domingo, 19 de setembro de 2021

Lar é onde o coração está - capítulo 36

 


Joaquim ainda fazia uma caminhada ao redor do quarteirão antes de ir para o trabalho e naquela manhã não foi diferente. Estava distraído com os fones de ouvido e quando parou por alguns segundos para tomar um gole de água, foi surpreendido por uma mão pesada em seu ombro. Quando olhou para trás, sentiu gotas de suor frio escorrer por sua nuca e espinha.

– Oi Jô! Quanto tempo! – gaguejou uma resposta que acabou não saindo e se afastou alguns passos, para em seguida recomeçar a andar, sendo seguido de perto pelo outro. Pensou que ele estava preso, bom, foi o que tinham lhe contato há alguns anos.

– Jô, espera ai, eu só quero falar com você! – ao ver que não ia conseguir se livrar tão fácil daquele traste, Joaquim parou há alguns metros do prédio onde morava com Francisco e expirou cansado, o que deu tempo para que o outro se aproximasse.

– O que você está fazendo aqui, Marco? Disseram que você estava preso por agressão. – perguntou enquanto removia um dos fones de ouvido e olhava para o ex-namorado, um rosto que esperava jamais rever na vida.

O cara continuava fisicamente bonito, alto e forte, mas nada disso apagava os horrores que Joaquim passou enquanto estava com Marco. Só de vê-lo ali na sua frente, o rapaz começou a sentir uma dor aguda no estomago e palpitações. Marco lhe causou todo tipo de tortura e trauma na época em que namoravam, que era impossível não ter uma reação de mal estar ao vê-lo.

– Eu estou na condicional. Tava indo pro trabalho quando achei que era você e resolvi só vir e... – o loiro fez um gesto exigia silencio, notou como sua mão estava tremula, mas ainda assim se forçou a continuar, e após passar os dedos pelos cabelos, reuniu coragem e disse tudo que estava guardado por anos.

– Olha aqui Marco, de todas as pessoas do mundo, você é a ultima que eu gostaria de ver na minha frente. Você foi péssimo pra mim em tantas formas que eu nem sei como dizer, você ferrou com o meu psicológico de um jeito que eu levei anos, depois que terminamos pra conseguir entrar num novo relacionamento e o fato é que eu não quero nunca mais te ver ou ter qualquer tipo de contato com você. – esperou por um gesto de agressividade, o que sempre acontecia na época que namoravam e apesar de ter visto o outro fechar a mão em punho e fazer menção de um movimento, nada aconteceu.

– Caramba Jô, eu achei que a gente tava bem depois de... – O loiro rilhou os dentes, sentindo o pavor ser substituído pela raiva crescente. Como aquele idiota tinha a coragem de falar aquilo!

– Marco, você marcou a merda da letra do seu nome em mim... Com um estilete! Você me trancou dentro do apartamento por dois dias inteiros, não me deixou falar com meus amigos e não vamos nos esquecer daquela vez que você rasgou no meio todos os meus livros e eram edições de coleção. E claro, eu nem entrei na parte dos abusos físicos e daquela vez que eu acordei com você fazendo... – viu Marco fazer um gesto amplo com as mãos enquanto dizia “tá bom, eu já entendi!”

– Desculpa cara, eu só achei que a gente podia... – Joaquim fez um som de riso nasal e pensou que seria bom dar mais algumas voltas, para o caso do outro resolver segui-lo, afinal não queria que ele soubesse onde morava.

– O que a gente teve foi um enorme pesadelo, foi um completo erro, pelo menos pra mim, então eu não quero saber o que você está fazendo da vida, eu não quero pensar que você existe, entendeu? Como eu disse antes, você ferrou com o meu psicológico de um jeito que ficou até sequela! – a expressão de pura incredulidade na cara de Marco fez com que Joaquim se sentisse um pouco satisfeito, mas ele viu o outro fechar a mão direita em um punho mais uma vez e em um ato reflexo observou ao redor, para ver se havia pessoas que pudessem ajudá-lo caso precisasse. Havia algumas.

