domingo, 8 de novembro de 2020

Lar é onde o coração está - Capitulo 12

Após se despedirem de Rosário, na sexta-feira, Diego colocou Paulo para dormir e depois de tomarem um banho, ele e Marcelo também foram se deitar, afinal, no sábado eles iria fazer o jantar de comemoração de um ano de casados e tinham um bocado de coisas para adiantar até o horário combinado. Antes de pegar no sono, Diego comentou amuado que gostaria de ter tido mais tempo para preparar tudo, mas ficou impossível com o trabalho e os cuidados com o menino.

– Estou feliz de ter ele aqui em casa, mas é que... Nesse último mês as coisas não saíram bem como eu tinha planejado. – falou enquanto colocava um braço embaixo do travesseiro e olhava pro marido.


– Eu sempre ouvi que quando se tem criança em casa a rotina muda e a gente acabou de confirmar na prática que é verdade. O lado positivo é que ele é um garoto bonzinho e comportado. – Marcelo tirou uma mecha de cabelo da testa de Diego enquanto via as pálpebras dele irem pesando aos poucos.


***


Acordaram cedo e enquanto Diego preparava os pratos que iriam ao forno por volta das 18h00, Marcelo lavava a casa. Quando Paulo acordou, por volta das 9h00, quase deu um encontrão em Marcelo enquanto estava a caminho do banheiro.


– Opa rapaz, cuidado!  – ficou alguns segundos encarando o outro que empunhava um rodo coberto com um pano de chão. Tinha escutado o irmão e Marcelo conversarem sobre uma festa dali alguns dias e chegou à conclusão de que era hoje.


Após trocar de roupa, voltou ao corredor, mas Marcelo já estava em outro cômodo, continuando com a faxina. Rumou então para a pequena cozinha e viu o irmão ocupado com alguma coisa na batedeira.


Ao notar a presença do menino, Diego desligou o eletrodoméstico e fez um gesto para que ele sentasse em uma das cadeiras.


– Bom dia, Paulo. O que vai querer pro café? – olhou pro irmão, que exibia uma expressão a qual já tinha visto antes no rosto da mãe. Ele não sabia o nome, mas era como se algo estivesse mordendo ele por dentro.


– Bom dia. Tudo bem, eu me viro. – poder dizer aquelas palavras foi um alivio incrível, pois, durante a noite, teve outro pesadelo, no qual sua voz havia desaparecido de novo e desta vez; para sempre.


Apenas pediu a caixa de sucrilhos e uma tigela do armário alto, depois pegou a caixa de leite e tigela e colher. Retornou para a mesa e se serviu de cereal e leite, começando a comer, e quando Diego perguntou se ele não gostaria de esquentar o leite, respondeu “gosto assim mesmo, obrigado”.


Ficou alguns segundos encarando a independência do irmão caçula e digerindo as poucas palavras que ele lhe disse. Mas logo teve a atenção retomada para a receita que estava fazendo, enquanto ouvia Marcelo cumprimentar alguém que passava na rua, já que ele estava lavando a área da frente.


Eles se viravam bem com as tarefas de casa, ambos cozinhavam e faziam a limpeza dos cômodos de forma justa. Ligou de novo a batedeira, enquanto guardava alguns ingredientes que já havia usado, de volta na geladeira. Ao passar perto da mesa, sentiu um impulso de fazer um cafuné na cabeça de Paulo e assim que fez, viu o menino erguer aqueles grandes olhos castanhos e sorrir, um fiozinho de leite escorrendo pelo queixo.


Sorriu de volta e pegou um guardanapo que estava nas costas da cadeira para limpar a boca do menino. Ontem tinha feito um mês que estavam com Paulo em casa e Diego já não conseguia mais imaginar sua vida sem o menino andando pela casa ou sentando no sofá ao lado deles para assistir tevê.


***


Fechou o registro e enrolou a mangueira, para em seguida entrar de novo na casa. A batedeira tinha sido desligada e Marcelo viu Diego em pé perto da pequena bancada próxima ao fogão despejando a massa num refratário.


Esperou até que Diego colocasse a peça de vidro sobre a bancada e então o abraçou pela cintura e beijou-o na curva do pescoço, recebendo um risinho baixo em resposta e um afago no rosto.


