sexta-feira, 4 de fevereiro de 2022

Lar é onde o coração está - Capitulo 41


A suspensão de Paulo tinha chegado ao fim e o garoto acabava de descer do carro de Diego para entrar na escola, quando foi surpreendido por um abraço apertado de Agatha, que se comportava como se não o visse há anos, ao invés de só dois dias.



– Paulo, que saudades de você! – às costas do menino, a mãe da garota, Vanessa dava uma risadinha divertida e se aproximava do carro para conversar com Diego.

– Ela ficou muito preocupada com o Paulo. – A moça disse ao irmão do menino, que sorriu em resposta enquanto observava as duas crianças entrarem na escola.

– É, ele também ficou bem chateado de não poder vir pra escola e brincar com a Agatha e o Luís. – as vozes foram se distanciando e logo Paulo não ouviu mais a conversa, tendo sua atenção atraída pelos comentários da garota ao seu lado.

– O Emmanuel já chegou, sabe? Ele tava com uma cara de quem chupou limão, acho que levou um castigo do pai. E você? Seu irmão te deixou de castigo por causa da briga também? – Paulo então contou que não. Claro que Diego e Marcelo conversaram com ele sobre não usar a violência como forma de resolver as coisas, mas, não o castigaram, afinal, ele fez aquilo para proteger a amiguinha.

– Uau, seu irmão e o marido dele são muito legais! – estavam entrando na sala de aula quando deu um encontrão em alguém e ao erguer os olhos, sentiu um embrulho no estomago. Era Emmanuel.

– Sai da minha frente, nanico. – ouviu o outro menino rosnar e se afastou por instinto, mas Emmanuel não lhe disse mais nada ofensivo, como costumava fazer. Era como se ele tivesse perdido a fama de valentão ou algo do tipo.

Quando entraram na sala e se sentaram, a Profê Marta informou que após o intervalo eles iriam até a quadra ensaiar a quadrilha e que assim que todos tivessem entrado, ela faria o sorteio para ver quem seriam os noivos.

– A quadrilha é uma atração aqui da nossa escola, junto da quermesse que fazemos no sábado. Vai ter pescaria, barracas de comidas típicas, jogo de argolas e muito mais. E eu espero que vocês convidem seus pais ou responsáveis para vir visitar. – Luís sentou-se ao lado de Agatha, que estava entre ele e Paulo e cumprimentou o amigo, apontando para o curativo no rosto e murmurando “tá doendo ainda?” ao que o outro menino respondeu com um gesto de mão dizendo “nadinha”.

Emmanuel foi o ultimo a entrar na sala, alguns segundos após o sinal soar. Ele cruzou o espaço com a cabeça baixa e se sentou no fundo da sala sem dizer qualquer tipo de comentário “engraçadinho” como costumava fazer.

Marta sorteou os papéis da quadrilha e para felicidade dos três amigos, todos ganharam papéis importantes. Agatha seria a noivinha, Paulo, o noivo e Luís o padre. A professora explicou que ocorreram algumas modificações na quadrilha e agora não tinha mais a cena do noivo fugindo do casamento.

O dia seguiu tranquilo.

***

Do lado de fora da escola, algumas horas antes, Diego e Vanessa ainda conversavam e o rapaz perguntou se ela queria uma carona até em casa, já que era caminho para a imobiliária e a moça aceitou.

– E ai, planos para o dia dos namorados? É daqui algumas semanas. – ouviu a mãe de Agatha perguntar e acabou deixando escapar um suspiro chateado.

– Bem que eu queria, 12 de Junho é aniversário do Marcelo, mas com o Paulo em casa não consigo pensar em uma forma de comemorar como eu gostaria. Imagina se eu tenho coragem de pedir pra Mayara deixar de sair com a namorada pra tomar conta do meu irmãozinho? Acho que vamos ter de passar a data em casa mesmo. – ao se dar conta de como a frase soou, fez uma emenda rápida.

– Não que eu não goste de cuidar do Paulo, ele é um bom menino, mas é que, depois que ele chegou, a gente tá tendo de reorganizar muitas coisas... – pensou em complementar perguntando se Vanessa tinha planos para a data, mas logo se lembrou do divorcio recente e engoliu o resto da frase.

– Por que vocês não deixam ele pousar lá em casa de novo? – Diego ouviu a frase, mas levou alguns segundos para compreender.

– Ah não Vanessa, é muito abuso deixar ele na sua casa de novo! – estavam quase chegando na casa da moça.

– Imagina, abuso nenhum. A Agatha adorou quando ele dormiu lá, eles se divertiram tanto e também, seria bom pra tirar aquele gosto traumático que a ultima vez deixou em todo mundo. – um flashback da avó paterna de Paulo aparecendo com o conselheiro tutelar e levando o menino embora veio como um raio na mente de Diego, que enquanto estacionava ao lado da casa de Vanessa, concordou com um gesto de cabeça.