– Tá certo! Eu não me lembro das coisas desse jeito, na minha cabeça a gente teve um tempo legal juntos, mas tudo bem, até porque eu tou em outra agora, tou namorando uma garota e ela tem uma bela comissão de frente, se você me entende. – Marco fez um gesto que Joaquim preferiu fingir não ver.

O fato do ex ser bissexual não anulava a informação de que ele era um completo babaca. Pois é, pessoas do movimento LGBT podiam ser escrotas também e Joaquim aprendeu isso da pior forma.

– É assim mesmo, quem ferra com os outros nunca lembra. Não posso dizer que foi bom rever você, Marco, mas eu espero não te encontrar nunca mais no futuro. Adeus. E nunca mais me chame de “Jô”, esse apelido me dá enjoo. – começou a se afastar, mas não recolocou o fone de ouvido e lançou olhares por sobre o ombro até chegar em frente ao prédio de apartamentos, para dar mais uma volta no quarteirão.

Mas pela primeira vez desde que terminou com Marco, não sentiu medo dele. Na verdade, estava orgulhoso da sua própria coragem de dizer tudo aquilo. Subiu para o apartamento, tomou uma ducha e saiu para trabalhar com uma ideia em mente.

***

Diego acordou com o alarme do celular apitava informando que já eram 6h30, ao sentar na cama e olhar para o lado, encontrou Marcelo dormindo e sorriu. Já era hora de chamar Paulo e fazê-lo se aprontar para a escola e como aquele era o seu dia de levar o menino, ele desligou o alarme e levantou da cama em silencio, deixando o marido dormindo.

Estava servindo cereal numa tigela para o menino quando Marcelo entrou na cozinha. Ele deu um agrado na cabeça de Paulo e um beijo na têmpora direita de Diego e em seguida um beijo demorado nos lábios, para em seguida pegar a cafeteira de dentro do armário e enchê-la com água e pó de café. “Quando você voltar de levar ele, o café tá pronto” informou Marcelo.

– Não esqueceu nada? Tá tudo na mochila? A Mayara vai te pegar no horário de sempre e até lá você... – aquilo tinha virado rotina, repassava o roteiro todos os dias com o menino e já começava a receber as respostas desaforadas da criança que não aguentava mais repetir a mesma coisa sempre.

– ...Eu espero dentro da escola até ela aparecer, eu já sei, eu já sei! – trocou um olhar divertido com o marido enquanto montava a lancheira do irmãozinho e o via lutar para amarrar o cadarço do tênis.

– Deixa que eu te ajudo... – mas foi impedido por Paulo que disse “eu consigo!”. Ele podia parecer um pouco “velho” para ainda estar aprendendo certas coisas simples, como amarrar os sapatos e ver as horas no relógio analógico, mas havia o fator da criação do garoto até o momento. Beatriz podia ter cuidado bem dele, mas parecia não ter ensinado certas coisas básicas.

– Hoje você tem muitos pacientes? – ouviu Diego perguntar, enquanto observava a cafeteira começar a coar o pó e gorgolejar água fervendo. Respondeu que não, talvez só uns três depois do almoço, no período da tarde.

– Eu também não tenho muitas visitas a imóveis hoje. Acho que vamos chegar em casa meio cedo, então. – Paulo terminou de amarrar o sapato e levantou, pegando a mochila em cima da mesa e chamando o irmão para ir, mas não sem antes dar um abraço em Marcelo, que lhe desejou um bom dia de aula.

***

E estava sendo um bom dia de aula mesmo. Eles aprendiam operações matemáticas simples, no momento, como somar, mas Emmanuel, o garoto chato que sempre implicava com Paulo, estava atirando bolinhas de papel em Agatha, mas sempre que a Profê Marta olhava, o menino disfarçava que estava resolvendo as contas.

Isso começou a irritar Paulo que olhou para a carteira vazia ao seu lado. Luís tinha faltado aquele dia e Agatha parecia triste, não só pelas bolinhas de papel, que agora povoavam o cabelo cheio e bonito da menina, não, era alguma outra coisa.

