Ao chegar em casa, após
um dia exaustivo acompanhando possíveis clientes à imóveis, Diego não conseguiu
evitar de sorrir, ao ver Paulo andando na bicicleta pela extensão do
quarteirão. Ele ia até a última casa da esquina e voltava, exibindo uma
expressão de puro orgulho e satisfação, enquanto Mayara o observava encostada
no muro.
Quando a moça o viu
estacionar próximo a calçada, ela se levantou sorrindo e foi abraçá-lo, contando
que o menino ficou o dia todo ali fora andando na bicicleta.
Então era essa a surpresa
que Marcelo tinha falado?
– Diego, Diego, você viu?
Eu sei andar de bicicleta agora! – Paulo
veio gritando e correndo, enquanto empurrava a bicicleta, os cachinhos
castanhos saltitando com o movimento e brilhando com gotículas de suor. Quando
chegou perto o bastante, o menino lhe eu um abraço apertado, o qual Diego
retribuiu.
– Que legal. Parabéns
Paulo! Mas agora é hora de entrar e tomar um banho. Ele já comeu hoje, Mayara? –
a moça informou que com muito esforço, conseguiu fazer o garoto entrar para
tomar um café da tarde.
– Quando eu cheguei, ele
e o Marcelo já tinham almoçado, mas depois disso, ele não entrou pra nada,
exceto pra tomar café e fazer xixi uma vez, mas só foi comer porque eu prometi
um bolo de chocolate pra ele. – o garoto deu um grito de alegria e pegando
Diego pela mão, o puxou para dentro de casa dizendo “Eu guardei um pouco pra você e pro Marcelo! Vem, a Mayara fez um bolo
muito bom!” e por aquele período de tempo, a bicicleta foi esquecida na
calçada, mas logo recolhida por Mayara, que seguia os dois sorrindo.
***
A loja de sabonetes tinha
dois banheiros. Um social para os clientes, com apenas um lavabo e outro para
funcionários, com um chuveiro elétrico. Joaquim tomou um banho rápido quando
seu expediente acabou e vestiu a muda de roupas que tinha deixado na loja há
alguns dias.
E estava sentado em uma
das cadeiras próximas ao balcão de vidro, penteando o cabelo loiro
recém-lavado, quando viu o carro de Francisco estacionar na frente da loja.
Coletando seus pertences, saiu trancando a loja as suas costas e entrou no
carro, recebendo um beijo apaixonado em resposta.
– Oi, como foi seu dia? –
Joaquim deu de ombros, os dias na loja não eram ruins, mas também não era nada
incrível para ser relatado.
– Normal. E você, como
foi naquela reunião da editora? – viu Francisco suspirar cansado e soltar “um porre”, o que significava que ele não
queria falar do assunto.
– A gente vai sair pra
jantar ou você prefere ir pra casa? – sabia que o outro estava cansado, pois
pelas poucas vezes que Francisco lhe falou dessas reuniões, elas duravam 4
horas ou mais e eram sempre muito exaustivas.
– Não, vamos jantar fora.
A gente precisa sair juntos de vez em quando né? Eu sinto falta disso. E também,
eu quero te deixar feliz. – sentiu a mão firme e morna do namorado segurar a
sua por alguns segundos, enquanto o semáforo estava fechado e em resposta o
loiro apenas sorriu.
***
Comeram o bolo e
realmente, Mayara era uma ótima cozinheira. Enquanto Diego passava um café, ele
disse para o menino ir tomar banho, Paulo teimou por alguns minutos, fingindo
que não estava ouvindo, mas quando o irmão falou que ele poderia acompanhá-lo
quando fosse levar Mayara para casa e ver “a
vó Joana e a vó Lola”, o comportamento mudou e Paulo disparou pelo pequeno
corredor em direção ao banheiro.
– Ele tem estado meio
teimoso, sabe? – comentou o rapaz enquanto colocava o café na garrafa e ouvia o
som do portão abrindo, informando que o marido tinha chegado.
– É porque ele está
começando a ficar confortável e seguro com vocês. Crianças ficam mais soltas
quando sentem confiança no ambiente. Mas a gente sempre pode persuadir elas a
fazer as coisas, sem precisar gritar ou brigar. – disse Mayara, que apesar de
não estar exercendo a profissão, ainda era formada em pedagogia e entendia como
lidar com os pequenos.
– Boa noite! – Marcelo falou
enquanto depositava as chaves da casa numa tigela em cima de uma mesinha. Em
seguida ele correu o olhar pela pequena sala/cozinha e perguntou.