– É, tem razão. Mas você tem certeza de que não tem problema? Eu não falei isso esperando que você... – sentiu a mão suave de Vanessa sobre seu ombro e encarou aquelas íris negras e brilhantes que o observavam.

– Fui eu quem ofereceu Diego. Desde que me divorciei do Silas, estou curtindo um momento pra mim e aproveitando mais o tempo com a Agatha. Mas eu também sei como é tentar manter um relacionamento vivo quando se tem filhos, então saiba que não é nenhum abuso, eu estou oferecendo, entenda isso como um presente imaterial pra vocês. – ela abriu a porta e desceu, mas antes de entrar, confirmou data e horário no celular.

– O dia dos namorados cai numa quarta, então que tal vocês deixarem ele aqui no dia 14, sexta à noite e vir buscar no domingo a tarde, dia 16?  – Diego concordou e agradeceu novamente, ouvindo em resposta que “A Agatha vai ficar feliz”.

***

No intervalo, Agatha fez Paulo tirar o curativo porque ela queria “ver como ficou o estrago”. A menina e Luís estavam olhando perplexos para o ralado que já começava a cicatrizar na bochecha do outro menino, quando foram empurrados para os lados por um movimento brusco.

– O que é isso? O neném não aguentou uma briguinha? – era Emmanuel, que parecia ter recuperado sua postura de brigão. Em resposta, Paulo se levantou num pulo, enquanto recolocava o curativo e encarava o outro menino, alguns centímetros abaixo.

– Quer levar outra surra, Emmanuel? – não tinha mais medo do outro garoto, talvez só tivesse um pouco medo de acabar ganhando outra suspensão, mas não deixaria que aquele grandalhão percebesse isso.

– Não, meu pai disse que se eu sentar o braço em um pirralho magricela como você de novo, eu vou ser um covarde. – não tinha sido bem isso que o pai falou. Mas a ameaça foi clara “Se eu souber que você se meteu em briga de novo, te dou uma surra que vai te fazer ficar sem sentar por um mês!”.

– O Marcelo me disse que só covardes é que usam a violência pra resolver os problemas. – Também não tinha sido bem isso, foi mais algo como “A Violência é a saída dos covardes”.

– Marcelo? É o viado que mora com seu irmão viado? – tinha ouvido a mãe fofocar sobre os responsáveis de Paulo no portão da escola outro dia e a ouviu usar uma palavra menos “agressiva” para se referir a eles, mas, a ideia era a mesma.

– O que você falou do meu irmão e do Marcelo? – Paulo estava apertando as mãos em punhos e quase pronto para dar um soco de baixo para cima no outro menino, quando o sinal soou, informando o fim do intervalo.

– Melhor ir pra sala, noivinho-idiota ou eu posso acabar quebrando a promessa que fiz pro meu pai e te arrebentar na porrada aqui mesmo. – Emmanuel disse tentando se fazer de confiante, mas por um segundo sua voz tremeu, pois lá no fundo sabia que Paulo era um adversário a altura.

– Fica longe da gente Emmanuel ou da próxima vez, sou eu que vou te dar uns cascudos. – Paulo murmurou por entre dentes enquanto volta com os dois amigos para a sala de aula.

Por fora estava calmo, mas por dentro sentia que ia explodir de raiva.

***

Estava atendendo um paciente na clinica de acupuntura e quando foi acompanhá-lo até a porta, viu que o homem tinha trazido o filho. Um menino da idade de Paulo e que exibia uma arte interessante feita no cabelo. Um Homem-Aranha desenhado com tinturas e uma extensão de teia.

– Que legal esse cabelo, rapaz! – o menino sorriu envergonhado e o pai disse para que agradecesse, ao que o garoto murmurou um “obrigado”.

– Desculpa se eu vou ser inconveniente, mas, onde ele fez? É que o irmãozinho do meu marido é muito fã de Homem-Aranha também. – não, ele não falava de Diego para todo mundo, mas aquele paciente o conhecia há anos e sabia do relacionamento deles. Afinal, infelizmente, quando se lida com o publico há certas informações que você deve manter particulares.

– Rapaz, mas fui eu que fiz. Não te falei né? Eu sou barbeiro e com especialidade em arte em cabelo, o Ronaldo aqui gosta tanto desse “homiranha” ai que eu resolvi tentar fazer um agrado pro menino e... Ficou assim. A tintura é temporária, ela dura uma média de 15 dias e vai desbotando de vagar. Daí fica só o corte normal. – Ronaldo em resposta, sorriu orgulhoso ao ver o pai falando da arte no seu cabelo.

– Aqui o cartão do meu salão. Passa lá uma hora dessas, eu faço um desconto pra você. Não, claro que eu tenho de fazer! Você arrumou minhas costas! Trabalhar tanto tempo em pé ferra com a coluna da gente. – Marcelo pegou o cartão e perguntou se poderia tirar uma foto só do cabelo do menino, para mostrar a Paulo.

– Ele adora o personagem, a gente até fez a festa de aniversário dele esse ano com esse tema. – conversaram por mais alguns minutos e então o homem foi embora, levando junto o filho com o cabelo desenhado.