– O que você tá preparando? – perguntou mais pra começar uma conversa, pois já tinha visto o outro preparar aquele prato varias vezes.


– Torta de frango. E pra Mayara, Joana e a Lola eu tou fazendo uma salada de grão de bico e kibe assado de carne de soja e de sobremesa um pavê, que sim é pra comer. – comentou rindo.


– Tá quase tudo pronto, digo, os grãos de bico ainda estão de molho e... – teve a frase cortada por um beijo morno depositado nos lábios e em resposta entreabriu os seus, deixando a língua do marido adentrar em sua boca e podia ter permitido que a coisa avançasse, mas então o microondas apitou.


– Mais tarde a gente continua, tá bom? – sussurrou enquanto virava dentro do abraço que Marcelo ainda fazia em sua cintura e o beijava com ternura, ao mesmo tempo em que fazia um carinho no rosto dele.


– Feliz aniversário, um ano de casados! – falou animado enquanto via Paulo surgir pelo pequeno corredor que levava ao espaço da sala/cozinha.


– Oi rapaz, tá tudo bem? – ainda sentia Marcelo abraçá-lo, mas com um pouco menos de pressão. Viu o menino que já tinha trocado o pijama por um conjunto de camiseta e bermuda aproximar-se o encarando com aqueles grandes olhos castanhos.


– Eu quero ajudar. – sorriu ao ouvir a frase e trocando um olhar rápido com o marido, foi até onde o irmãozinho estava, pegando o regador de plástico embaixo da bancada no caminho.


– Que acha de regar as plantas ali no quintal de trás? Tá tão calor, elas precisam de água. – entregou o objeto na mão de Paulo e o instruiu a usar a torneira no canto da parede, próxima a porta do quintal e viu o menino sair todo feliz.


Quando ouviu a porta dos fundos fechar, olhou pro marido e sorriu, como se dissesse “E eu posso com esse garoto?” e em seguida, fez aquele tique nervoso de começar a mordiscar a pelinha do lábio inferior, sendo repreendido com gentileza por Marcelo que murmurou “Pare de morder o lábio ou vai machucar” e em seguida lhe dar um beijo na têmpora e ir fazer outra tarefa da casa, mas não sem antes ouvir Diego responder emburrado “Eu não estou mordendo!”


***


Letícia estacionou na frente da casa de Mayara e a viu sair acompanhada de duas senhoras simpáticas de certa idade. Uma tinha a pele morena, como a da moça e a outra era negra. A primeira exibia um corte de cabelo curto, como o seu e a outra tinha um Black Power prateado na cabeça.


– Boa noite Letícia... Desculpa, eu esqueci de te dizer que... As minhas mães também foram convidadas, você se incomoda de elas irem com a gente? – ouviu Mayara perguntar há alguns metros de distancia das duas senhoras.


– Problema nenhum! Eu vou adorar conhecer elas. – as duas velhinhas entraram no banco de trás do carro e Letícia logo descobriu que a senhora indígena se chamava Dolores, “Lola, meu bem” e a senhora Black Power prateado era Joana. Ficou claro que Mayara não havia falado que elas talvez estivessem namorando, pois as duas senhoras se referiram a Letícia apenas como “amiga da filha”. Mas tudo bem, tinha tempo para conquistar o coração de Mayara.


Rumaram para a casa de Diego e Marcelo auxiliada pelo GPS e Letícia achou bonitinho como Joana falava “essa coisinha sabe mesmo pra onde vamos?” ao que ouviu Lola responder “Claro que sabe, Jo, você precisa se atualizar!”


***


Francisco e Joaquim também iam para o jantar de aniversário, mas as coisas estavam meio tensas entre os dois. O ex de Francisco, Mauro, tinha ligado pra ele mais cedo e eles conversaram por quase uma hora, para ciúmes de Joaquim, que sabia que lá no fundo o outro ainda tinha sentimentos pelo ex.


– Quin, eu juro que eu não sinto mais nada por ele. O Mauro ligou pra me convidar pra ser padrinho no casamento dele com o namorado mês que vem! A gente já tá junto há uns quatro anos e você ainda fica com essa neura de que eu vou te largar e voltar pro Mauro há qualquer momento. – parou num semáforo e tentou pegar a mão do namorado, que a puxou pra longe.