No intervalo, Paulo se aproximou da amiga e a convidou para lanchar com ele. Os dois estavam sentados numa das mesas de pedra no pátio e a menina lhe contou o que tinha acontecido. O pai não foi visitá-la naquele final de semana.

Os pais de Agatha tinham se separado há pouco tempo e tudo ainda era muito novo e doloroso para a garota, que não conseguia entender o que tinha acontecido, apesar da sua mãe, Vanessa, dizer sempre que não era culpa dela e que adultos às vezes precisam se afastar, para serem pais e mães melhores.

– Eu fiquei esperando ele o sábado inteiro e depois no domingo também. Toda vez que eu escutava o barulho de um carro, achava que era meu pai que tinha vindo me ver, mas não era. Acho que ele esqueceu de mim... – confessou a menina enquanto enxugava as lágrimas que teimavam em escorrer pelo rosto macio e bonito.

– Há há, seu pai te esqueceu porque você é esquisita! Feia e esquisita! Bem feito! Ele não deve mais querer saber de você! Ele esqueceu que você existe! – Emmanuel estava parado ás costas de Agatha, rindo e apontando e fazendo caretas, o que só fez com que a menina chorasse ainda mais e mais alto.

– Não é verdade! Meu pai gosta de mim! Você é mau! – Paulo, que já vinha se irritando com o outro desde o começo do ano letivo, sentiu que precisava fazer alguma coisa. Levantou, deu a volta na mesa e quando estava perto o bastante do outro menino, que era mais alto e mais encorpado que ele; deu um empurrão forte no peito de Emmanuel, que caiu de bunda no chão com uma expressão de surpresa no rosto. Como aquele nanico se atreveu a empurrá-lo?

– Seu anão de jardim, você vai ver só agora! – Emmanuel gritou enquanto se levantava e investia contra Paulo, jogando-o no chão. Os dois meninos se engalfinharam como animais, rolando pelo pátio e em certo momento Paulo acertou um soco no rosto do outro, com força bastante para causar dor, enquanto sua bochecha direita foi esfregada contra o cimento áspero, causando um ralado ardido.

Em resposta Paulo continuou socando e chutando a esmo, acertando alguns golpes em Emmanuel, que gritava coisas bem feias para ele, enquanto as outras crianças se juntavam ao redor dos dois, observando tudo com olhos arregalados.

A briga teria continuado por mais tempo se não fosse uma das serventes intervir e gritar para que mais adultos viessem ajudar a separar os dois. Paulo exibia um esfolado na bochecha esquerda que sangrava bastante e Emmanuel, um inchaço vermelho abaixo do olho esquerdo, além de um galo num dos lados da testa.

– Nunca mais fale aquilo pra Agatha de novo! – gritou o Paulo indignado, enquanto se remexia para se soltar das mãos dos professores, recebendo em resposta uma cusparada por parte do outro menino que o xingou de “fresco” e “doente”. Paulo não compreendeu o significado da primeira palavra e a segunda, ele entendeu de forma literal e se perguntou como bater no outro garoto o deixou doente?

Eles então foram arrastados para a diretoria, onde a secretária chamou os responsáveis de ambos. Era por volta das 10h00 e o sinal para voltar do intervalo tinha acabado de soar. Agatha voltou para a sala preocupada com Paulo, afinal, ele só fez aquilo para defendê-la.

Sentado na cadeira desconfortável no corredor da secretaria, Paulo começou a finalmente sentir a dor no rosto, a pele repuxava e ardia e ele levou os dedos a bochecha, sentindo um ardor dolorido. Enquanto que, algumas cadeiras de distancia, Emmanuel também parecia se dar conta de que estava machucado e lançava olhares de ódio mortal para o outro menino.

