dizendo que tal atitude poderia arruinar com a amizade que tinham, pelo fato de
que ele acabaria entendendo suas atitudes errado, e com certeza se irritaria.
–
Como eu disse, levaram tudo e o que não levaram, eles simplesmente destruíram,
para que nós não tivéssemos a chance de conseguir nos reerguer. – Disse Sophier
pensando em quem poderia ter feito aquilo. Por mais que tentasse, sua mente não
ligava os fatos acontecidos ao Duque.
–
Certamente, mas agora estou cansado demais para pensar nisso... Preciso dormir.
– informou Casper enquanto jogava-se sobre o colchão rasgado, que despejou
enchimento para fora como se fossem tripas. Sophier observava o outro deitado
na cama completamente relaxado, a cabeça virada para o lado da parede e os
cabelos negros espalhados pelo travesseiro, formando uma cascata atraente e foi
então que ele sentiu seu peito arder, enquanto sua mente remontava as imagens
do dia em que salvara o outro dos abusos feitos pelo Duque, com aquela que se
desenrolava a sua frente naquele instante.
Respirou fundo, contendo os possíveis
desejos proibidos que surgiam em sua mente ao ver o amigo adormecido. Sentia
uma enorme vontade de cruzar o quarto e beijar-lhe os lábios mornos, era um desejo
inconsciente que crescia dentro de si e parecia devorá-lo por dentro, mas
acabou se contendo. Exausto, sentou-se na cadeira proxima a porta e deixou-se
levar pelo sono ali mesmo. Não achava seguro deitar-se na mesma cama que
Casper, tinha medo do que sua cabeça perturbada poderia fazer com o outro.
***
Já haviam se passado um mês desde o
ocorrido na casa do Duque e Casper continuava sem sorte para vender suas
composições e começava a duvidar de que algum dia voltaria a conseguir lucrar
com elas. Também notara que o comportamento de Sophier para com ele mudara
completamente desde aquela noite fatídica, o amigo não dormia mais na cama e
nem deixava que ele colocasse seu braço em volta do seu pescoço, quando estava
bêbado demais. Era como se alguma coisa tivesse se partido entre eles após
aquele acontecimento e isso enchia Casper de duvidas.
Desde
o dia em que a casa fora invadida, Casper passara a carregar consigo uma adaga,
não por que planejava usá-la em alguém, mas levá-la junto ao peito lhe trazia
uma sensação de segurança tamanha que ele não conseguia explicar em palavras,
mas o fazia sentir-se mais protegido contra a ameaça que o Duque havia se
tornado.
Sophier estava em casa, tentando compor
outro poema, mas o rosto de Casper, (o qual havia saído para tentar mais uma
vez vender suas composições) voltava a sua mente todo momento, atrapalhando seu
raciocínio de escrita. Olhou então para a folha de papel onde algumas poucas
linhas repousavam e com certa raiva leu o escrito.
“Teus
negros olhos uma vez fitando
Senti
que luz mais branda os
Acendia,”*
Amassou o papel com violência e jogou-o
por sobre o ombro, inclinou-se sobre uma folha nova e tentou escrever outro
poema, desta vez, fez o possível para afastar a imagem do moreno de sua mente.
Pensou nas mulheres com as quais havia saído em tempos anteriores, nos corpos
firmes e seios fartos, mas tais imagens não pareciam surtir mais o mesmo efeito
que antes.
“De teus seios tão
mimosos
Dá que eu goze o
talismã!
Dá que ali repouse
a fronte
Cheia de amoroso
afã!
E louco nele
respire
A tua malva-maçã”
*
Leu satisfeito o texto que havia
composto e com um sorriso parcialmente contente nos lábios, inclinou-se sobre a
folha para continuar compondo o poema. As coisas pareciam estar mudando e ele
recuperara sua inspiração para escrever sobre mulheres voluptuosas e atraentes
que povoavam as mentes de todo poeta boêmio. Mas, ao compor o segundo verso,
seus olhos se estreitaram enraivecidos e ele largou a pena, incomodado. A sua
frente, as próximas palavras o faziam se lembrar do outro novamente.
