sábado, 20 de janeiro de 2024

O último réquiem - capítulo 03


         Passaram-se algumas semanas desde o ocorrido e como o Duque profetizara Casper não conseguia vender mais nenhuma música sequer. Apesar de serem boas composições, os possíveis compradores se negavam a adquirir as peças pelo fato de que não queriam problemas com o Duque, o qual mandava em pelo menos metade da cidade. Com isso, o jovem músico estava entrando em depressão, bebendo e indo à casa de ópio mais do que o normal.



         Naquele momento estava deitado em um dos divãs, o longo cachimbo esculpido a mão entre os dedos, soltando baforadas de fumaça alucinógena de tempos em tempos por entre os lábios quase fechados. Sua mente viajava para longe, em um lugar onde as coisas não aconteciam daquela forma e ele tinha coragem de expressar seu amor por Sophier.

– Casper... Acorde. – a voz do amigo vinha de longe e parecia aflita, mas ele não queria voltar para aquele lugar triste e deprimente onde tinha de viver. Sentiu seus ombros serem segurado e então chacoalhado para frente e para trás até que abrisse os olhos, encontrando Sophier com uma expressão de puro pavor no rosto.             

         A visão de Casper foi se afirmando até poder ver o rosto bonito do outro, que chamava seu nome com desespero crescente na voz. Piscou algumas vezes, sem compreender muito bem o que estava acontecendo e então se sentou com esforço no divã estampado com flores coloridas.

– O que houve para você vir me chamar em um momento como este? – indagou completamente indignado enquanto tentava se levantar, sendo amparado por Sophier.

– Fomos roubados. – disse o outro com um pesar na voz que trouxe Casper para a lucidez muito rapidamente. Seus grandes olhos verdes fixaram-se no rosto do amigo, completamente surpreso com a informação.

– Levaram suas composições, meus poemas, além do dinheiro que tínhamos para o resto do mês. – contou Sophier, desolado com tais fatos. Já Casper tinha uma nítida idéia de quem havia feito aquilo com eles, o Duque de Canterville era uma boa aposta.

         Era óbvio, depois da rejeição pela qual passara há algumas noites, o Duque não aceitaria perder e só se ficaria feliz se infligisse algum tipo de sofrimento para eles dois, não importava que tipo fosse. Suspirando vencido, Casper expressou sua idéia do que iriam fazer dali para frente. Não podiam deixar-se levar pelas atitudes do Duque, mostrar que haviam se intimidado com tal invasão.

– Não há nada que possamos fazer quanto ao material perdido, a não ser escrevê-lo novamente e em relação ao dinheiro, teremos de pedir emprestado para Archibalde ou Anrie. – declarou soturno, enquanto se levantava do divã, o efeito da droga havia passado há algum tempo, decorrente do choque pelo qual passou.

         Abraçou o pescoço de Sophier, utilizando-o como apoio para andar. Podia sentir o aroma de seus cabelos castanhos e chegou a aspirar um pouco do perfume, completamente inebriado. Seus dias se resumiam daquela forma, estar próximo ao outro sem, no entanto, jamais tocá-lo diretamente.

         Ainda guardava na memória a lembrança do beijo roubado há algumas semanas, o calor dos lábios mornos e a respiração cálida que fugia por entre eles, preenchendo sua própria boca. No momento não havia prestado tanta atenção aos detalhes, mas agora conseguia se lembrar com nitidez da cena toda, inclusive do fato de que apesar de sua ousadia, o outro não despertara. Tinha esperanças de poder repetir o gesto em breve, pois estas seriam as únicas imagens que teria para recordar-se de Sophier se um dia se separassem.

         Ao entrarem no pequeno apartamento, Casper teve idéia do tamanho do roubo. As gavetas estavam reviradas, tinteiros foram despejados no chão, a cama recebera uma série de facadas, e despejava enchimento para fora. As roupas estavam amarrotadas em um canto do quarto, e ao se aproximar delas, se arrependeu, descobrindo que as mesmas haviam sido encharcadas com a garrafa de absinto que guardavam para dias festivos. Olhou então para Sophier, que o observava de longe, com as mãos nos bolsos da calça, completamente apático. Queria perguntar quem havia feito aquilo, mas ele sabia muito bem quem fora e pior, também sabia que não poderia fazer nada para conseguir uma vingança.