– Cadê o rapazinho? – como
que ouvindo a pergunta, a porta do banheiro se abriu e o menino veio correndo
em sua direção, trajando um daqueles pijamas do herói aracnídeo favorito. Paulo
pulou na direção de Marcelo, sendo carregado no colo, para em seguida ser
depositado sobre a bancada da cozinha, onde ficou sentado rindo baixinho.
– Guardou um pedaço de
bolo pra mim? – perguntou, apesar de ter visto que metade do bolo permanecia
sobre a mesa. O menino riu alto e disse que não.
– Eu comi tudo! – aquele
sorriso sincero e puro era o suficiente para recarregar as baterias de qualquer
um, pensou Marcelo, enquanto trocava um olhar cúmplice com o marido e Mayara.
– É? Então o que é aquilo
ali? – baixou o menino da bancada e o viu sentar-se em uma das cadeiras
próximas a mesa e cortar uma fatia grossa de bolo, a qual entregou para
Marcelo.
– A Mayara que fez, tá
muito bom! – fez um agrado nos cabelos do menino e sentou na cadeira ao lado
dele, para após dar uma boa mordida no bolo, perguntar se ele tinha andado
muito de bicicleta aquele dia.
– E como! Quase não quis
entrar pra tomar café da tarde e só foi no banheiro uma vez. Mas ele se
divertiu tanto, né Paulo? – Mayara olhou com ternura para o menino que estava
com o rosto coberto de farelos de bolo e que tomava um gole de suco.
– Mas rapaz, tem de
entrar pra comer! Se não você vai acabar desmaiando e caindo da bicicleta! Você
quer isso? Ou quer poder brincar bastante sem passar mal? – viu a expressão
apavorada do menino diante da simples menção de cair da bicicleta e percebeu
que o comentário tinha surtido efeito.
Conversaram por mais meia
hora e então Diego levou Mayara para casa, com Paulo instalado no banco de
trás.
***
Pararam no estacionamento
de um restaurante japonês que costumavam ir, mas que não visitavam há alguns
meses. Esperaram alguns minutos por uma mesa, pois apesar de ser dia de semana,
o restaurante estava lotado.
Enquanto faziam os
pedidos, Joaquim observava o rosto de Francisco. Ele parecia tão cansado e abatido,
o que fez com que pensasse que talvez pudessem tirar um final de semana de
folga.
– Estive pensando... Que
acha de a gente maratonar uns filmes esse final de semana? A gente estoura uma
pipoca e ficamos lá no quarto vendo uma série de filmes, a que você quiser. –
tocou a mão do namorado de forma sutil sobre a mesa, afastando-se ao ver que o
garçom se aproximava com os pedidos, mas se surpreendendo ao sentir que era Francisco
que agora segurava a sua mão e a apertava com carinho.
– Obrigado. – agradeceu ao
garçom e enquanto pegava os hachis com a mão direita, permanecia segurando a de
Joaquim com a esquerda. Não se preocupava com o que as outras pessoas no
restaurante pensariam, afinal, não as veria de novo nunca mais. Mas se
preocupava em demonstrar para o namorado que não tinha qualquer tipo de receio
em exibir o relacionamento.
– Parece uma ótima ideia.
Depois eu vejo o que tem no catalogo dos streamings que a gente assina e
podemos fazer isso este final de semana. – comeram enquanto conversavam sobre
amenidades, a animação de Joaquim com a futura tatuagem que faria naquele final
de semana e planos para saírem beber com Diego e Marcelo de novo no futuro.
Quando chegou a hora de
pedir a conta, Joaquim sugeriu que dividissem o valor, mas Francisco recusou,
dizendo que o outro já ia ter um gasto com a tatuagem no final de semana e que
deveria economizar.
– Eu não me sinto
confortável com você pagando tudo pra mim. – soltou o loiro enquanto tomava um
gole de água e torcia os lábios numa careta. As poucas vezes em que discutiram
foi por causa de dinheiro, mais especificamente pela mania de Francisco de não
deixá-lo pagar nada quando saiam juntos.
Viu o namorado chamar o
garçom e pedir que trouxesse a conta e pela primeira vez naquele dia, Joaquim
se sentiu incomodado.
– Olha, eu não estou
desprezando o seu dinheiro, é só que você começou um trabalho novo há pouco
tempo e eu acho que devia guardar um pouco do que ganha... – Francisco notou
que não estava conseguindo convencer o namorado que continuava com aquela
expressão irritada. Ele não sabia explicar, mas lá no fundo tinha aquele fiapo
de orgulho de cuidar de tudo, inclusive de Joaquim.
Viu Francisco passar o
cartão de crédito após ter dado aquela desculpa furada e sentiu que qualquer
desejo que tinha de estender a noite com o namorado havia passado por completo.