“Teu cabelo me inebria
Teu ardente olhar
seduz
A flor de teus
olhos negros
De tu’alma raia à
luz...
Fogo do céu que
transluz!”*
Estava totalmente impregnado com a
lembrança do outro e tal memória não podia ser apagada por nenhuma outra que
tentasse chamar em sua mente. Tomado então pelo desejo carnal que tais
recordações lhe causaram, deixou que a mão deslizasse lentamente por sobre a
própria coxa, acariciando seu membro por sobre a calça, enquanto pensava no
rosto de Casper, a boca rósea e macia, os grandes olhos negros que sempre o
fitavam com apreensão e os cabelos cacheados, escuros e longos que caiam pelos
ombros como uma cascata.
Fechou os olhos enquanto desabotoava a
calça e se deixava levar pelas memórias que tinha do outro, tomou sua excitação
em riste numa das mãos e começou a fazer movimentos suaves pela extensão,
sentindo a fricção de seus dedos por toda a pele sensível com arrepios
fortíssimos.
Apertou a ponta da própria ereção,
sentindo uma serie de arrepios prazerosos percorrerem toda sua espinha, contraiu
mais as pálpebras fechadas e entreabriu os lábios, ofegando e murmurando o nome
do amigo com um desejo incontido na voz. Jogou então a cabeça para trás,
deixando que os fios castanhos caíssem em cascata as suas costas, escorregando
pela cadeira ao mesmo tempo em que a cadencia de movimentos de sua mão
aumentava.
Sentiu então os primeiros espasmos de
prazer se espalhar pelo seu corpo e deixou-se levar pela sensação agradável que
tais calafrios causavam por todo seu ser, enquanto aumentava a velocidade dos
toques. E após minutos, que mais lhe pareceram horas, finalmente atingiu o
ápice, deixando que seu líquido claro manchasse o lenço com o qual havia
coberto a própria rigidez.
Estava com o rosto afogueado e
ofegante, seu peito subia e descia em uma velocidade incrível e suas faces, ele
podia sentir, ficaram muito coradas e quentes. Assim como todo o resto de seu
corpo, que agora parecia inexplicavelmente pesado. Havia perdido a inspiração
para continuar escrevendo e a cama nunca lhe pareceu tão convidativa.
Atravessou o pequeno cômodo e jogou-se sobre o colchão, o qual fora remendado
de forma tosca para não deixar que o enchimento escapasse mais.
Fechou os olhos e se deixou levar pelos
fantasmas deixados pela sensação de extremo deleite que experimentara minutos
atrás. Sua mente estava completamente preenchida com imagens do moreno, e tal
pensamento o encheu de culpa, pelo fato de que um sentimento como aquele,
poderia ruir com a amizade deles. Pensando sobre isso, Sophier adormeceu.
***
Recebera outra resposta negativa para a
venda de suas composições, o que fez com que Casper sentisse um ódio
indescritível em relação ao Duque e uma vontade enorme de se vingar.
Infelizmente sabia que não tinha nenhum tipo de argumento que servisse para afrontar
o nobre e por isso decidiu esquecer o que estava passando, deixando-se cair nos
braços do dragão, mais uma vez naquela semana.
Amassou a pasta de ópio e a colocou
sobre uma chapa de metal sob a qual se encontrava uma chama acesa, a droga
esquentou o suficiente para se tornar maleável, e então ele a colocou dentro do
longo cachimbo esculpido em marfim, com desenhos em relevo de flores. Acendeu e
deu algumas longas tragadas, soltando a fumaça por entre os lábios em um silvo
fino enquanto se deixava cair, completamente abandonado, sobre o divã.
Sua mente viajava para longe naquele
momento e o rosto de Sophier nunca lhe pareceu tão vívido. Pelo menos quando
estava sob o efeito do opiácio sua cabeça não conseguia se focar em nada
concreto e divagava sobre as coisas que poderiam ter sido e não foram. Como por
exemplo, seu relacionamento com Sophier, que atualmente estava se tornando cada
vez mais distante.
