Diego mandou fazer uma versão física da foto de Paulo
com Agatha vestidos de novinhos na quadrilha e pendurou perto da porta de
entrada. Não sabia explicar, mas sentia que precisava compartilhar aquilo com
todos que entrassem na casa.
Mas isso tinha sido na semana anterior. Naquele
momento, estava com Paulo e Mayara no shopping, procurando um presente para
Marcelo, pois o aniversário dele seria dali dois dias.
Enquanto entravam em mais uma loja, Paulo contava
sobre a classe estar fazendo cartões para o dia dos Namorados e frisando que “Não era pra dar eles só pra quem quisesse
namorar, a professora disse que podia dar um pros amigos e família também”.
Ao ouvir isso, Diego sorriu ao perceber como a abordagem das escolas para aquela
data tinha evoluído. Quando ele era garoto, tinha de fazer um cartão e tinha de
dá-lo para uma garota que “gostasse”.
— Muito legal,
Paulo. E pra quem você vai dar os seus cartões? — Diego olhou para o menino e
sorriu e em seguida, virando-se para Mayara, comentou. — Pensei em comprar um
perfume pra ele. — referindo-se a Marcelo.
— É uma boa ideia. Sabe que tipo ele gosta? — respondeu
que aqueles amadeirados pareciam ser os preferidos e estavam quase entrando
numa loja especifica de perfumes, quando Paulo puxou sua mão com insistência
enquanto tentava chamar atenção.
— Diego! Você nem ouviu o que eu falei! Ei! — era a
segunda vez no ano que o menino fazia algo parecido com birra, o que
surpreendeu Diego e quase fez com que respondesse ao garoto com grosseria. Mas
após respirar fundo alguns segundos, ele que até aquele momento estava
segurando a mão de Paulo, a soltou e olhou para o menino fixamente.
— O que você
falou? Repete que agora estou ouvindo. — e então viu o rosto do menino passar
de uma expressão assustada, para felicidade radiante enquanto ele contava que
tinha feito vários cartões e que os distribuiria entre os amigos e para Diego,
Marcelo e Mayara também.
— Eu também vou ganhar um? — Mayara entrou na
conversa, percebendo que Diego estava irritado com as compras de ultima hora,
além dos problemas da imobiliária, os quais ele tinha comentado com ela mais
cedo.
— Vai sim e o seu vai ser o mais bonito! — a moça
então sugeriu a Diego que ela levaria o garoto dar uma volta na praça central do
shopping, onde estavam tendo algumas atividades para crianças enquanto ele
fazia as compras.
— Daí você encontra a gente lá depois, tá bem? — pode
ver uma expressão de agradecimento silenciosa no rosto do amigo e enquanto se
afastava, segurando Paulo pela mão, pensou que apesar de todos os empecilhos,
Diego estava se saindo bem naquela coisa de ser pai.
***
Comprou o perfume e voltava com a sacolinha presa
entre os dedos, lembrando que precisava ir com Paulo a uma loja de roupas, pois
o menino não tinha casacos grossos e o tempo estava começando a esfriar. Ainda
mais que ele ia viajar para aquele museu no fim do mês, precisava ir
agasalhado.
Diego riu baixinho ao notar que estava pensando assim,
se preocupando com Paulo de uma forma que jamais imaginaria ser capaz no ano
passado, quando o menino não passava de uma informação desconhecida e distante.
Avistou Mayara sentada num dos bancos ao redor da
praça central, conversando com uma moça que carregava um bebê num canguru e
Paulo dentro do espaço destinado as crianças, colorindo um desenho junto de
outras crianças.
Quando se aproximou cumprimentando a amiga e a moça
com o bebê, esta perguntou se ele era marido de Mayara, ao que a amiga riu
educada e respondeu que não, mas que o menininho ali era irmão caçula dele.
— Paulo, vamos. — viu a moça chamar e observou o
menino largar os lápis de cor com certa irritação, dobrar o desenho inacabado e
colocá-lo no bolso da calça jeans, para em seguida correr até eles.
Após mais uma boa andança, encontraram um casaco para
frio que Paulo gostou e que Diego podia pagar, pois nunca tinha imaginado que
roupas para criança podiam ser tão caras. O casaco em questão tinha um pequeno
Homem-Aranha bordado no peito e era preto e acolchoado.
Terminaram almoçando na praça de alimentação e para
surpresa de Diego, Paulo quis um prato de um restaurante comum, ao invés de um
lanche feliz. (mas, o menino sugeriu que não dispensava o brinquedo do mês, o
qual Diego comprou a parte).
