O resto da semana passou e finalmente era
Domingo.
Dia dos Pais.
Diego achou estranho o fato de que Paulo
não ficou doente na sexta-feira daquela semana, como aconteceu em Maio, mas
então se lembrou que o padrasto não era um cara legal, nem com o menino que era
filho biológico!
No entanto ele não esperava o que estava
para acontecer naquele Domingo.
Por conta do habito de levantar cedo para
chamar o irmãozinho para ir à escola, Diego acordou as 6h30 como sempre, mas ao
olhar para o lado, descobriu que Marcelo já havia levantado.
Ele tomou banho e vestiu uma roupa de
ficar em casa e quando saiu do quarto, sentiu o cheiro do café fresco ao mesmo
tempo em que ouvia a voz animada do irmãozinho falando com Marcelo e enquanto
rumava até a pequena cozinha, acabou sorrindo.
— Ei, bom dia! — foi recepcionado pelo
marido enquanto recebia um abraço apertado de Paulo e via que a mesa do café já
estava posta.
— O que é isso tudo? Ainda não é nem meu
aniversário... — indagou enquanto fazia um agrado no cabelo do irmão e se
sentava em uma das cadeiras ao mesmo tempo em que o marido lhe servia o café.
— Não, mas é um dia importante... Né
Paulo? — o menino dava risadinhas animadas enquanto pegava alguma coisa que
estava escondida debaixo da mesa e colocava o embrulho na frente de Diego.
— O que é isso? — ele perguntou sorrindo
enquanto trocava um olhar com o marido, que respondeu “Esse é o seu. Eu já ganhei o meu”.
Ao abrir o pacote, encontrou um bloquinho
de notas no formato de uma gravata acompanhado de uma caneta, na capa do qual
podia se ler “Feliz dia dos Pais, do seu
filho” seguido do nome do garoto naquela caligrafia meio tremula de quem
ainda não tem total controle da escrita.
Em resposta, Diego sorriu e deu um abraço
no irmãozinho, que se apressou em dizer: “Eu
sei que você é meu irmão e que o Marcelo não é meu pai, mas, eu queria... Só...”
Diego sorriu e deu um beijo no topo da cabeça do menino, agradecendo pelo
presente.
— Eu gostei muito, de verdade. Vou guardar
pra sempre. — respondeu vendo o rosto do garoto se iluminar em pura alegria, e
em seguida, trocou um olhar com o marido que sorriu e comentou.
— Acordei lá pelas seis, não tava
conseguindo dormir... E daí eu esbarrei nesse carinha ai, que tava sentado lá
na sala, com os pacotinhos de presente na mão... Ai nós fomos juntos na padaria
e compramos tudo pro café.
Diego sugeriu de eles irem passear depois
do café e antes mesmo de escolherem o local, Paulo já estava animado só com a
idéia de sair e isso era compreensível, afinal durante as duas semanas de volta
as aulas o menino só foi da escola para a casa.
Enquanto Paulo foi trocar de roupa para
eles saírem, Diego ajudou Marcelo com a louça do café, ao mesmo tempo em que
comentava o quanto achou bonitinho o garoto ter dado uma lembrança de dia dos
pais para eles dois.
— Mas é até compreensível, não? Quero
dizer, seu padrasto nunca foi um exemplo de pai, e apesar de estarmos com ele
aqui em casa só há sete meses, eu e você demos mais suporte emocional e apoio
do que o Paulo recebeu a vida toda. — Marcelo colocou as xícaras no escorredor
de louça e exibindo um ar meio sonhador no rosto complementou.
— Eu fiquei feliz de saber que ele me
considera parte da família. — em resposta, sentiu Diego fazer um afago em seu
braço enquanto encostava a testa contra suas costas e ria baixinho.
— Mas você é parte da família, você é meu
marido... Então seria algo como um tio pro Paulo... — foi a vez de Marcelo rir
e responder “o melhor sobrinho que eu
poderia ter”.
O contato entre eles acabou levando-os a
uma troca de beijos inicialmente castos, mas que foram ficando mais tórridos
com o passar dos segundos e que quase culminaram em algo mais picante, se Diego
não tivesse cortado o contato, ao ouvir a campainha tocando.
