Joaquim estava ouvindo uma história
engraçada sobre um dia em que Francisco e alguns amigos pularam o muro da
escola para matar aula e irem ao cinema, quando um dos rapazes que os
cumprimentou ao chegarem se aproximou, dando um tapa estalado no ombro de
Francisco enquanto se abaixava para sussurrar algo em seu ouvido.
— Viu quem tá aqui Fran? Darcy. — e no
mesmo instante Joaquim percebeu que aquela pessoa que o outro mencionou devia
ter sido importante para o namorado na adolescência, pois ele ficou corado e
começou a procurar pelo espaço.
— Onde está? Eu não estou vendo. — então
Joaquim acompanhou o dedo do amigo de Francisco que apontava para uma linda e
alta mulher loira do outro lado do campo, a qual ao vê-los acenou e começou a
caminhar na direção deles.
— Não pode ser, Darcy era... — ao que o
amigo cortou, dizendo. — Aquela ali é Darcy, a mesma pessoa que estudou com a
gente no ensino médio. É ela também quem vai celebrar o casamento do Maurício. —
Joaquim começou a juntar os pontos, com base nos fragmentos de conversa que
coletou naqueles poucos segundos, mas antes que pudesse perguntar algo mais,
Darcy tinha chegado até a mesa e abraçava seu namorado com força, sufocando-o contra
seios volumosos.
— Francisco! Meu Deus, eu achei que nunca
mais ia te ver de novo! E olha pra você, tá igualzinho, digo, com exceção desse
espanador embaixo do nariz. — quando ela enfim o soltou, o rapaz encarou aquela
moça linda a sua frente, a pele macia e láctea, os longos cabelos loiros e
sedosos que caiam com delicadeza pelos ombros e o corpo bonito e curvilíneo e
enfim disse.
— Darcy, você está linda. Não que não
fosse antes, mas agora está ainda mais linda. — Francisco viu ela corar, sorrir
e piscar com as pestanas longas e os cílios compridos e ainda estava digerindo
a informação de que aquela moça linda e o rapaz franzino que tinha namorado na
época da escola eram a mesma pessoa, quando a ouviu indagar com um quê de
orgulho na voz.
— Mesmo? Vou acreditar porque foi você
quem disse. E quem é esse ratinho assustado ai atrás? — Joaquim ficou em pé,
mas mal batia no meio da cintura de Darcy, pois além de alta, a moça estava
usando saltos. Ela o abraçou, assim como tinha feito com Francisco enquanto o
ouvia apresentar o loiro como seu namorado.
— Mas ele é uma fofura Fran, tão petit, eu
queria guardar você num potinho, menino! — o loiro sorriu sem jeito, mas apesar
de não conseguir explicar, se sentiu mais confortável sendo apresentado para
Darcy do que ao Maurício.
— Darcy, quando foi que você... — não
sabia como terminar a frase sem o risco de falar algo ofensivo, mas para seu
alívio, a moça complementou enquanto sorria, esticando os lábios macios e
recobertos de batom vermelho.
— Um pouco depois que eu terminei o ensino
médio. Eu não me sentia confortável ou segura com o meu antigo eu, então
comecei a trabalhar em vários bicos e aos poucos juntar dinheiro, fui fazendo a
transição aos poucos, mas valeu a pena. Minha auto-estima nunca esteve tão bem
e eu jamais me senti tão feliz quanto agora. E o melhor, pude manter meu nome
de registro... Eu gosto dele, sabe? — enquanto falava, a moça olhava por sobre
o ombro de Francisco, encarando Joaquim e pela enésima vez naquele dia ele
sentiu aquele olhar, mas estava começando a aprender a ignorá-lo.
— Bom, foi maravilhoso rever você e
conhecer esse rapazinho fofo que você trouxe, mas acho que tenho de ir ali
celebrar um casamento. Nós nos falamos depois da cerimônia tá? Aí eu não me
acostumei ver você com esse bigode, Francisco! — e com essa ultima declaração,
Darcy voltou para o pequeno gazebo improvisado que foi montado para os noivos
celebrarem seus votos.
Quando Francisco se sentou ao seu lado,
ainda exibindo uma expressão de pura perplexidade no rosto, Joaquim não perdeu
tempo e murmurou: — Vocês namoraram, não é? Antes dela transicionar? Realmente
Francisco, você tem mesmo um tipo! Petit e de cabelo loiro. Será que não vai me
trocar por outro algum um dia? — a pergunta era para ter soado com um quê de
sarcasmo, mas saiu carregada de receio e mágoa.
Em resposta, Francisco olhou para o rosto
do namorado e sentiu vontade de pedi-lo em casamento mais uma vez ali mesmo, só
para provar que não queria outra pessoa que não fosse Joaquim, mas, além de
correr o risco de ouvir mais um sonoro “não”, poderia acabar estragando a festa
de Maurício, por isso, se contentou em beijar o loiro com carinho nos lábios e
abraçá-lo pelos ombros, fazendo-o deitar a cabeça no seu ombro enquanto
sussurrava.