         Sophier retribuiu a mirada do amigo, que fitava o quarto com um olhar vazio e desolado, e seu peito se apertou perante aquela visão, não gostava de ver o outro daquela forma. Uma parte dele queria abraçá-lo e confortá-lo, mas o outro lado de sua mente o impedia, dizendo que tal atitude poderia arruinar com a amizade que tinham, pelo fato de que ele acabaria entendendo suas atitudes errado, e com certeza se irritaria.

– Como eu disse, levaram tudo e o que não levaram, eles simplesmente destruíram, para que nós não tivéssemos a chance de conseguir nos reerguer. – Disse Sophier pensando em quem poderia ter feito aquilo. Por mais que tentasse, sua mente não ligava os fatos acontecidos ao Duque.

– Certamente, mas agora estou cansado demais para pensar nisso... Preciso dormir. – informou Casper enquanto jogava-se sobre o colchão rasgado, que despejou enchimento para fora como se fossem tripas. Sophier observava o outro deitado na cama completamente relaxado, a cabeça virada para o lado da parede e os cabelos negros espalhados pelo travesseiro, formando uma cascata atraente e foi então que ele sentiu seu peito arder, enquanto sua mente remontava as imagens do dia em que salvara o outro dos abusos feitos pelo Duque, com aquela que se desenrolava a sua frente naquele instante.

         Respirou fundo, contendo os possíveis desejos proibidos que surgiam em sua mente ao ver o amigo adormecido. Sentia uma enorme vontade de cruzar o quarto e beijar-lhe os lábios mornos, era um desejo inconsciente que crescia dentro de si e parecia devorá-lo por dentro, mas acabou se contendo. Exausto, sentou-se na cadeira proxima a porta e deixou-se levar pelo sono ali mesmo. Não achava seguro deitar-se na mesma cama que Casper, tinha medo do que sua cabeça perturbada poderia fazer com o outro.

***

         Já haviam se passado um mês desde o ocorrido na casa do Duque e Casper continuava sem sorte para vender suas composições e começava a duvidar de que algum dia voltaria a conseguir lucrar com elas. Também notara que o comportamento de Sophier para com ele mudara completamente desde aquela noite fatídica, o amigo não dormia mais na cama e nem deixava que ele colocasse seu braço em volta do seu pescoço, quando estava bêbado demais. Era como se alguma coisa tivesse se partido entre eles após aquele acontecimento e isso enchia Casper de duvidas.

Desde o dia em que a casa fora invadida, Casper passara a carregar consigo uma adaga, não por que planejava usá-la em alguém, mas levá-la junto ao peito lhe trazia uma sensação de segurança tamanha que ele não conseguia explicar em palavras, mas o fazia sentir-se mais protegido contra a ameaça que o Duque havia se tornado.

         Sophier estava em casa, tentando compor outro poema, mas o rosto de Casper, (o qual havia saído para tentar mais uma vez vender suas composições) voltava a sua mente todo momento, atrapalhando seu raciocínio de escrita. Olhou então para a folha de papel onde algumas poucas linhas repousavam e com certa raiva leu o escrito.

 

“Teus negros olhos uma vez fitando

Senti que luz mais branda os

Acendia,”*

        

         Amassou o papel com violência e jogou-o por sobre o ombro, inclinou-se sobre uma folha nova e tentou escrever outro poema, desta vez, fez o possível para afastar a imagem do moreno de sua mente. Pensou nas mulheres com as quais havia saído em tempos anteriores, nos corpos firmes e seios fartos, mas tais imagens não pareciam surtir mais o mesmo efeito que antes. 

 

“De teus seios tão mimosos

Dá que eu goze o talismã!

Dá que ali repouse a fronte

Cheia de amoroso afã!

E louco nele respire

A tua malva-maçã” *

 

         Leu satisfeito o texto que havia composto e com um sorriso parcialmente contente nos lábios, inclinou-se sobre a folha para continuar compondo o poema. As coisas pareciam estar mudando e ele recuperara sua inspiração para escrever sobre mulheres voluptuosas e atraentes que povoavam as mentes de todo poeta boêmio. Mas, ao compor o segundo verso, seus olhos se estreitaram enraivecidos e ele largou a pena, incomodado. A sua frente, as próximas palavras o faziam se lembrar do outro novamente.