Encaixou o bico do cachimbo entre os
lábios e sugou mais da fumaça alucinógena, sentindo suas idéias serem
completamente nubladas, pois aquele era o efeito da droga. Relaxou os músculos
de todo o corpo, experimentando a impressão de como se um grande peso tivesse
sido retirado de suas costas. Os minutos se arrastavam, tornando-se horas e
logo anoiteceu, Casper finalmente decidiu que era hora de voltar e já saia da
casa de ópio, quando sentiu algo ser colocado sobre sua boca e nariz, fazendo
com que sua visão ficasse turva e embaçada.
Antes de desmaiar, viu os contornos de
um homem parado proximo a ele, tinha cabelos longos e castanhos e um sorriso
sádico no rosto. Seus olhos se estalaram de surpresa e pavor ao constatar que a
sua frente estava o Duque de Canterville. E que ele havia sido pego em uma
armadilha. Com tal pensamento em mente, Casper apagou por completo, a cabeça
caindo molemente sobre o peito.
***
Acordou com uma fortíssima dor de
cabeça e a sensação de que havia sido surrado, apesar de não haver hematomas em
seu corpo. Olhou para os lados e se descobriu no quarto onde quase fora abusado
há um mês, tentou se levantar, mas suas mãos estavam amarradas por sobre a
cabeça, impedindo qual quer movimento mais amplo. Seu coração então começou a
bater desesperado, estava preso, como um rato e não havia para onde fugir.
Ouviu então o ranger de uma porta se
abrindo e instintivamente virou a cabeça em direção ao som, procurando ver quem
era. O rosto belo e gélido do Duque espiou pela fresta aberta, exibindo um
largo sorriso, obrigando Casper a tentar se soltar, sem sucesso. Observou o
outro adentrar no cômodo, a passos lentos, aproximando-se cada vez mais da cama
e parando ao seu lado. Sentiu os dedos frios do outro tocando as mechas de seu
cabelo, e moveu a cabeça para o lado oposto, tentando fugir do contato.
–
Nos encontramos novamente, meu caro Casper... – o sorriso que se abria no rosto
do nobre era no mínimo curioso, tamanha largura atingia. O jovem músico sentiu
os primeiros sinais de pavor surgirem em sua mente perante a situação na qual
estava.
–
Duque de Canterville, eu exijo que me liberte. – ordenou, enquanto chutava os
lençóis da cama com ambos os pés. Estava desesperado para fugir dali, mas seus
pulsos foram amarrados com muita força, limitando suas ações.
Experimentou então a sensação dos dedos
frios do Duque roçando contra seu rosto em um carinho suave, que se não fosse
feito naquela situação, talvez até fosse bem-vindo. Mas naquele momento tudo o
que ele queria era distancia do homem inescrupuloso que estava em pé próximo a
ele.
–
Pode exigir o que quiser, meu belo pianista, mas nada será atendido, sinto
muito mas, não tenho o habito de favorecer meus prisioneiros. – disse o Duque
enquanto deixava a mão deslizar por sobre as vestes do moreno, abrindo os
botões da camisa, um a um e expondo o tórax pálido que se ocultava sob o pano.
Casper em total agonia puxava o corpo
para longe das mãos do outro, mas pelo fato de estar amarrado pelos pulsos,
seus movimentos eram limitados há apenas alguns centímetros da cama. Sentiu os
dedos do Duque roçar em seu mamilo e um arrepio violento percorreu sua espinha,
em um misto de excitação e asco.
Foi quando se lembrou da adaga que
passara a carregar consigo após o primeiro ataque que sofrera por parte do
outro, há um mês, sabia que a mesma estava no bolso interno de seu casaco, só
precisava que uma de suas mãos fosse solta para que pudesse alcançá-la. Começou
então a desenvolver um plano que convencesse o Duque a soltá-lo, mesmo que isso
o obrigasse a deixar que aquele homem asqueroso o tocasse, seria um preço
pequeno em troca da sua liberdade.
–
Reconheço a minha derrota, Duque de Canterville. Afinal não há como lutar
contra alguém tão astuto quanto você. – disse Casper enquanto olhava para o
outro de soslaio. Sabia que o Duque não resistia a um bom elogio e que os
mesmos conseguiam fazê-lo se tornar mais maleável.
