domingo, 20 de dezembro de 2020

Lar é onde o coração está - capítulo 17

 Naquela tarde, quando chegou da imobiliária, ouviu Paulo contar sobre seu dia na escola. O menino estava animado e ansioso pra voltar no dia seguinte. Ficou feliz de saber que o garoto tinha feito amizade, mas, também percebeu que em certo momento o menino deixou transparecer um momento de tristeza, mas foi rápido demais pra Diego perguntar qualquer coisa. 

Mayara estava se despedindo e já ia saindo, quando esbarrou com Marcelo, que havia acabado de chegar e lhe ofereceu uma carona de volta pra casa, a qual a moça aceitou. 

– Dá tchau pra Mayara e vai tomar um banho, mocinho. – declarou Diego enquanto afagava os cabelos do irmão, que disse animado “Tchau não, até amanhã, May!” e em seguida correu para o banheiro, fechando a porta com um som abafado. Na sala, os três adultos riram. 

Marcelo deu um beijo rápido no marido e disse que já voltava. 

*** 

No carro, Mayara contou sobre o dia de Paulo na escola e a tarde com ela e observou como um único dia em um ambiente diferente parecia ter influenciado de forma positiva na vidinha do menino. 

– Ele mudou bastante desde que chegou pra gente em Janeiro. Na semana que ele veio morar lá em casa, o Paulo era tão assustado que se uma porta batesse, ele pulava meio metro. Era de cortar o coração. – comentou Marcelo enquanto parava num sinal. 

– Sim, eu me lembro de quando conheci ele. Caramba, até parece que faz bem mais tempo. Mas, quando o Paulo me contava sobre o dia dele, teve um momento em que pareceu ficar triste, sabe? Ele comentou que um menino pediu pra professora trocar ele de lugar e que... O derrubou no intervalo. – Mayara sentiu o amigo lançar um olhar surpreso.

– O menino machucou ele? – o sinal abriu e Marcelo voltou a dirigir, enquanto ouvia Mayara responder que não, pareceu que foi só um esbarrão e que “alguns meninos são assim mesmo, meio agressivos”.

– Quando eu voltar pra casa vou falar com o Paulo, pra se isso voltar a acontecer, ele precisa contar pra gente. – não acreditava naquela baboseira idiota de “meninos são assim mesmo” e “isso forma caráter”, a única coisa que aquele tipo de comportamento forma era pessoas retraídas e agressivas.

Conversaram amenidades, Mayara falou das mães e da loja de sabonetes, cujo movimento estava meio fraco, mas mesmo assim elas não desistiam e sobre um encontro que teria no final de semana com Letícia. 

– Ela parece legal. – Marcelo comentou enquanto fazia uma curva para entrar na rua onde Mayara morava. A luz da frente estava acesa, Joana sempre a deixava ligada quando a filha ainda não tinha voltado. 

– E ela é. Ainda está muito cedo pra eu dizer que temos um relacionamento, mas, eu gosto da companhia dela. – o carro estacionou em frente a casa e Mayara agradeceu a carona e se despediu, dando um beijo no rosto do amigo. 

– Até amanhã, Ma. Diz pro Di que eu mandei um beijo e obrigada pela carona. – ele esperou até ver a moça entrar na casa e apagar a luz, para só então ir embora. 

***

Do outro lado da cidade, Joaquim olhava o transito da sacada do apartamento enquanto bebia uma garrafa de água. Francisco ainda não tinha voltado do trabalho e por isso ele estava ansioso. Tinha feito o jantar, mas agora a comida já havia esfriado em cima da mesa e ele perdera o apetite. E também tinha aquela outra coisa que aconteceu mais cedo. 

Ouviu o click da chave na fechadura e olhou por sobre o ombro, desanimado. As coisas estavam meio mornas entre eles e Joaquim achava que a culpa era dele e da sua desconfiança de que Francisco ainda tinha interesse no ex, Mauro. 

– Querido, cheguei! – ouviu o namorado dizer enquanto fechava a porta do apartamento. Em um dia normal, ele teria ido até lá e o beijado e perguntado como foi o dia e contado do seu, mas hoje não. 

– Quim, tudo bem? – sentiu a mão morna de Francisco afagar suas costas e tomou um gole de água, antes de tentar dizer qualquer coisa.