— Eu nunca vou te trocar por outra pessoa,
Quim. Quando eu namorei com Darcy, a gente era jovem demais, nem sabíamos
direito o que queríamos, só que gostávamos de passar um tempo juntos. Ela tem
um lugar especial no meu coração, não vou mentir, mas é um lugar reservado para
amizades. Já você, é a pessoa que eu mais amo no mundo, então seu espaço é bem
maior. — o loiro fungou baixinho e se repreendeu mentalmente por ser tão
grudento, até pensou em expressar um pedido de desculpas, mas, desistiu ao
ouvir o namorado dizer.
— Não tem do que se desculpar, eu entendo
seus receios. Mas eu nunca vou te abandonar, tá bom? — teria sido um momento
sublime, se a caixa de som não tivesse feito aquele som torturante de
microfonia enquanto Darcy experimentava o áudio.
— Oi pessoal, vamos começar a celebração
da união de Maurício e Wagner, se puderem se aproximar mais eu fico agradecida.
— os convidados se aglomeraram ao redor do gazebo improvisado e Joaquim teve de
conter uma nova crise de risos quando viu os dois noivos usando ternos brancos
e em seguida o grande bolo de casamento, em pé no centro de uma mesa na área da
frente da casa da chácara, sobre o qual havia dois noivinhos de plástico que
também vestiam ternos brancos. “O cúmulo
da cafonice” — pensou enquanto fingia um acesso de tosse.
Francisco ao seu lado se preocupou por
alguns segundos, até notar o que o namorado estava tentando disfarçar e então,
soltando um risinho cúmplice, voltou a olhar para a celebração, onde Darcy falava
coisas bonitas e comoventes sobre o casal, ao mesmo tempo em que uma senhora
obesa chorava copiosamente. A mulher, se ele se lembrava bem, era tia de
Maurício, que o criou depois que os pais faleceram.
Vieram então os votos dos noivos e nesse
momento Joaquim se afastou alguns metros para rir, porque achava aquela coisa
toda muito ridícula. Não o fato de dois homens estarem se casando, ele sabia a
luta que tinha sido para que pessoas LGBT+ pudessem oficializar a união. Não,
era toda a encenação da festa com bolo, roupas combinando, discursos e votos
açucarados, tudo isso o deixava incomodado. Achava tão artificial e forçado, mas
mais uma vez, era apenas um convidado e precisava manter a discrição.
— Eu os declaro casados. Os noivos podem
se beijar agora. — todos os convidados aplaudiram por longos minutos enquanto
os dois rapazes se beijavam apaixonados e Joaquim ainda estava afastado, quando
sentiu um toque gentil em seu cotovelo e ao olhar para trás, encontrou uma
jovem baixinha de pele parda que lhe pareceu bastante familiar e ao avistar a
outra, de cabelo cor-de-rosa Chanel, teve certeza de quem elas eram.
— Tânia? — a moça que tocou seu braço
sorriu, fazendo o piercing que tinha no lábio se mover para cima alguns
centímetros, ao mesmo tempo em que chamava a outra, Anastácia, para se
aproximar.
— Achei que era você. O garoto que dormiu
durante a tatuagem. Stacia, olha só quem eu achei aqui. Você tem feito os
cuidados pós-procedimento direitinho? Cicatrizou bem? — o loiro sorriu e
respondeu que sim, a tatuagem tinha ficado boa e sem nenhuma complicação.
— Vocês... Conhecem os noivos? — perguntou
receoso enquanto via Francisco se aproximar e as apresentava ao namorado.
— Somos amigas do Wagner, ele é um cliente
antigo do estúdio. — Informou Anastácia que estava linda em uma combinação de
corpet de couro e um vestido escuro na altura dos joelhos. Tânia então fez a
mesma pergunta, ao que Joaquim respondeu meio desconfortável, “Meu namorado é ex de um dos noivos”.
Um silêncio incômodo caiu sobre o grupo
por alguns segundos, mas a tensão foi dispersada quando a tia de Maurício
informou que os noivos iam cortar o bolo, o que fez com que todos se aglomerassem
ao redor da longa mesa de festa.
Após a distribuição dos pedaços, o
primeiro do qual Maurício fez questão de entregar para a tia em um gesto que
Joaquim achou genuíno, apesar de toda a acidez do outro para com ele, os
convidados voltaram a se sentar às mesas, enquanto o DJ colocava algo para
tocar e algumas pessoas se reuniam no gramado para dançar.
Eles acabaram se sentando com Tânia e
Anastácia, que demonstraram ter um repertório de assuntos que ia muito além da
área de tatuagem e body piercing e em certo momento, Darcy apareceu com uma
bandeja que ela disse ter “pego
emprestado” da cozinha, com algumas taças de champanhe.