–
Fico feliz que tenha aceitado seu destino ao meu lado, jovem Casper. – disse o
Duque, sentando-se ao seu lado, na beira da cama e deslizando os nós dos dedos
pelo rosto pálido do músico, que se conteve para não afastar a cabeça para longe.
Precisava ser convincente.
–
É claro, Duque, agora vejo com clareza quão melhor é a sua companhia, comparada
a de Sophier. – repreendeu-se mentalmente por ter dito tal besteira, mas
precisava fazer com que o outro caísse em sua conversa.
O nobre inclinou-se para perto de seu
rosto, buscando seus lábios, Casper desviou-se do toque e sorrindo de forma
sedutora, inclinou a cabeça para perto do ouvido do outro e sussurrou com uma
volúpia na voz, que ele mesmo não sabia ser capaz de fazer.
–
Amarrado dessa forma não poderei retribuir ao beijo de forma apropriada, mi
lorde. – informou enquanto esboçava outro de seus sorrisos encantadores, que
pareciam estar causando algum efeito no Duque. O mesmo empertigou-se na beira
da cama, instigado pelas promessas lúbricas que transpareciam no olhar do jovem
moreno.
–
Não vejo problema em desamarrá-lo, meu rapaz. – Disse o nobre, acreditando ter
ganhado aquela luta. Soltou os pulsos de Casper um a um, deixando com que os
braços caíssem com delicadeza sobre a cama ampla. O Músico ao sentir que estava
livre iniciou a segunda parte de seu plano. Inclinando-se por sobre o corpo do
Duque, deixou que seus lábios se colassem em um toque de bocas fechadas, afinal
de contas não permitiria que o outro invadisse sua cavidade com aquela língua
repulsiva.
Mas o toque pareceu surtir efeito, pois
o outro se relaxou na cama, deixando-se ser empurrado por Casper para deitar-se
sobre a mesma. Enquanto isso, a mão direita do compositor tateava por dentro do
casaco, buscando a adaga no bolso interno. Seus dedos então tocaram o cabo
trabalhado e a palma da mão o apertou com força. Retirou-a de dentro das vestes
com todo o cuidado possível, para não despertar a atenção do Duque, que parecia
completamente inebriado pelo beijo.
Então de repente, levantou a adaga
acima da cabeça e a cravou com força no ombro do homem que estava sob si. Pode
observar o horror, a surpresa e a dor nos olhos claros e belos do outro
enquanto a lamina enterrava-se na carne macia, abrindo passagem. Retirou então
a adaga e desferiu mais um golpe, agora na perna do outro, para impedir que o
seguisse.
Saltou da cama em um pulo rápido e
pegando os sapatos que jaziam sob o móvel, rumou para a porta de saída do
quarto. Ouviu um tossir a suas costas e virou-se para olhar, encontrando o
Duque, empapado em seu próprio sangue, fitando-o com um misto de duvida e
raiva.
–
Por que fez isso, rapaz? – ele perguntou com a voz entrecortada pela dor que os
ferimentos lhe causavam, os quais não foram profundos o suficiente para matá-lo,
mas serviram para proibir que viesse em seu encalço.
–
Porque, meu caro Duque, o amor não é algo que possa ser tomado à força. É
preciso ser conquistado por atos que demonstrem o sentimento ao outro,
compreende? – indagou sem esperar pela resposta, pois abriu a porta e saiu do
quarto para o corredor, onde para sua sorte não encontrou nenhum criado até
chegar à porta de saída.
Olhou para suas vestes e fechou o
casaco com violência, para ocultar as manchas de sangue na camisa branca.
Começou a caminhar a passos rápidos de volta para casa, pensando se Sophier
havia se quer notado a sua ausência. Pensar no outro fazia seu coração ficar
mais leve e despreocupado e isso o alegrava.
Continua...
Notas
do capítulo:
*
“Teus negros olhos uma vez fitando...”: também é um poema de Álvares de
Azevedo, chamado “Por mim?” que também pertence ao livro “a lira dos vinte
anos”
*
“De teus seios tão mimosos/Dá que eu goze o talismã!” e “Teu cabelo me
inebria/Teu ardente olhar seduz”: ambos trechos do poema “Malva Maçã” também de
autoria de Álvares de Azevedo, do livro “A lira dos vinte anos”
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