Seus pais lhe diziam que aquele garoto era doente, porque era criado por dois homens que eram sujos e ruins e que ele não deveria falar com ele, muito menos brincar com ele. Sabia que ao chegar em casa ia levar uma surra do pai e um castigo da mãe pelo que fez, “se meter em uma briga, imagina o que as pessoas da igreja vão falar!” Diria a mãe, enquanto o pai iria puni-lo por não ter ganhado, “Você é o que? Um fracote?”.

Emmanuel era o quinto de sete irmãos e ele odiava cada um deles, especialmente o bebê, Jeremias, que chorava o dia inteiro e tinha de dormir no seu quarto. Em casa era sempre alvo de cascudos e castigos e então, sempre que podia, descontava nos colegas da escola. Era fruto de um lar abusivo e violento, mas o menino ainda não sabia disso e só reproduzia os comportamentos agressivos que aprendia em casa.

– Oi, me ligaram pra vir buscar o Paulo, eu sou Marcelo, pode conferir na ficha dele, eu tenho autorização pra levá-lo. O que houve? Ah, tenho de falar com a diretora? Tudo bem. – Paulo sentiu seu coraçãozinho disparar no peito ao ouvir a voz do marido do irmão. Em parte estava aliviado, mas lá no fundo da sua cabeça de criança, havia uma voz que dizia que ele seria castigado pelo que fez.

Marcelo conversou com a diretora, uma mulher robusta com jeito de matrona e que usava o cabelo preto preso em um coque alto. Ela informou da situação, mas omitiu o fato de que Emmanuel estava provocando Agatha.

– Sinto muito, mas o Paulo receberá dois dias de suspensão. Não permitimos esse tipo de comportamento aqui na nossa escola. Agora, se o senhor puder assinar a documentação, poderá levar o menino, ele está suspenso e poderá retornar as aulas na quinta-feira. – Marcelo assinou, pensando no que fez o garoto que era tão bom e educado ter agredido outro coleguinha.

Quando saiam da escola, Paulo viu a mãe de Emmanuel chegando e em um gesto impulsivo, se escondeu atrás de Marcelo, que percebeu a reação do menino. Eles entraram no carro e após saírem da frente da escola, o acupunturista perguntou o que realmente tinha acontecido. E Paulo contou.

– Foi por isso que eu empurrei ele. Mas daí ele levantou e me bateu. Ele ficou enchendo a Agatha o dia inteiro e ela tava tão triste e daí ele foi e falou aquelas coisas ruins pra ela. Eu sou mau, Marcelo? – como responder aquela pergunta? O menino tinha feito o certo defendendo a amiguinha, mas, ao revidar acabou perdendo qualquer direito que pudesse ter.

– Não, você não é mau, Paulo. Mas saiba que violência não é a resposta. Na próxima vez que ele começar a fazer algo assim, vá chamar uma das professoras. Agora, vamos lá em casa limpar esse ralado e botar um curativo e depois, que tal a gente tomar um sorvete? – o rosto do menino se iluminou, mas logo o sorriso diminuiu.

– O Diego não vai ficar bravo comigo? – pode ver um quê de medo nos olhos do garoto e pensou que os vestígios deixados pelo falecido pai do menino ainda estavam enraizados nele.

– Não, ele não vai. Eu vou conversar com o Diego. Mas você pegou dois dias de suspensão, significa que não vai poder ir à escola e nem ver a Agatha ou o Luís. – o sorriso murchou mais um pouco, mas então o menino disse.

– O Emmanuel também pegou “supensão”? – não podia confirmar, mas disse que achava que sim, talvez até a mesma quantidade de dias que ele.

– Que bom. – o garoto disse enquanto olhava distraído pela janela. Ao ser perguntado do porque aquilo era bom, Paulo foi direto.

– Porque daí ele não vai estar lá pra encher a Agatha quando eu não estiver na escola. Ela é tão legal, eu não gosto de ver ela chorando. – Marcelo sorriu e pensou que o menino tinha um senso forte de justiça e carinho pelas amizades.

Após colocar o curativo e trocar o uniforme imundo por um conjunto de shorts e camiseta limpos, eles foram tomar o tal sorvete.