– Você pode falar que é paranoia minha, mas eu não vou conseguir acreditar até ele mudar pra outro estado e ainda assim... – gostava muito de Francisco, mas tinha aquele medo de que para o outro ele não passasse de um substituto temporário até o ex voltar. Fungou e sentiu os olhos arderem, mas não ia se permitir chorar, isso seria sinal de derrota, pelo menos na sua cabeça era assim que as coisas pareciam. O sinal abriu.


– Olha, pensa um pouco comigo. Nós estamos juntos há quatro anos, eu nunca fiz nada que sequer desse a ideia de que fui infiel, eu gosto de você Joaquim, caramba! Eu te amo, homem! E você sabe disso tão bem quanto eu. Também sei que você veio de um relacionamento abusivo e sei que por isso é difícil confiar, mas hoje o que eu sinto pelo Mauro é só amizade mesmo. Foi bom enquanto eu namorei com ele? Não vou mentir, foi, mas acabou e eu não tenho remorsos. – tentou pegar a mão do outro uma segunda vez, conseguindo e então, apertando-a com carinho dentro da sua.


– Desculpa por eu ser tão... Sei lá! paranoico eu acho. É que é difícil mesmo aceitar que você... – estacionou na frente da casa dos amigos e então se inclinou e beijou o namorado nos lábios com urgência. Quando se afastou, viu o rosto bonitinho dele vermelho e uma lágrima espiando no canto do olho, a qual secou com a ponta do indicador.


– Não tem nada de errado em se sentir inseguro e eu não vou te julgar por isso, mas você precisa confiar em mim, tá bom? – ficou observando o rosto miúdo e vermelho pelo choro sufocado, os cachos loiros caindo em desalinho pela testa e os olhos claros e brilhantes. Caramba, como amava aquele homem!


– Agora pega um lenço de papel no porta-luvas, assua esse nariz e vamos entrar. Eu quero que você conheça meus amigos e tenho certeza que eles vão adorar conhecer você também.


Desceram do carro no momento em que Letícia estacionava atrás deles. Quando todos se juntaram na frente do portão, começaram a rir pela coincidência. Francisco reconheceu Joana e Lola e perguntou se aquela moça bonita era a pequena Mayara, ao que a moça respondeu que sim com um meneio de cabeça envergonhado. Tocaram a campainha e Diego saiu na porta para recebê-los.


Seria uma grande noite.


Continua...


 


Nota da autora:


Bom gente, eu fiz uma nota no capítulo anterior e gostaria de saber se vocês tem interesse que eu faça outras no futuro. Como vocês devem ter notado, essa história é lenta, como todo slice of life (história sobre o cotidiano) costuma ser e aos poucos eu estou acrescentando novos personagens a narrativa – nos próximos capítulos teremos mais da Mayara com a Letícia, do Francisco com o Joaquim e da Lola com a Joana e claro, O Diego com o Marcelo e o Paulo.


O fato é que, eu estipulei algumas medidas base para os capítulos. Eles costuma ter 5 páginas de Word em espaçamento de 1,5, o que é um grande diferencial para mim, já que eu costumo escrever de 15 a 17 páginas sem espaçamento. Mas resolvi tentar esse outro formato, pra ser mais prático na leitura.


Se um dia eu lançar essa história na Amazon, talvez compile os capítulos para torná-los mais longos.


Enfim, eu quero agradecer as pessoas que deixaram comentários, CidaCardCaptor, Ngostadefanfic e MayMalfoy_, vocês são demais! Porque acredite, sem os comentários de vocês, eu acho que não teria lançado esse capítulo aqui.


Então, muito obrigada pelo apoio e por acompanhar esse meu projeto no qual eu estou me esforçando para manter um ritmo de atualização semanal – que quem me conhece pessoalmente e sabe dos problemas com os quais eu lido tem ideia do quanto isso é desafiador.


Semana que vem teremos o desenvolvimento do jantar, muita coisa vai acontecer e acredite, eu tenho uns plot twists (viradas de roteiro) na manga para o futuro.


Obrigada e até semana que vem!

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