Ele não costumava se irritar, na verdade, relevava muita coisa pra evitar
discutir com Francisco, mas naquele momento sentiu que se abrisse a boca,
iniciaria uma discussão que não acabaria tão cedo.
No carro se manteve em
silencio e não respondeu quando Francisco lhe fez uma pergunta. No elevador
para o apartamento, o namorado tentou segurar sua mão e Joaquim se afastou
silencioso.
Ao entrarem no
apartamento, ouviu Francisco dizer que ia tomar um banho, mas não respondeu.
Sabia que talvez estivesse fazendo um papel mimado e infantil, mas não
conseguia controlar.
Por alguns segundos
naquele restaurante, foi como se tivesse voltado no passado, na época em que
ainda namorava Marco, claro que a situação era diferente, o outro controlava
cada centavo que Joaquim precisava gastar e em algumas vezes, só para
humilhá-lo, pagava os gastos, sempre jogando na sua cara mais tarde. Francisco
nunca fez isso, mas a lembrança ainda era recente e incomoda na mente do loiro.
Ouviu a porta do banheiro
se abrir, mas permaneceu na sala, fingindo assistir alguma coisa na tevê até
sua raiva passar. Ele não conseguia separar os traumas do relacionamento
anterior do que estava acontecendo agora e isso o deixava frustrado, porque
tinha a certeza de que estava destruindo algo bom.
Ao constar que já passava
das duas da manhã, resolveu ir dormir, pois tinha de acordar cedo no dia
seguinte pra trabalhar e acreditava que, cansado como Francisco estava, já
devia ter dormido.
Trocou de roupa e deitou
na cama com alguns centímetros de distancia do namorado. Estava começando a
cochilar quando sentiu o braço firme do outro envolver sua cintura com cuidado
e o ouviu sussurrar em seu ouvido.
– Desculpa. Eu não sabia
que isso era tão importante pra você. – Joaquim virou-se para encarar o namorado
e sentiu-se mal por ter sido tão cruel. O outro exibia um olhar triste e
culpado. Em resposta, o loiro acariciou o rosto do namorado com as costas da
mão e soltou um risinho sem graça e um suspiro cansado.
– Acho que eu exagerei,
me desculpa também. É só que... – baixou os olhos, procurando como terminar a
frase, mas foi surpreendido por Francisco que disse o nome do seu ex.
– É o Marco né? Rever ele
depois de tanto tempo despertou alguma coisa ruim ai dentro, certo? – Joaquim
concordou com um meneio de cabeça, percebendo que fez aquilo no restaurante de
forma automática.
– Eu sou todo ferrado. –
soltou por fim, suspirando uma segunda vez. Era como se tivesse um peso
invisível no peito, que estava se dissolvendo aos poucos. Sentiu o abraço de
Francisco se tornar mais firme e um beijo gentil ser depositado em sua testa.
– Você não é ferrado.
Você tem traumas e eu sabia disso quando te pedi em namoro. Mas, eu tou feliz
que a gente tá conversando sobre isso. Fiquei preocupado de você não querer
falar comigo. – Joaquim beijou o namorado nos lábios com receio, mas logo em
seguida aprofundou o contato enquanto experimentava a sensação dos dedos de
Francisco se enredando em seus cabelos.
Deixou-se ser despido e
recebeu um beijo em cada pedaço de pele descoberto, rindo quando os lábios do
outro roçaram em um ponto em que sentia cócegas. O calor úmido que se espalhava
por seu pescoço e tórax era delicioso e causava arrepios elétricos por todo seu
corpo.
– Acho melhor a gente não
ir até o fim hoje... Você tem de trabalhar amanhã e... – não deixou que o
namorado terminasse a frase, o enlaçou pelo pescoço beijando-o com desejo e em
seguida sussurrando “tá tudo bem, eu
quero”.
Eram esses pequenos
detalhes que Francisco fazia que dava o tom diferente do seu relacionamento
anterior, ele nunca o forçava e sempre se preocupava em também lhe dar prazer.
Francisco observou o
rapaz que estava ao seu lado e se apaixonou mais uma vez por ele. O loiro
exibia um sorriso lascivo e sensual enquanto lentamente esticava a mão até a
área do seu baixo-ventre, envolvendo a rigidez de Francisco com os dedos firmes
e iniciando uma masturbação lenta ao mesmo tempo em que o puxava para outro
beijo longo.
Quando os movimentos
ritmados pararam, Francisco se inclinou sobre o corpo abaixo do seu e tomou os
mamilos rijos do namorado com os lábios, sugando-os de forma lenta e arrancando
pequenos suspiros deliciados em resposta.