Enquanto via o menino encher a colher com o sorvete e comer com alegria, Marcelo começou a pensar no que diria a Diego, ao mesmo tempo em que enviava um whats para Mayara, informando que o menino já estava em casa, para que ela não tivesse de descobrir isso quando fosse buscá-lo na escola.

***

Quando Diego chegou em casa, achou que estava tudo normal, até que após Marcelo voltar do consultório, chamá-lo para conversarem em particular no quarto. Mayara continuava na sala com Paulo, que encarava o corredor com olhos arregalados de pavor.

– Como assim ele foi suspenso? – Diego disse, um pouco mais alto do que pretendia, para em seguida suspirar cansado e sentar na beira da cama. Ouviu toda a história narrada por Marcelo e no fim acabou concordando que apesar da punição, Paulo tinha feito algo nobre.

– Eu já conversei com ele sobre como deve reagir a esse tipo de situação no futuro. Ele vai contar pra professora, mas convenhamos que esse tal de Emmanuel estava pedindo. Ele vem infernizando o Paulo desde o começo do ano! – Diego concordou com um gesto de cabeça, mas complementou que, “ele precisa aprender que não é com violência que se resolve as coisas”, apesar de que secretamente estava orgulhoso do irmãozinho.

– E como a gente vai fazer com esses dois dias de suspensão? A Mayara pode vir mais cedo? Eu posso tirar uma folga da imobiliária num dos dias, mas no outro... – Marcelo sentou-se do seu lado e pegou sua mão com carinho e em resposta, Diego deitou a cabeça no ombro do outro, enquanto suspirava cansado.

– Eu só tenho pacientes à tarde amanhã, posso ficar com o Paulo até a Mayara chegar. Prometo que não vamos destruir a casa até ela chegar. – Diego riu e então beijou o marido com carinho, levantando enfim para se trocar.

– Mas Di, eu acho melhor você falar pro Paulo que não está bravo com ele. O garoto está morrendo de medo. – descreveu a expressão de pavor que viu mais cedo no rosto do menino.

– De mim? – Diego indagou enquanto removia a camisa e colocava uma camiseta larga. Aquela informação o atingiu como um soco na cara. O menino tinha medo dele.

Após se despedirem de Mayara e Marcelo dizer que ia levá-la para casa, Diego ficou sozinho com o irmãozinho. Colocou-o sentado no sofá e começou a conversar, repetindo o discurso da não-violência dito por Marcelo mais cedo e complementando que Paulo não precisava ter medo dele.

– Você pode me contar qualquer coisa que quiser, tá bom? Eu não estou bravo. Fiquei um pouco chateado, mas, também fiquei orgulhoso de saber que você defendeu a Agatha. Mas no futuro, nada mais de bater, está bem? – viu o menino concordar com um gesto de cabeça e um deja vu de quando se conheceram o atingiu. Ele abraçou o irmãozinho e afagou os cabelos cacheados do menino com carinho.

– Então... Você não tá bravo comigo, mesmo? – respondeu que não e sentiu o garoto relaxar dentro do abraço, como se um peso invisível tivesse sido retirado dos seus ombros.

Em poucos minutos o menino adormeceu ao seu lado no sofá e Diego se perguntou como as pessoas conseguiam ser bons pais, se crianças não vinha com um “manual de instruções”? A resposta era óbvia, a prática do dia a dia levava ao aperfeiçoamento.

***

Do outro lado da cidade, no apartamento de Francisco e Joaquim, o loiro que tinha retornado do trabalho há algumas horas, observava um local especifico de seu corpo no espelho. Aquela letra “M” pequena, agora de um vermelho desbotado e doentio, um pouco acima da sua nádega esquerda. Já tinha se decidido, só estava esperando Francisco chegar para contar a ele.

Quando ergueu o olhar, encontrou o outro em pé na porta do quarto, observando-o com uma expressão melancólica, afinal, ele sabia a história daquela marca horrível.

– Oi. – cumprimentou o loiro enquanto erguia a roupa intima novamente. Estava usando apenas mais uma peça além desta, uma camiseta de academia grande demais para ele. afinal, apesar de ser junho, ainda estava meio calor.