Antes de se afastar para atender a porta,
ele murmurou um “desculpa” pro
marido, que em resposta só fez um gesto amplo com a mão, como se dissesse “ta tudo bem”. Eles vinham tentando
equilibrar a vida conjugal com a tarefa de criar Paulo e por mais obstáculos
que pudessem estar enfrentando, ainda conseguiam manter os sentimentos de
carinho e afeição um pelo outro.
Ao abrir a porta, Diego encontrou a
assistente social, Rosário, a qual não via há algum tempo. A cumprimentou e
permitiu que entrasse, perguntando se a moça aceitava uma xícara de café, “a gente acabou de fazer”.
— Vou aceitar, obrigada. Peço desculpas
por aparecer assim num domingo, no domingo do dia dos pais, mas é que eu estava
com vários casos para acompanhar, mas não podia deixar de vir ver como o Paulo
está. — ao ouvir a explicação da moça, os dois apenas sorriram e disseram que
estava tudo bem.
— Eu vou chamar ele. — informou Marcelo
que quando chegou no quarto do menino, o encontrou escolhendo a roupa que
usaria para saírem. No entanto, quando foi informado que a assistente social
estava lá para vê-lo, a expressão do garoto mudou de alegria para frustração e
ele praticamente se arrastou do quarto até a cozinha.
— Oi Paulo, tudo bem? Eu vim ver como você
está. — informou Rosário sorrindo, ao que o menino em resposta só esboçou um
sorriso enviesado e azedo. Ele ia sair, eles iam passear e agora aquela moça
apareceu e ia atrapalhar tudo!
— Então, como estão as coisas na escola? —
o menino não queria responder ele, queria que Rosário fosse embora para eles
saírem.
— Tá tudo bem. — respondeu lacônico
enquanto permanecia em pé na entrada da cozinha. Rosário sorriu e o convidou a
se sentar à mesa com ela e após alguns minutos de silencio o menino aceitou. Ele
não queria ficar falando da escola ou de se estava sendo bem cuidado ali
naquela casa, só queria sair para passear.
— E como estão as coisas aqui em casa? O
Diego e o Marcelo te tratam bem? Aconteceu alguma coisa que te deixou chateado?
— o menino olhou para a moça com uma expressão de desanimo e cansaço e suspirou
antes de responder de forma seca.
— Tá tudo bem. Não aconteceu nada ruim,
exceto a chata da minha avó por parte de pai que fica aparecendo aqui... Eu não
gosto dela. — e em seguida, suspirando desanimado Paulo emendou — Eu posso ir
agora?
Os outros dois adultos haviam se afastado,
para a assistente social fazer seu trabalho sem interrupções, mas Diego
precisou ir até a sala buscar algo e ouviu o menino respondendo de forma brusca.
— Ei rapazinho, seja educado com a
Rosário, ta bom? — em resposta Diego recebeu um olhar que era um misto de
frustração e irritação por parte do menino, mas viu a assistente social sorrir
e anotar algo na prancheta.
— Já vamos terminar, Paulo. Só mais um
pouquinho, ta? Eu preciso saber que está tudo bem com você, para não permitir
que te levem embora de novo. — perante a menção de ser arrancado daquela casa,
a postura do menino mudou e ele passou a ser mais educado ao responder as
perguntas da moça. Só de pensar em ir parar nas mãos da avó paterna de novo já
lhe dava pesadelos.
Rosário visitou o quarto do garoto, onde
olhou algumas gavetas, cadernos da escola e brinquedos. Em seguida, ela visitou
o banheiro e a sala de estar, conferindo alguns objetos aqui e ali. Diego tentava
manter certa distancia, mas a presença da moça o incomodava, afinal, se mesmo
depois de mais de seis meses, ela achasse que ali não era um bom ambiente para
o menino morar, poderia levá-lo embora... E ele achava que não conseguiria
aguentar isso.
— Certo, parece que está tudo nos
conformes. — anunciou a assistente social por fim, para alivio de Diego que
lançou um olhar cúmplice para o marido, o qual sorriu. E enquanto ele
acompanhava a moça até a porta, a ouviu perguntar sobre a avó de Paulo.