Voltaram para casa todos exaustos, mas felizes.
Marcelo já havia chegado e ficou com Paulo enquanto o marido levava Mayara de
volta para casa.
No trajeto, Diego agradeceu a amiga mais uma vez por
toda a ajuda que ela vinha dando a eles, desde cuidar de Paulo até ir
acompanhá-lo para comprar um presente pro marido, ao que a moça respondeu que
não tinha o que agradecer, ela ficava feliz em ajudar os amigos.
***
Enquanto isso em casa, Paulo mostrava o casaco novo
para Marcelo, e em seguida o brinquedo que ganhou e contava sobre o dia, mas
quando chegou na parte do presente, o menino deu uma risadinha e disse que era
segredo.
— Então você almoçou um prato com arroz, feijão,
salada e bife hoje é? Muito legal, rapaz. Mas me diz ai, tá com fome? Quer
jantar? — ouviu o menino dizer sim em um grito animado e correr até a pequena
cozinha, onde se instalou em uma das cadeiras.
— Muito bem, vamos fazer o jantar e surpreender o
Diego. Você me ajuda? — viu o garoto correr até o banheiro, onde pegou seu
banquinho e colocá-lo ao seu lado na frente da pia.
— Tá meio frio, que acha de uma sopa? Com cenoura,
batata e pedaços de galinha? Parece bom, né? — Paulo concordou com um meneio de
cabeça e sorriu e aquela imagem fez com que o cansaço do dia desaparecesse da
mente de Marcelo.
***
— Querido, cheguei! — Joaquim ouviu Francisco dizer
enquanto entrava com uma embalagem do restaurante de comida coreana que ficava
no centro. Naquele dia o namorado não pode ir buscá-lo no trabalho, por conta
de uma reunião que demorou mais do que o esperado. Mas não teve problema, ele
gostou de voltar sozinho para casa.
— Oi, você trouxe o jantar, que fofo. — cumprimentou-o
com um beijo rápido enquanto tirava o pacote das mãos de Francisco e o
desmontava na pequena bancada da cozinha.
— Pensei em fazer um agrado pra gente. Pedi seus
favoritos. — Joaquim sorriu enquanto abria as embalagens e servia os conteúdos
em dois pratos. Francisco era um bom namorado, um bom homem e ele era feliz de
estar ao seu lado.
— Gostei da surpresa. Como foi seu dia na editora? —
virou-se para pegar uma jarra de suco que estava na geladeira e antes que
abrisse a porta, sentiu os braços firmes do outro envolverem sua cintura e um
beijo morno ser depositado na curva do seu pescoço.
— Chato, na verdade. Não via a hora de voltar pra casa
pra poder te abraçar assim. E você, como foi o dia na loja? — Joaquim demorou
alguns segundos para responder, as vezes Francisco fazia aqueles gestos
espontâneos de carinho e isso o deixava meio desnorteado.
— Foi... Normal. Como sempre. — desvencilhando-se com
cuidado do abraço, abriu a geladeira e pegou a jarra de suco, sentindo que o
rosto estava quente e com certeza devia estar vermelho.
— Tá tudo bem? — Joaquim se sentou na cadeira a frente
de Francisco e respondeu que sim, estava, mas não era toda a verdade. O fato
era que nos últimos dias, ele vinha se sentindo meio inibido de demonstrar
afeição pelo namorado. Não sabia explicar, era algo gradativo e lento, mas que
vinha se tornando constante.
— Você não precisa reagir a cada gesto que eu faço. Se
eu te abraço, é porque gosto de você, mas não há necessidade de que você faça o
mesmo de volta no mesmo instante. E se eu fizer algo que te incomode, é só
dizer e eu vou parar... — Joaquim olhou para o namorado e sorriu sem jeito e em
seguida deslizou a mão sobre a mesa, alcançando a de Francisco.
— Não é que eu não goste, você nunca fez nada que eu
não gostasse... É só que, sei lá, esses últimos dias eu tou me sentindo meio...
Desconectado. Não sei explicar, mas isso me incomoda, porque eu acho que eu
deveria corresponder quando você está comigo, mas, sei lá. — sentiu a mão do
outro envolver a sua e ao olhar para o namorado, viu que ele sorria mas de uma
forma meio dolorosa.
— Vamos deixar uma coisa clara aqui, tá bem? — Joaquim
concordou com um gesto de cabeça, meio desconfiado, afinal Francisco estava
usando um tom de voz enérgico e meio seco.