– Oi. Como foi seu dia? – Francisco entrou no quarto enquanto desatava o nó da gravata e se sentava na cama que dividam e ouvia Joaquim contar sobre o encontro com o ex e então, sobre suas decisões.

– Eu vou mudar meu trajeto de caminhada por uns tempos, não quero encontrar com ele de novo. e também deicidi que vou fazer uma tatuagem. Nada muito grande ou complexo, só... Eu não sei, uma estrela ou algo do tipo para cobrir esse... Negócio horrendo aqui. – falou enquanto apontava para o local na parte das costas.

– Você tem certeza? Tatuagem é uma coisa meio... pra sempre. – não queria desencorajá-lo, mas apenas que o loiro pensasse bem antes de tomar uma decisão. Viu-o sentar-se ao seu lado e sorrir daquele jeito que o tinha cativado há alguns anos. Tão radiante e sincero.

– Eu prefiro mil vezes ter algo que escolhi tatuado no meu corpo do que... Bom... Isso aqui. – Francisco beijou-o na testa e se levantou para tirar a roupa de trabalho, estava feliz de saber que o namorado tinha enfrentado o ex e deixado claro que não era mais a mesma pessoa de antes e aquela decisão da tatuagem era o ponto final para selar aquele passado horrível.

– Então eu te dou total apoio, Quim. – depois de trocar de roupa, retornou até a cama, onde se sentou e sentiu o loiro deitar a cabeça em seu colo, encarando-o com aqueles lindos olhos claros.

– Obrigado por me apoiar, é muito importante pra mim. – o ouviu dizer, enquanto começava a afagar aqueles fios claros e macios e respondia.

– Eu estou orgulhoso de você por tê-lo enfrentado. É muito bom ver que está se sentindo mais confiante. – então observou o namorado adormecer enquanto lhe fazia um cafuné e pensou no quanto eles tinham evoluído como pessoas e como casal, naqueles anos juntos.

Continua...

Nota da autora:

Yey, hoje tem capítulo!

O ponto alto desse aqui foi o Paulo dando uns supapos no Emmanuel. O pai da Agatha não ter ido visitar ela, é uma coisa que realmente acontece com vários filhos de pais separados, mas, como vocês puderam ver o Emmanuel também é fruto do meio onde vive, o 5º de sete filhos, sendo obrigado a dividir o quarto com o irmão bebê, cobrado pela mãe para manter uma “boa imagem para os outros” e pelo pai para “agir feito homem”, ele acaba descontando nos coleguinhas. Isso não quer dizer que ele é um bom menino, mas sim que o ambiente em que ele vive o tornou mal.

Por outro lado temos o Paulo, que ainda guarda vestígios de medo da época em que vivia com o pai e que transferiu isso para o Diego, que como irmão mais velho, é algo próximo daquela autoridade. Vai demorar um tempo pro menino ver que ele pode confiar em Diego e Marcelo e que não será fisicamente punido por algo que fizer.

Ainda tivemos o Joaquim revendo o Marco, o ex abusivo dele e dando um belo de um chega pra lá no cara. E sim, o Marco é bisseuxal, mas isso é só uma informação sobre ele, que pelo que vocês viram, não é um cara legal. Eu não pretendo trazer o ex de volta no futuro, ele fez só essa aparição pra dar continuidade a história. Já o ex do Francisco... Bom, veremos.

E sim, o Joaquim vai fazer uma tatuagem! Eu preciso pesquisar um pouco mais sobre procedimentos, preços, cuidados pós-procedimento e tudo o mais. Mas será em breve!

No próximo capítulo teremos um pouco de Mayara e Letícia, que agora estão um pouco mais evoluídas dentro do relacionamento e o desenrolar do resto dos personagens.

Obrigada por lerem até aqui,

E por favor, deixe um comentário, eles são muito importantes para eu saber o que vocês estão achando.

Até a próxima,

Perséfone Tenou


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