Marcelo enviou a foto pelo whatsapp para Diego com uma mensagem “Olha só esse cabelo, é do filho de um paciente, que disse que se eu levar o Paulo no salão pode fazer uma arte igual no cabelo dele. O que acha?

***

Tinham começado a ensaiar a quadrilha e foi uma grande confusão para o primeiro dia. Marta tentava ensinar a coreografia, mas sempre havia uma criança que virava para o lado oposto ou pisava no pé do coleguinha da frente. No fim, deram aquele dia de treino por encerrado.

E já estava quase na hora de ir embora, quando a Profê Marta passou nas carteiras entregando um pedaço de papel impresso onde se lia em letras maiúsculas “REUNIÃO DE PAIS E MESTRES” e embaixo o dia e o horário. Paulo sentiu orgulho de conseguir ler todas as informações e ao ouvir que deveriam entregar aos pais ou responsáveis, guardou sua copia dentro do caderno com cuidado.

– Profê Marta! – Luís ergueu a mão, chamando atenção dos demais alunos, já que ele quase nunca se manifestava em voz alta na classe.

– Sim? – ela se aproximou da mesa do menino e parou ao lado, observando.

– Meus pais estão cuidando da minha avó que está doente, bom, é a minha mãe que tá cuidando dela, porque meu pai trabalha, eu queria saber se... A minha irmã Miriam pode vir na reunião no lugar da minha mãe? – a avó de Luís ainda estava se recuperando da pneumonia que contraiu e o menino via como a mãe se dedicava à velhinha e quando enfim tirava um tempo para relaxar, estava sempre muito cansada. Ele tinha dó da mãe e queria ajudar.

– Claro que pode. A reunião será para conversar sobre o progresso de vocês neste primeiro semestre antes das férias. O importante é que alguém da sua família ou responsável venha para que eu possa conversar com eles sobre vocês. – Luís suspirou aliviado, pensando se Miriam iria poder vir. Mas era mais fácil pedir para a irmã do que para sua mãe.

O sinal soou estridente, informando que era hora de irem embora e todos saíram correndo porta a fora, as mochilinhas balançando e os sapatos batendo contra o piso até estarem fora da escola.

Mayara conversava com a irmã de Luís e a mãe de Agatha, quando foi abraçada por Paulo que em seguida ergueu o rosto sorrindo. Ao mesmo tempo, as outras duas crianças desataram a falar sobre a quadrilha e a reunião de pais e mestres para as duas mulheres e logo as três se despediram, levando seus pequenos cada um para um lado.

– E ai, como foi voltar pra escola depois de dois dias longe? – Paulo franziu o cenho numa expressão muito concentrada e em seguida soltou um “foi legal!”, o que fez Mayara rir.

– Mas... – segurava a mãozinha do menino enquanto atravessavam uma rua e percebeu um quê de incomodo naquela voz.

– “Mas” o que? Aconteceu alguma coisa ruim? – viu o garoto negar com um gesto forte e negativo de cabeça, no entanto, em seguida ele suspirou cansado e baixou a voz ao dizer.

– É o Emmanuel. – aquele menino de novo? Até quando aquele moleque ia infernizar a vida de Paulo?

– O que ele fez? – ouviu o menino conta da pequena discussão que tiveram no intervalo e pensou em vários conselhos para dar a Paulo, mas no fim, viu que não era necessário, quando o ouviu dizer, confiante.

– Eu não vou cair mais nessa dele me provocar e então eu bato nele e levo suspensão. Nunca mais mesmo! – o menino exibia uma expressão concentrada e séria, mas de um segundo para o outro mudou para um sorriso amplo e iluminado quando perguntou se poderia andar de bicicleta quando chegassem em casa.

E era isso que Mayara admirava nas crianças, a capacidade de deixar um assunto incômodo de lado e pensar em algo bom e divertido com a mesma rapidez.

Continua...

Nota da autora:

Oi gente,

Para quem acompanha semanalmente, sim, voltei das férias (se você está lendo isso muito tempo depois de postado, é só ignorar).

Pois bem, neste capítulo tivemos muito de Paulo, um pouquinho de Diego e Marcelo. Os planos pro dia dos Namorados já estão prontos e teremos quadrilha! Yey! E claro, futuramente, a reunião de pais e professores da turma do Paulo.

Como vocês devem ter notado, o Emmanuel é um valentão só na escola, em casa ele reprime seu ódio e tem pavor do pai que bate nele e nos irmãos. Claro, isso não justifica o garoto ser um valentão, mas, é parte da raiz do problema.

Quero agradecer cada pessoa que deixou um comentário nesta história, que pasmem, eu estou escrevendo desde 2020! E era pra ser uma oneshot de dia dos pais e bom, estamos no capitulo 41!

Mas enfim é isso, muito obrigada por ler até aqui e até o próximo capítulo. E se tiver interesse, leia minhas outras histórias completas aqui na conta.

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