— Você não tem obrigação nenhuma no quesito romântico
ou sexual comigo. Eu te amo e acredito que você também me ame... — O loiro
tentou responder que “sim, mas é claro”, mas foi impedido por um gesto de mão
do namorado.
— E a gente tem vivido bem juntos. Pra mim isso é o
que importa, que você e eu nos sintamos bem juntos. Não devemos nos prender a
cobranças do que “deve-se fazer num relacionamento”, fazemos o que gostamos e
quando estamos ambos a fim. Eu notei que você não tem tido muita vontade de
fazer amor ou de ser tocado e apesar de estar preocupado com você, vou
respeitar seu tempo, até que se sinta apto. demore o quanto for preciso. — não transavam desde que ele tinha feito a
tatuagem, primeiro porque o lugar estava sensível, depois porque não tinham
tempo e finalmente, porque Joaquim se sentia meio apático e sem vontade. Apesar
de lá no fundo ele querer fazer algo mais intimo com o namorado, não sentia
ânimo.
— Obrigado por entender. — e por alguns segundos sua
mente voltou naquele namoro anterior com o odioso ex-namorado. Se tivesse
sequer insinuado que não estava a fim, teria sido obrigado a fazer do mesmo
jeito.
— Agora vamos comer antes que esfrie. Depois a gente
pode assistir alguma coisa na Netflix enquanto ficamos embaixo de três camadas
de cobertor, o que acha? — viu o loiro sorrir e concordar e então começar a
comer, enquanto exibia uma expressão mais tranquila.
Claro que Francisco sentia falta de tocar o namorado,
mas jamais o forçaria a nada apenas para satisfazer seu próprio prazer. Sexo
não era tudo no relacionamento deles.
***
De volta em casa, Diego sentiu o cheiro delicioso de
sopa se espalhando pela casa e assim que entrou, foi informado por Paulo que
ele tinha ajudado a preparar a janta, ao que Marcelo informou num sussurro, que
o menino só tinha lavado os legumes e colocado tudo picado na panela de
pressão. Os dois trocaram um sorriso.
O jantar foi tranquilo, Paulo estava animado com o
passeio ao museu Catavento no fim do mês e com os cartões de dia dos namorados.
Depois de comerem e lavarem a louça, com o menino secando os pratos com cuidado,
foram se deitar. Paulo apagou como uma vela assim que deitou a cabeça no
travesseiro.
Quando estavam a sós no quarto, Diego perguntou se
Marcelo queria fazer uma festa pequena para comemorar seu aniversário, ao que o
rapaz respondeu que não tinha certeza.
— Talvez, a gente podia convidar o pessoal de sempre.
A Mayara com as mães dela e a namorada, Francisco e o namorado, talvez a mãe da
Agatha e a irmã do Luís, pras crianças brincarem juntas. — Diego contava nos
dedos e após alguns segundos concluiu que seria uma festa para aproximadamente
quinze pessoas.
— Acho que dá pra encomendar um kit festa. E é uma boa
ideia convidar a Vanessa e a Miriam, o Paulo ia ficar meio sozinho se só
tivesse adultos. — deitou-se debaixo das cobertas e quando viu que Marcelo se
aproximava, as ergueu para que o marido se juntasse a ele. Aconchegou-se no
corpo morno ao lado do seu e suspirou cansado.
— Só tem uma coisa, Di. — viu o outro erguer o rosto
com uma expressão de duvida e teve de
conter um sorriso, porque achava que o outro ficava fofo quando fazia aquela
cara.
— Nada de bebida alcoólica. — ao ver a expressão se
transformar em surpresa com uma ponta de irritação, complementou. — É sim, você
é fraco pra bebida, ou não se lembra da nossa festa de aniversário de
casamento? Eu ficaria muito chateado se aquilo se repetisse, ainda mais porque
depois você passou uma semana se culpando pelo que disse perto do Paulo.
Lembra? — Diego escondeu o rosto no ombro do marido e bufou, irritado. Não
queria admitir, mas Marcelo tinha razão.
— Tá certo, mas pelo menos um champanhe sem álcool pra
comemorar. Eu sei que quando bebo faço um papelão e também sei que você só tá
querendo me ajudar a evitar fazer outra cena vergonhosa e que pode acabar
magoado o Paulo, mas, argh, tá bem! Sem bebida alcoólica. — sentiu um beijo ser
dado no topo da sua cabeça e o braço firme de Marcelo enlaçar sua cintura,
aproximando-os.
— Mas vou adiantar que seu presente “de verdade” só
vai vir no Sábado. Presente de aniversário e de Dia dos Namorados junto. —
acabou adormecendo rápido sob os cobertores quentes e com aquele abraço macio
ao redor de seu corpo.