– Como foi o trabalho hoje? – perguntou numa tentativa de desviar a atenção, mas Francisco percebeu que havia algo errado além do seu atraso e da comida fria em cima da mesa. 

– Foi tudo bem, vamos começar a publicar um autor novo. Mas, como foi o seu dia? Aconteceu alguma coisa? – viu o namorado fungar enquanto apertava a ponte do nariz e esfregava as pálpebras. 

– A Helen fechou o consultório. – Joaquim era auxiliar de dentista desde que eles começaram a namorar, há mais de cinco anos. Surpreendeu-se com a notícia, já que Helen, a dentista com a qual Joaquim trabalhava, tinha o contratado logo que abriu o consultório e parecia não ter planos de desistir da carreira. 

– Mas, por quê? – ouviu o namorado contar que a moça ia fazer uma especialização na Alemanha por dois anos e por isso, precisava entregar o imóvel e dispensar os funcionários.

– Ela pediu desculpas, mas disse que era uma oportunidade importante pra ela e que não podia perder. Mas agora, né, eu tou desempregado por um período indeterminado. Só consigo imaginar onde vou arrumar outro emprego bom igual esse. – abraçou o namorado, abarcando-o dentro do seu peito e braços e sentindo o quão frágil ele parecia. 

Pensar que quando se conheceram, Joaquim tinha acabado de sair de um relacionamento abusivo e tinha medo de tudo. Foi ele quem o apresentou à Helen e ajudou com o curso de auxiliar de dentista. Joaquim tinha apenas o ensino médio completo e nunca havia pensado em ter uma profissão, na verdade, o ex-namorado dele dizia que ele “não precisava de um diploma”.

– Tá tudo bem, a editora fechou um contrato grande com um autor promissor e até você arrumar outro emprego, e isso vai acontecer logo, podemos viver do meu salário. Tá bom? – viu os olhos claros do namorado o encarar de baixo e um minúsculo sorriso surgir nos lábios rosados. Inclinou-se e o beijou com carinho.

Compreendia que Joaquim não teve uma vida fácil. Apanhava do pai diariamente até os 17 anos e quando enfim saiu de casa para morar com o primeiro namorado, passou a ser surrado por ele também e a ser controlado e humilhado. Ele demorou quase um ano para confiar em Francisco e ainda assim, às vezes ficava paranóico com a ideia de que o namorado o estava traindo. 

 – Não quero ser um peso... Eu estava me sentindo útil, sabe? – abraçou-o com mais força e beijou o topo da cabeça loira enquanto sussurrava que “está tudo bem, não tem nada de errado em chorar”. E sentiu Joaquim desabar contra seu peito. O rapaz tentava se fazer de forte, mas achava que ele devia ter o direito de se deixar ser vulnerável de vez em quando.

– Agora me escuta, você não é um peso. Você é o homem que eu amo e eu estou aqui pra você e vai dar tudo certo. A Helen ainda está na cidade? Então, liga pra ela amanhã e pede uma carta de recomendação. Isso vai te ajudar a arrumar outro emprego em um consultório de dentista. – olhou pra aquele rosto manchado de pequenos pontos vermelhos no nariz e nas bochechas e sentiu que tinha se apaixonado mais uma vez pelo namorado.

– Você fez o jantar? Desculpa ter chegado tarde, mas acho que ainda dá pra esquentar, né? – caminhou para dentro do apartamento, ainda abraçando Joaquim e então, pegou os pratos e colocou no micro-ondas. 

Serviu um pouco de suco para ambos e viu o namorado sentar numa das cadeiras, enquanto soltava ar pela boca num som de exaustão. Enquanto comiam, Francisco elogiou os pratos e segurou a mão de Joaquim por sobre a mesa com carinho. 

Depois de lavarem a louça, se aninharam no sofá pra ver um filme. Joaquim acabou cochilando e Francisco o acordou com cuidado, para irem dormir no quarto. Ele colocou o namorado na cama, cobriu e beijou-o na testa. Apagou a luz e voltou pra sala, onde mandou um sms para Marcelo.

“Oi, a gente pode conversar amanhã?” 