“Teu cabelo me inebria

Teu ardente olhar seduz

A flor de teus olhos negros

De tu’alma raia à luz...

Fogo do céu que transluz!”*

 

         Estava totalmente impregnado com a lembrança do outro e tal memória não podia ser apagada por nenhuma outra que tentasse chamar em sua mente. Tomado então pelo desejo carnal que tais recordações lhe causaram, deixou que a mão deslizasse lentamente por sobre a própria coxa, acariciando seu membro por sobre a calça, enquanto pensava no rosto de Casper, a boca rósea e macia, os grandes olhos negros que sempre o fitavam com apreensão e os cabelos cacheados, escuros e longos que caiam pelos ombros como uma cascata.

         Fechou os olhos enquanto desabotoava a calça e se deixava levar pelas memórias que tinha do outro, tomou sua excitação em riste numa das mãos e começou a fazer movimentos suaves pela extensão, sentindo a fricção de seus dedos por toda a pele sensível com arrepios fortíssimos.

         Apertou a ponta da própria ereção, sentindo uma serie de arrepios prazerosos percorrerem toda sua espinha, contraiu mais as pálpebras fechadas e entreabriu os lábios, ofegando e murmurando o nome do amigo com um desejo incontido na voz. Jogou então a cabeça para trás, deixando que os fios castanhos caíssem em cascata as suas costas, escorregando pela cadeira ao mesmo tempo em que a cadencia de movimentos de sua mão aumentava.        

         Sentiu então os primeiros espasmos de prazer se espalhar pelo seu corpo e deixou-se levar pela sensação agradável que tais calafrios causavam por todo seu ser, enquanto aumentava a velocidade dos toques. E após minutos, que mais lhe pareceram horas, finalmente atingiu o ápice, deixando que seu líquido claro manchasse o lenço com o qual havia coberto a própria rigidez.

         Estava com o rosto afogueado e ofegante, seu peito subia e descia em uma velocidade incrível e suas faces, ele podia sentir, ficaram muito coradas e quentes. Assim como todo o resto de seu corpo, que agora parecia inexplicavelmente pesado. Havia perdido a inspiração para continuar escrevendo e a cama nunca lhe pareceu tão convidativa. Atravessou o pequeno cômodo e jogou-se sobre o colchão, o qual fora remendado de forma tosca para não deixar que o enchimento escapasse mais.

         Fechou os olhos e se deixou levar pelos fantasmas deixados pela sensação de extremo deleite que experimentara minutos atrás. Sua mente estava completamente preenchida com imagens do moreno, e tal pensamento o encheu de culpa, pelo fato de que um sentimento como aquele, poderia ruir com a amizade deles. Pensando sobre isso, Sophier adormeceu.

***

         Recebera outra resposta negativa para a venda de suas composições, o que fez com que Casper sentisse um ódio indescritível em relação ao Duque e uma vontade enorme de se vingar. Infelizmente sabia que não tinha nenhum tipo de argumento que servisse para afrontar o nobre e por isso decidiu esquecer o que estava passando, deixando-se cair nos braços do dragão, mais uma vez naquela semana.

         Amassou a pasta de ópio e a colocou sobre uma chapa de metal sob a qual se encontrava uma chama acesa, a droga esquentou o suficiente para se tornar maleável, e então ele a colocou dentro do longo cachimbo esculpido em marfim, com desenhos em relevo de flores. Acendeu e deu algumas longas tragadas, soltando a fumaça por entre os lábios em um silvo fino enquanto se deixava cair, completamente abandonado, sobre o divã.

         Sua mente viajava para longe naquele momento e o rosto de Sophier nunca lhe pareceu tão vívido. Pelo menos quando estava sob o efeito do opiácio sua cabeça não conseguia se focar em nada concreto e divagava sobre as coisas que poderiam ter sido e não foram. Como por exemplo, seu relacionamento com Sophier, que atualmente estava se tornando cada vez mais distante.