***
Na manhã seguinte Marcelo entrou em contato com uma
metade dos convidados e Diego falou com a outra. O texto pronto de “É só um bolinho pra comemorar, não precisa
trazer nada, só de você vir já vai ser ótimo” foi repetido várias vezes até
ambos estarem cansados daquelas palavras.
Todos confirmaram e então Diego foi atrás de algum
lugar que fizesse um kit festa em cima da hora, tarefa difícil, já que a
maioria dos confeiteiros exigia pelo menos quinze dias de antecedência para a
encomenda. Mas na vigésima tentativa ele achou um lugar que trabalhava com
pedidos de ultima hora e deixou tudo encomendado. Passaria buscar na tarde do
dia 12.
Estava feliz de poder comemorar mais um aniversário de
Marcelo. Era mais um ano em que tinha o marido na sua vida, ao seu lado e agora
o ajudando a criar seu irmãozinho. Tanta coisa tinha acontecido naquele ano e
ainda estavam só na metade!
Diego evitava pensar naquele ser inominável que estava
atualmente na presidência do país, pois pensar nele lhe causava azia e enjôo.
Como alguém era tão desprezível e cruel pelo simples fato de que podia ser? Esperava
que as coisas dessem algum tipo de melhora no ano seguinte, apesar de estar bem
pessimista sobre o assunto.
Naquele momento estava preenchendo a autorização para
o passeio de Paulo e separando o valor pedido para custear a viagem. Colocou
tudo num saquinho plástico e entregou na mão do menino, dizendo para que
colocasse na mochila e só entregasse na mão da professora. Algo que Paulo obedeceu sem questionar.
Ainda era cedo, não precisava ir para a imobiliária e
estava tomando uma caneca de café enquanto checava uma lista que criou no
notebook com as coisas que precisava fazer para Paulo. Ticou “comprar casaco de frio” e “assinar autorização e separar dinheiro”.
Diego tinha percebido que se organizar daquela forma era o melhor para não se
esquecer de nada.
— Diego, tá na hora de eu ir pra escola! — ouviu o
menino dizer e enquanto desligava o notebook, perguntou se ele tinha pegado o
lanche que estava na geladeira, pedaços de pêra e uma caixinha de suco e o
pacotinho de biscoitos em cima da bancada, ao que o menino respondeu que sim.
— Tá certo, vamos lá então. Diz tchau pro Marcelo. — o
rapaz estava lavando a louça do café e sentiu um abraço torto ser dado em sua
cintura pelo menino seguido de um “Tchau!”
— Boa aula, rapazinho. — e então Diego se aproximou,
beijando o marido com suavidade e dizendo que da escola, ele iria direto para a
imobiliária.
— Vai ter uma reunião de pessoal hoje e eu quero
chegar cedo. A gente se vê a noite, qualquer coisa me manda uma mensagem. Te
amo. — ao que Marcelo sorrindo só respondeu “Também te amo”.
A vida deles tinha mudado completamente com a chegada
do menino, mas não era só isso. Marcelo podia dizer que se sentia mais próximo
de Diego. Ele amava muito aquele homem e estaria ali para ele, o quanto
precisasse, sempre.
Continua...
Nota da autora:
Nem sei se vocês lêem essas notas, mas eu continuo
colocando porque sim.
Enfim, o aniversário do Marcelo tá chegando! Vai ter
festinha com bolo! E claro, daqui alguns capítulos, vamos ter o “Dia dos
Namorados” (mas não na data, porque é dia de semana e aniversário do Marcelo).
Espero que estejam gostando da história até aqui, eu
tenho a previsão de narrar acontecimentos durante todo um ano, que no caso é
2019. Tem muita coisa programada pro futuro também.
E teve Joaquim e Francisco conversando sobre o
relacionamento. Às vezes, em um relacionamento que já dura algum tempo,
acontece um desanimo, uma fadiga de fazer certas coisas e isso é normal. O
melhor é que o Francisco sempre vai apoiar o Joaquim.
Bom, é isso, ainda não foi o capitulo com a
lemon/Orange/+18, mas estamos caminhando para lá, quando estiver chegando eu
aviso! (até porque tem gente que não curte este tipo de cena – e tá tudo bem –
e eu acho que devo avisar).
Enfim, mais um capítulo pronto,
Obrigada por ler até aqui e, por favor, deixe um
comentário, são muito importantes para eu saber o que vocês estão achando.
Até o próximo capítulo,
Perséfone Tenou
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