Na época da primeira faculdade que Francisco fez, ele e Marcelo foram colegas de turma. Mas, quando o amigo resolveu se especializar em acupuntura, ele desistiu do curso e foi estudar editoração e no fim, acabou conseguindo um emprego em uma grande editora da cidade. Com isso, tinham perdido o contato, até se reencontrarem naquele supermercado no começo do ano, mas era como se jamais tivessem ficado sem se falar. Considerava Marcelo um grande amigo e era um dos poucos nos quais ele sentia que podia confiar. 

Não esperava receber uma resposta assim tão rápida, mas o celular apitou e ele leu a mensagem “Claro, vamos almoçar juntos. Depois te mando o endereço do restaurante.”, Francisco sorriu enquanto olhava para a tela do celular. Achava que Joaquim precisava ter amigos e tinha um plano que talvez desse certo. 

*** 

Estava sentado na cama ao lado de Diego, que lia um contrato de aluguel para ver se não faltava nenhum dado, quando recebeu a mensagem. Era Francisco e ao ler a mensagem curta, ficou preocupado, mas achou melhor não perguntar por texto. 

– Amanhã eu vou almoçar com o Francisco. – declarou enquanto recolocava o celular no carregador, em cima da mesinha de cabeceira. Viu Diego guardar os contratos num envelope e colocá-lo dentro da pasta de couro que carregava.

– Diz pra ele que eu mandei um oi. – deitou-se no travesseiro, com o braço por baixo e encarou o marido que apagou o abajur. Marcelo tinha lhe contado sobre a situação que aconteceu com Paulo na escola e ele se comprometeu a conversar com o menino no dia seguinte e frisar que, se alguma coisa acontecesse, ele não deveria ter medo de contar para eles. 

– Amanhã é meu dia de levar o Paulo pra escola, né? Então melhor eu programar o alarme do celular. – disse enquanto estendia o braço para a mesinha de cabeceira e pescava o aparelho.

Ao recolocar o celular onde estava antes, sentiu o braço firme de Marcelo envolver sua cintura e um beijo morno ser depositado em seus lábios, o que fez com que seu baixo-ventre desse uma resposta firme, mas não era o bastante para ir até o fim, no entanto, correspondeu ao beijo enquanto enfiava a mão por dentro da roupa intima do marido, sentindo que ele fazia o mesmo na sua. 

Ofegando e sentindo o coração disparado no peito, Diego experimentou como os dedos firmes do outro corriam pela extensão da sua rigidez, apertando e estimulando toda a área, enquanto que ele fazia o mesmo com a de Marcelo e eles atingiram o ápice com uma pequena diferença de tempo e ambos ofegantes e corados limparam-se e adormeceram.  

Continua... 



Nota da autora: 

Como eu disse no capitulo anterior, vou aos poucos acrescentar os outros personagens na narrativa, neste capitulo aqui eu falei um pouco do Francisco e do Joaquim e vocês devem ter notado que uma pessoa que passa por um relacionamento abusivo fica desconfiada e cheia de receios, além da sensação de culpa. 

Quero agradecer as pessoas que estão acompanhando esta história e adiantar que, se tudo der certo, em 2021 eu pretendo retomar e terminar outras histórias que estão sendo publicadas (algumas que ainda não foram trazidas aqui para o wattpad).

Eu não sei quantos capítulos esta história aqui vai ter, digo, eu tenho um plano de roteiro, mas confesso que por varias vezes pensei em desistir dele e terminar ela logo, mas daí eu penso que tem potencial pra ser uma história longa e repenso se devo desistir de continuar seguindo o roteiro. 

Às vezes eu me pergunto se as pessoas gostam de “Slice of life” (que é esse tipo de história em que se narra o cotidiano, o dia-a-dia de personagens comuns), porque as pessoas costumam gostar de narrativas fantásticas e diferentes, coisas que as afastam da realidade, mas gente, eu gosto tanto de escrever sobre cotidiano! E cada vez que abro o site e vejo que alguém deixou um comentário dizendo que gostou e que está acompanhando, isso me deixa tão feliz!

Enfim, o capítulo que vem vai ser o último de 2020 (mas a história continuará sendo atualizada semanalmente) é só que, eu comecei esse projeto em Agosto e era pra ser uma historia curtinha de dias dos Pais e agora olha onde estamos; Capítulo 17!

Desculpem a nota longa, eu não costumo falar tanto assim, enfim, obrigada por acompanhar esse meu projeto e te convido a ler os outros da minha conta. Se você quiser, claro.


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