         Encaixou o bico do cachimbo entre os lábios e sugou mais da fumaça alucinógena, sentindo suas idéias serem completamente nubladas, pois aquele era o efeito da droga. Relaxou os músculos de todo o corpo, experimentando a impressão de como se um grande peso tivesse sido retirado de suas costas. Os minutos se arrastavam, tornando-se horas e logo anoiteceu, Casper finalmente decidiu que era hora de voltar e já saia da casa de ópio, quando sentiu algo ser colocado sobre sua boca e nariz, fazendo com que sua visão ficasse turva e embaçada.

         Antes de desmaiar, viu os contornos de um homem parado proximo a ele, tinha cabelos longos e castanhos e um sorriso sádico no rosto. Seus olhos se estalaram de surpresa e pavor ao constatar que a sua frente estava o Duque de Canterville. E que ele havia sido pego em uma armadilha. Com tal pensamento em mente, Casper apagou por completo, a cabeça caindo molemente sobre o peito.

***

         Acordou com uma fortíssima dor de cabeça e a sensação de que havia sido surrado, apesar de não haver hematomas em seu corpo. Olhou para os lados e se descobriu no quarto onde quase fora abusado há um mês, tentou se levantar, mas suas mãos estavam amarradas por sobre a cabeça, impedindo qual quer movimento mais amplo. Seu coração então começou a bater desesperado, estava preso, como um rato e não havia para onde fugir.

         Ouviu então o ranger de uma porta se abrindo e instintivamente virou a cabeça em direção ao som, procurando ver quem era. O rosto belo e gélido do Duque espiou pela fresta aberta, exibindo um largo sorriso, obrigando Casper a tentar se soltar, sem sucesso. Observou o outro adentrar no cômodo, a passos lentos, aproximando-se cada vez mais da cama e parando ao seu lado. Sentiu os dedos frios do outro tocando as mechas de seu cabelo, e moveu a cabeça para o lado oposto, tentando fugir do contato.

– Nos encontramos novamente, meu caro Casper... – o sorriso que se abria no rosto do nobre era no mínimo curioso, tamanha largura atingia. O jovem músico sentiu os primeiros sinais de pavor surgirem em sua mente perante a situação na qual estava.

– Duque de Canterville, eu exijo que me liberte. – ordenou, enquanto chutava os lençóis da cama com ambos os pés. Estava desesperado para fugir dali, mas seus pulsos foram amarrados com muita força, limitando suas ações.

         Experimentou então a sensação dos dedos frios do Duque roçando contra seu rosto em um carinho suave, que se não fosse feito naquela situação, talvez até fosse bem-vindo. Mas naquele momento tudo o que ele queria era distancia do homem inescrupuloso que estava em pé próximo a ele.  

– Pode exigir o que quiser, meu belo pianista, mas nada será atendido, sinto muito mas, não tenho o habito de favorecer meus prisioneiros. – disse o Duque enquanto deixava a mão deslizar por sobre as vestes do moreno, abrindo os botões da camisa, um a um e expondo o tórax pálido que se ocultava sob o pano.

         Casper em total agonia puxava o corpo para longe das mãos do outro, mas pelo fato de estar amarrado pelos pulsos, seus movimentos eram limitados há apenas alguns centímetros da cama. Sentiu os dedos do Duque roçar em seu mamilo e um arrepio violento percorreu sua espinha, em um misto de excitação e asco.

         Foi quando se lembrou da adaga que passara a carregar consigo após o primeiro ataque que sofrera por parte do outro, há um mês, sabia que a mesma estava no bolso interno de seu casaco, só precisava que uma de suas mãos fosse solta para que pudesse alcançá-la. Começou então a desenvolver um plano que convencesse o Duque a soltá-lo, mesmo que isso o obrigasse a deixar que aquele homem asqueroso o tocasse, seria um preço pequeno em troca da sua liberdade.

– Reconheço a minha derrota, Duque de Canterville. Afinal não há como lutar contra alguém tão astuto quanto você. – disse Casper enquanto olhava para o outro de soslaio. Sabia que o Duque não resistia a um bom elogio e que os mesmos conseguiam fazê-lo se tornar mais maleável.