Joaquim sentia a própria
rigidez firme roçar com delicadeza entre o ventre de ambos, o que causava
pequenas ondas de choque elétrico por seu corpo. E por entre ofegos e suspiros,
apenas virando-se de lado, o loiro manifestou seu desejo de levassem aquilo
para outro nível.
Ouviu Francisco pegar as
coisas na gaveta da mesinha de cabeceira e experimentou a sensação fria do
lubrificante contra sua entrada e logo em seguida, a leve pressão morna que o
invadiu aos poucos.
Beijou o pescoço de
Joaquim enquanto segurava sua cintura com firmeza e adentrava naquele corpo
cálido e macio e quando haviam se tornado um, viu o loiro virar a cabeça para
trás e beijou-o nos lábios com desejo, suprimindo um gemido mais vocálico.
Fechou os olhos enquanto
sentia a rigidez cálida do namorado dentro de si e ao mesmo tempo, seu próprio
membro firme roçando contra os lençóis da cama, trazendo sensações
indescritíveis de prazer.
Quando os movimentos se
intensificaram, Joaquim olhou para trás e viu que Francisco estava de olhos
fechados, os lábios entreabertos ofegando, o bigode bonito salpicado de suor e
as sobrancelhas contraídas e quando sentiu um beijo ser depositado na sua nuca,
foi o momento em que o namorado despejou sua carga de prazer dentro do
preservativo.
Removeu-se com cuidado de
dentro do corpo macio a sua frente, descartou o preservativo na lixeira ao lado
da cama e então retornou para Joaquim, que ainda não havia atingido o ápice.
Após olhar por alguns segundos para as íris claras do namorado, Francisco
engolfou a rigidez do loiro em sua boca, iniciando uma felação lenta e
constante, sempre atento as reações do outro.
Ao sentir-se ser
envolvido por aquela cavidade morna e aveludada, Joaquim encheu os dedos com os
lençóis abaixo de si e ofegante apreciou o tratamento que lhe era dispensado,
vocalizando apenas para que o outro parasse quando sentiu que ia gozar.
Sua semente jorrou de
forma moderada sobre seu ventre nu e ele se sentiu saciado.
Após limpar os vestígios
do seu prazer, Joaquim acomodou-se ao lado de Francisco, ambos cansados e
sonolentos, mas felizes.
Estava quase cochilando
quando ouviu o loiro sussurrar de forma quase inaudível.
– Eu te amo. – em
resposta, apertou mais o abraço em volta da cintura nua do namorado e beijou-o
no topo da cabeça, apreciando o calor morno daquele corpo macio ao lado do seu.
– Também. – respondeu
Francisco para em seguida adormecer. Joaquim ficou acordado por mais algum
tempo, pensando em como às vezes seu comportamento paranoico quase colocava
tudo a perder. Mas ao mesmo tempo, agradecia em silencio a qualquer divindade
que existisse por ter colocado Francisco na sua vida.
Pois era a prova de que
ele tinha direito a uma nova chance de ser feliz.
Continua...
Nota da autora:
Gente dossel! Nem conto
como esse capítulo me deu trabalho.
Não o capitulo em si na
verdade, mas a quantidade de coisas ruins que me aconteceram nas últimas semanas
e me impediram de escrever ele no prazo. +eu estou enferrujada pra escrever
cena de sexo, acho. (digam o que acharam dessa, pfvr!)
Então vimos o Paulo
andando de bicicleta e o menino tá começando a ficar teimoso, o que é normal de
uma criança saudável.
E daí tivemos o Francisco
com o Joaquim no restaurante e toda aquela situação incomoda que trouxe de
volta flashbacks do passado do loiro. Pode ter parecido ridículo, mas para uma
pessoa que sai de um relacionamento abusivo, varias coisas podem disparar
gatilhos emocionais e elas acabam desenvolvendo sequelas psicológicas.
Minha ideia aqui é
mostrar que, apesar de o Francisco ser um ótimo namorado, o trauma do Joaquim
ainda vai assombrá-lo por um bom tempo, infelizmente.
Bom é isso gente,
capítulo 40! QUARENTA! Nunca pensei que essa história iria assim tão longe, mas
tá indo! Se tudo der certo no próximo capítulo vamos ter a dança de quadrilha
da escola do Paulo e futuramente... Dia dos namorados! (eu sei que é estranho
falar dessa data, sendo que este capítulo saiu em Dezembro, mas o cronograma da
história é diferente).
Enfim é isso, desculpem
pela demora – imprevistos parecem acontecer de caminhão aqui na minha vida –
mas, espero que tenham gostado do capítulo e, por favor, deixem um comentário!
Eles são muito importantes.
Ah, e se tudo der certo
em 2022 teremos novidades no quesito histórias originais novas!
Obrigada por ler e até o
próximo capítulo!
Perséfone Tenou
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