— Ela está assediando vocês pelo que eu
entendi? — ao que Diego, que apesar de não gostar nada de Zulmira, não queria
colocar mais lenha na fogueira, apenas desconversou, dizendo que a mulher
parecia se sentir sozinha e queria se reaproximar do neto.
— O problema é que o Paulo não quer ver
ela nem pintada de ouro. Também, depois do que ela fez ele passar naqueles dias
que esteve com ele, eu não o culpo. A gente decidiu que a decisão de falar ou
não com ela, tem de vir dele, mas até agora ele anda bem irredutível. —
comentou enquanto abria a porta e acompanhava a moça até o portão.
— É, aquilo foi bem complicado... Vou
torcer para que as coisas se ajeitem, mas preciso concordar que vocês estão
fazendo o certo dando a ele o poder da decisão. O Paulo parece estar feliz aqui
com vocês, bem mais saudável do que quando chegou pra gente no começo do ano. —
ouvir aquilo de alguém como Rosário fez Diego sorrir, pois ela lidava com casos
complicados envolvendo crianças todos os dias, então,se tinha dito que o garoto
parecia bem e saudável, devia ser verdade.
— Agora se me dá licença, eu tenho mais
algumas casas para visitar... — a moça já estava saindo, quando parou e
virou-se para encará-lo enquanto exibia um sorriso bonito e amplo e dizia. —
Feliz dia dos pais pra vocês.
***
Mayara se espreguiçou enquanto sentia o
calor morno de Letícia ao seu lado. Desde as bodas de sua mãe, ela vinha
dormindo bastante aos finais de semana na casa da namorada. A moça olhou para o
lado e encarou o rosto bonito e adormecido da outra. O jeito como os cabelos
curtos caiam delicados ao redor das bochechas, a forma como os lábios dela
estavam entreabertos e como as pálpebras se contraiam levemente durante o sono.
Pensando em retribuir toda o carinho que a
outra moça vinha oferecendo à ela, Mayara se levantou com cuidado da cama e
rumou até a cozinha, onde ligou a cafeteira e colocou algumas torradas
integrais na torradeira.
No entanto, enquanto ela esperava as
coisas ficarem prontas, sua mente foi ocupada por pensamentos incômodos e duvidosos,
fazendo-a se questionar se não estava fazendo algo errado dentro daquele
relacionamento.
Gostava muito de Letícia, podia até mesmo
arriscar dizer que já a amava, mas não se sentia muito apta para iniciar
qualquer tipo de contato mais intimo. A ultima vez que elas fizeram algo foi no
dia dos namorados, há quase dois meses e desde então, a outra moça vinha se
mostrando bastante compreensiva e paciente, mas Mayara sabia que a namorada
devia ter desejos que gostaria de satisfazer e ela gostaria de ser capaz de
poder ser aquela que os realizaria, mas, para ela, sexo não era algo tão
essencial num relacionamento.
— Bom dia. — se surpreendeu ao receber um
beijo suave na bochecha e ao olhar para o relógio de parede na cozinha, se deu
conta que devaneou sozinha por quase uma hora. As torradas há muito já haviam
sido ejetadas e a cafeteira tinha terminado de coar há tempos.
— Bom dia... Eu quis fazer uma surpresa
mas parece que me atrapalhei... Desculpe. — murmurou envergonhada enquanto
puxava uma grande quantidade dos cabelos longos sobre um dos ombros e começava
a trançá-los de forma impulsiva.
— Tá tudo bem, o café ainda ta quente e as
torradas parecem continuar crocantes. — Letícia se sentou a sua frente na mesa,
trajando uma regata larga pelas laterais da qual podia ver o contorno dos seios
diminutos e um par de shorts de malha largos, que exibiam suas coxas longas e
macias e Mayara olhou para aquela mulher a sua frente e pensou que, apesar de
não sentir vontade de fazer algo sexual com ela naquele momento, Letícia
despertava sentimentos nelas.
— Você tava tão distraída que eu ate me
preocupei. Ta tudo bem? — sorriu e desconversou, pois achava que se contasse
seus receios para a outra, poderia estragar aquele relacionamento. Afinal, o
ultimo que teve desandou exatamente porque ela foi sincera sobre como se
sentia.
Um novo toque suave, agora retirando
algumas mechas soltas de seu cabelo foi feito por Letícia, que em seguida a
puxou com delicadeza para perto de si, fazendo a outra moça sentar-se em seu
colo.