– Fico feliz que tenha aceitado seu destino ao meu lado, jovem Casper. – disse o Duque, sentando-se ao seu lado, na beira da cama e deslizando os nós dos dedos pelo rosto pálido do músico, que se conteve para não afastar a cabeça para longe. Precisava ser convincente.

– É claro, Duque, agora vejo com clareza quão melhor é a sua companhia, comparada a de Sophier. – repreendeu-se mentalmente por ter dito tal besteira, mas precisava fazer com que o outro caísse em sua conversa.

         O nobre inclinou-se para perto de seu rosto, buscando seus lábios, Casper desviou-se do toque e sorrindo de forma sedutora, inclinou a cabeça para perto do ouvido do outro e sussurrou com uma volúpia na voz, que ele mesmo não sabia ser capaz de fazer.

– Amarrado dessa forma não poderei retribuir ao beijo de forma apropriada, mi lorde. – informou enquanto esboçava outro de seus sorrisos encantadores, que pareciam estar causando algum efeito no Duque. O mesmo empertigou-se na beira da cama, instigado pelas promessas lúbricas que transpareciam no olhar do jovem moreno.

– Não vejo problema em desamarrá-lo, meu rapaz. – Disse o nobre, acreditando ter ganhado aquela luta. Soltou os pulsos de Casper um a um, deixando com que os braços caíssem com delicadeza sobre a cama ampla. O Músico ao sentir que estava livre iniciou a segunda parte de seu plano. Inclinando-se por sobre o corpo do Duque, deixou que seus lábios se colassem em um toque de bocas fechadas, afinal de contas não permitiria que o outro invadisse sua cavidade com aquela língua repulsiva.

         Mas o toque pareceu surtir efeito, pois o outro se relaxou na cama, deixando-se ser empurrado por Casper para deitar-se sobre a mesma. Enquanto isso, a mão direita do compositor tateava por dentro do casaco, buscando a adaga no bolso interno. Seus dedos então tocaram o cabo trabalhado e a palma da mão o apertou com força. Retirou-a de dentro das vestes com todo o cuidado possível, para não despertar a atenção do Duque, que parecia completamente inebriado pelo beijo.

         Então de repente, levantou a adaga acima da cabeça e a cravou com força no ombro do homem que estava sob si. Pode observar o horror, a surpresa e a dor nos olhos claros e belos do outro enquanto a lamina enterrava-se na carne macia, abrindo passagem. Retirou então a adaga e desferiu mais um golpe, agora na perna do outro, para impedir que o seguisse.

         Saltou da cama em um pulo rápido e pegando os sapatos que jaziam sob o móvel, rumou para a porta de saída do quarto. Ouviu um tossir a suas costas e virou-se para olhar, encontrando o Duque, empapado em seu próprio sangue, fitando-o com um misto de duvida e raiva.

– Por que fez isso, rapaz? – ele perguntou com a voz entrecortada pela dor que os ferimentos lhe causavam, os quais não foram profundos o suficiente para matá-lo, mas serviram para proibir que viesse em seu encalço.

– Porque, meu caro Duque, o amor não é algo que possa ser tomado à força. É preciso ser conquistado por atos que demonstrem o sentimento ao outro, compreende? – indagou sem esperar pela resposta, pois abriu a porta e saiu do quarto para o corredor, onde para sua sorte não encontrou nenhum criado até chegar à porta de saída.

         Olhou para suas vestes e fechou o casaco com violência, para ocultar as manchas de sangue na camisa branca. Começou a caminhar a passos rápidos de volta para casa, pensando se Sophier havia se quer notado a sua ausência. Pensar no outro fazia seu coração ficar mais leve e despreocupado e isso o alegrava.     

 

Continua...

 

Notas do capítulo:

 

* “Teus negros olhos uma vez fitando...”: também é um poema de Álvares de Azevedo, chamado “Por mim?” que também pertence ao livro “a lira dos vinte anos”

 

* “De teus seios tão mimosos/Dá que eu goze o talismã!” e “Teu cabelo me inebria/Teu ardente olhar seduz”: ambos trechos do poema “Malva Maçã” também de autoria de Álvares de Azevedo, do livro “A lira dos vinte anos”

 


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