— Me diz uma coisa, May... A gente ta
junta nessa ou não? Porque se estamos, eu preciso que você seja sincera comigo
e que não guarde tudo para si... — um afago gentil foi feito na bochecha da
morena que suspirou cansada enquanto fechava os olhos e inclinava a cabeça em
direção aquele toque.
— Promete que não vai me julgar ta? —
encarou aqueles olhos profundos e bonitos da moça a sua frente e enfim criando
coragem contou sobre seu receio de não estar retribuindo o afeto que recebia
dentro do relacionamento.
— Eu já te falei que ta tudo bem, quando
você me quiser eu também vou querer você. Sexo não é tudo num relacionamento!
Ainda mais com alguém demi, como você. Eu gosto de estar com você e por
enquanto pra mim isso já basta... Mas se no futuro você quiser fazer algo mais
intimo, eu com certeza não vou recusar. — impelida pelas palavras de Letícia,
Mayara tomou com suavidade os lábios da outra com os seus, enquanto sentia as
mãos habilidosas da outra deslizar por suas costas e nuca.
Os beijos se tornaram mais ávidos e em
certo momento, Mayara sentiu uma das mãos da outra deslizar para a borda de sua
roupa intima, sem, no entanto, se aprofundar. Letícia partiu o contato e
encarando a moça sentada no seu colo que exibia uma expressão que era um misto
de excitação e surpresa.
— Você quer que eu continue? — perguntou
ao mesmo tempo em que se sentia sugada por aquelas grandes irises escuras e
hipnóticas. Ela não queria impor sua vontade a outra, pelo contrário, na ultima
vez que ficaram juntas, Letícia se satisfez apenas dando prazer à namorada.
Mayara por outro lado ainda estava
decodificando o pedido de permissão feito pela moça, já que nunca teve essa escolha
de decidir se queria ou não tomar parte em algo físico. Por fim, acabou
sorrindo e murmurando um sim, que acabou se misturando com um gemido
estrangulado conforme sentiu os dedos de Letícia adentrarem em sua roupa intima
e acariciarem com delicadeza aquela área secreta e úmida.
Manteve-se estimulando apenas a área
externa, lembrando-se de que na outra vez a moça pediu para que não a
penetrasse, nem mesmo com os dedos e em resposta, para sua surpresa, sentiu as
mãos mornas de Mayara deslizar timidamente por sob a sua regata larga, tomando seus
seios pequenos e macios nas palmas e causando uma onda de calafrios estáticos
por todo o corpo de Letícia.
Em resposta a estimulação, Mayara movia os
quadris contra os dígitos que a arreliavam naquele local tão particular, a
ponta do dedo médio de Letícia friccionando contra aquele ponto específico que
era a fonte de todo o prazer e então, a morena tomou os lábios da namorada mais
uma vez, abarcando a língua dela na sua, explorando o espaço úmido e morno
daquela cavidade enquanto sentia que muito em breve atingiria o ápice.
As mãos mornas ainda apertavam seus seios
com cuidado, os polegares fazendo pequenas carícias suaves nos mamilos ao mesmo
tempo em que a língua ávida se envolvia na sua e as coxas macias de Mayara se
apertavam ao redor das suas próprias na cadeira, indicando que a moça não
conseguiria aguentar muito mais.
E com um gemido sufocado e um movimento de
cabeça para trás, que espalhou os cabelos longos, negros e macios dela pelo ar,
Mayara enfim alcançou o êxtase e logo em seguida abraçou Letícia, escondendo o
rosto afogueado na curva do pescoço perfumado da outra.
— Isso foi...Foi... Uau. — ela murmurou
exaurida enquanto sentia o coração disparar acelerado no peito e sentia uma
única gota de suor escorrer por sua espinha e em resposta, experimentava a
sensação acolhedora do braço da namorada envolvendo sua cintura.
— Que bom que gostou. — respondeu a outra
sorrindo, mas se surpreendendo ao ver Mayara se afastar de repente e ainda
sentada em seu colo, encará-la com um olhar fixo e penetrante, ao que respondeu
“O que foi?”
— É a segunda vez que nós... Nós ficamos
juntas, e foi só eu que... Só eu que gozei. Isso não é justo! Eu preciso te
retribuir! — declarou por fim num tom de voz magoado e meio infantil, que fez
Letícia rir divertida e abraçá-la com carinho.
— Vão haver outras chances no futuro. Mas
vou te contar um segredo, só de te ver toda extasiada daquele jeito, pra mim já
foi o bastante, sério! Eu juro! — o olhar fixo de Mayara ainda exibia duvida,
mas aos poucos foi sendo substituído por carinho.
— Você foi a melhor coisa que aconteceu na
minha vida há anos, sabe? — confidenciou Mayara ao mesmo tempo em que saia do
colo da namorada, recebendo um tapinha gentil no traseiro assim que ficou em
pé.
— Idem. — respondeu Letícia, fazendo a
outra rir enquanto enchia duas canecas com café e as colocava sobre a mesa.
Pela primeira vez em anos Mayara sentia
que podia ser sincera sobre seus sentimentos e desejos, sem o medo de ser
julgada ou descartada. Letícia a entendia e a amava como ela era e agora tudo o
que ela queria era conseguir retribuir o sentimento no mesmo nível.
***
Ele se sentia o garoto mais feliz do
planeta, andando entre Marcelo e Diego, enquanto iam até o shopping. Apesar do
que Rosário disse sobre ele poder ser levado para outro lugar, no fim Diego o
tranquilizou e prometeu que isso nunca aconteceria.
— Eu nunca mais vou deixar ninguém tirar
você de nós, ta bem? Eu te prometo. — ele acreditou em Diego, não só porque ele
era um adulto, mas porque até aquele momento, o irmão nunca havia mentido para
ele.
— Que acha de a gente almoçar e daí ir ver
um filme? — Marcelo sugeriu, vendo o menino exibir um sorriso de pura alegria
no rosto, enquanto ouvia o marido concordar que era uma boa sugestão.
Acabaram escolhendo por um desenho que
estava em cartaz e após passarem numa daquelas lojas de departamento onde
compraram doces e outras coisa, a grande maioria para Paulo, mas das quais eles
também iriam aproveitar, entraram na sala e sentaram-se, cada um de um lado e o
menino no meio.
Tudo correu bem na sessão e talvez tivesse
sido um dia maravilhoso, se, quando as luzes se acenderam e eles estavam se
preparando para sair, algo desconfortável não tivesse acontecido.
Paulo disse que queria ir ao banheiro e
Marcelo se ofereceu para levá-lo enquanto Diego validava o ticket de
estacionamento. Antes de saírem da sala de cinema, eles trocaram um selinho e
não teria tido nenhum problema, se uma funcionária não tivesse aparecido
dizendo que aquele tipo de coisa “não era permitido ali dentro”*
— O que não é permitido? Eu dar um beijo
no meu marido? Eu quero falar com o gerente do cinema! — exigiu Diego, pois a
mulher só falou aquilo após Marcelo ter saído com o menino. E com um gesto
discreto, desbloqueou a câmera do celular enquanto ouvia a mulher complementar
os absurdos.
— Eu sou a gerente senhor e digo que aqui
é um espaço familiar e não permitimos esse tipo de manifestação imoral e
vergonhosa e... — Diego ergueu a mão em um sinal de silencio e após descartar a
sacola de lixo no latão, informou a moça que nunca mais voltaria a aquele
shopping. Além do que, já havia conseguido as provas que precisava, se
resolvesse levar um processo em frente. E então ele rumou para o guichê do
estacionamento sem olhar para trás, enquanto sentia seu estomago embrulhar de
dor.
Quando Marcelo e Paulo o encontraram,
Diego exibia uma expressão amarga que não passou despercebida pelo marido, mas
quando ele perguntou se houve algo, o rapaz apenas meneou a cabeça numa
negativa e murmurou que lhe contaria depois. Diego também pediu para Marcelo
dirigir, pois estava com dor de cabeça.
No banco de trás, Paulo havia adormecido e
ele não queria estragar o dia do menino contando sobre aquela situação
desconfortável que passou com uma escrota homofóbica.
Mas depois de chegarem em casa e colocarem
o menino na cama, mesmo sob os protestos de Diego de que ele deveria tomar um
banho antes, só ai ele contou ao marido o que aconteceu e após mostrar o áudio,
Marcelo expressou cada vez mais irritação no rosto.
— Que escrota! — ele disse por fim,
indignado, vendo Diego suspirar cansado e se jogar no sofá.
— Você... Quer abrir um B.O.? Se quiser eu
vou com você. — sugeriu Marcelo e Diego disse que estava ponderando se valeria
todo o estresse que aquilo causaria.
— Eu sei que vai ser estressante, mas eu
acho que você não devia deixar quieto, sabe? O que ela fez foi crime, a gente
não fez nada de errado... — segurou uma das mãos de Diego nas suas, enquanto
exibia uma expressão preocupada.
— Quer
saber, você tem razão, e é por isso que eu tenho de fazer alguma coisa. Claro
que eu tenho medo. Não por mim, eu já sofro com homofobia desde que me entendo
por gente, piorou depois que me assumi, mas eu já tenho uma casca grossa... Eu
me preocupo com o Paulo, ele vai acabar sofrendo por tabela... Mas preciso
mostrar pra ele que ainda existe alguns recursos para recorrer. — Marcelo
sentou-se ao lado do marido e o abraçou pelos ombros, permitindo que deitasse a
cabeça em seu ombro.
— A gente não pode por ele numa redoma de
vidro, Di, em algum momento ele vai acabar esbarrando em gente como essa mulher
do cinema ou aquele menino violento lá da escola. Tudo o que podemos fazer é
dar apoio e mostrar pra ele que estamos aqui, para o que ele precisar. Acho que
isso faz parte de ser bons pais, não é mesmo? — ouviu Diego fungar baixinho e
soltar um riso abafado.
— Eu só não quero que ele se machuque só
por nós o estarmos criando. Mas você tem razão, vamos dar todo o apoio que ele
precisar. — suspirou cansado e fechou os olhos, abrindo-os com lentidão ao
sentir um beijo suave ser dado em seus lábios.
— Obrigado por me ajudar a segurar essa
barra que é criar uma criança. — agradeceu Diego, recebendo em resposta outro
beijo apaixonado.
Enquanto eles conseguissem se manter
firmes, tudo ficaria bem.
Continua...
Nota da autora:
Pois bem gente,
Se você está lendo este capítulo na semana
do dia do dia 18/05/2024, eu lhe devo desculpas (mais uma vez), o fato é que
estive doente – yep, de novo – desta vez foi uma crise de sinusite que afetou
minha vista e me obrigou a colocar todos os meus projetos em hiato por um tempo
indeterminado. – nem sei dizer o quão feliz estou de voltar a escrever!
Agora vamos ao capitulo!
Dia dos pais certo? E foi um dia bem
tumultuado, com a visita da assistente social, Rosário e um passeio no shopping
que acabou de forma bem amarga. Inclusive, a situação envolvendo a gerente do
cinema foi baseada num caso real que aconteceu em São Paulo em 2023, só que com
duas moças, mas de resto a situação foi exatamente a mesma.
Também tivemos uma ceninha meio quente
entre Mayara e Letícia, que eu espero que vocês tenham gostado (eu pretendo
fazer mais cenas delas assim, mas pelo fato de a Mayara ser demissexual, eu
simplesmente não posso fazer esse tipo de cena acontecer direto, já que nesta
orientação sexual a pessoa tem de sentir uma enorme conexão emocional com a
outra para fazer algo físico – mas vai ter mais algumas cenas delas no futuro).
E aqui vale uma pequena observação, que eu
não inseri na história para não quebrar a narrativa, mas, quando se vai ter
algum contato dos dedos com esta parte específica do corpo de pessoas que tem
uma vagina, vale citar que é indispensável cortar as unhas da mão (todas elas)
e higienizar os dedos muito bem, pois a mucosa da vulva além de delicada e
frágil, também pode contrair infecções através de contato sem higienização.
Neste capítulo não teve Joaquim e
Francisco mas prometo que no próximo terá!
Se você leu até aqui, por favor, deixe um
comentário, eles são muito importantes para eu saber o que você está achando da
história.
Muito obrigada por ler mais este capítulo
e eu prometo que vou tentar retomar meu ritmo e periodicidade de publicações!
Até o próximo capítulo,
Perséfone Tenou
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