— Adoro os noivos, mas, não dá pra
aguentar uma festa de casamento inteira sem beber um pouco, né, fofinho? — ela
disse enquanto entregava uma taça para Joaquim, ao mesmo tempo em que fazia
Francisco lhe ceder o lugar ao lado do rapaz.
—
Fran, vai lá conversar com os rapazes, pode deixar que a gente cuida bem do seu
fofinho, né meninas? — ao que as duas tatuadoras concordaram com meneios de
cabeça e sorrisos.
Meio contrariado, Francisco acabou
aceitando a sugestão, pois não via aqueles amigos há anos e também queria
conversar um pouco com o marido de Maurício, já que mal conhecia o cara.
***
Na casa de Agatha, havia chegado a hora de
estourar o bexigão. Vanessa se recusou a colocar talco, farinha ou qualquer
outra coisa que só servisse para fazer sujeira e atrapalhar as crianças.
E falando em crianças, ela foi bem clara
com os adultos, especialmente os parentes, de que aquela era uma brincadeira
apenas para Agatha e seus amiguinhos, pois tinha pavor do que algum daqueles
“cavalos velhos” como dizia seu falecido pai, poderia fazer si se enfiasse no
meio dos pequenos. Alguém poderia sair machucado.
Após posicionar uma cadeira perto da
bexiga cheia de balas e brindes de plástico, a moça se aproximou da filha e
segurando na mão da menina, que por sua vez segurava uma faca de cozinha,
ajudou-a a furar o látex.
Desde a situação com o urso de pelúcia,
Agatha não estava mais tão animada com a festa de aniversário e apesar de se
esforçar para fingir que ainda se sentia feliz, acabava deixando transparecer a
magoa que ficou do pai em alguns momentos e enquanto ela olhava para aquela
enorme bexiga de látex e encostava a ponta da faca contra a superfície
esticada, a menina engoliu mais um pouco de mágoa e forçou um sorriso, que no
fundo, lhe causou dor.
Confete caiu sobre a cabeça das crianças
que esperavam animadas pelo estouro e ao olhar para baixo, Vanessa viu aquele
monte de pequenos pontos de papel colorido cobrindo a cabeça dos pequenos
convidados que se ocupavam em coletar os brindes espalhados.
Enquanto os convidados mergulhavam para
pegar os brindes no chão, a aniversariante saiu para a área da frente, onde em um
pequeno espaço havia uma espécie de canil improvisado, no qual a mãe colocava a
cachorrinha, Laika, quando ia lavar a área e naquele dia o bichinho estava ali,
para não pular nos convidados.
Agatha entrou no pequeno espaço e se
agachou ao lado da cachorrinha, lhe fazendo um agrado enquanto segurava o
choro. Ela queria que todos fossem embora, porque a festa não tinha mais graça.
Laika lambeu a mão da menina e fez alguns sons que pareciam de solidariedade
enquanto encostava a cabeça contra o corpo da garota.
Os convidados então começaram a ir embora.
Todos perguntavam onde a aniversariante havia ido, mas a garota permaneceu
quieta junto de Laika e ouviu a mãe se desculpar e se despedir. E então só
restaram Paulo, Luís, seus responsáveis,
Mayara Letícia.
— Vanessa, você quer... Ajuda para arrumar
as coisas? — Agatha ouviu Diego perguntar e então a menina espiou por sobre a
mureta baixa que dividia o pequeno canil com a área da frente.
— Oi. — quando ela olhou para o lado, viu Paulo e Luís em pé, próximos da
mureta e em resposta, a menina deu um pequeno sorriso triste.
— Oi. Eu vou sair. — ela informou ao mesmo
tempo em que libertava Laika, que correu pela área com alegria.
— Ele não veio. — a menina declarou
enquanto sentia que ia começar a chorar. Ela esperou que os dois garotos
fizessem algum comentário como “eu sabia”
e “você devia ter adivinhado isso”,
mas tudo o que Paulo respondeu foi “Eu vi”.
A menina enfim se desmanchou em lágrimas e
foi amparada pelos dois amiguinhos, que a abraçaram meio sem jeito, enquanto
trocavam olhares tristes por sobre a cabeça dela.
— Nunca mais eu quero ver o meu pai! Eu
odeio ele! — Agatha declarou por fim, enxugando o rosto com certa violência e
em seguida puxando os dois meninos pelos pulsos de volta para dentro da casa.
— Mãe, sobrou bolo? A gente quer bolo! —
ela declarou para em seguida observar Vanessa cortar algumas fatias e servir
aos três e antes que pudessem começar a comer, Agatha se virou para Diego e
Miriam e perguntou se os meninos podiam ficar um pouco mais.
— Claro, querida, é seu aniversário. —
respondeu Diego enquanto via a expressão séria e triste no rosto do irmãozinho.
— Não tem problema mesmo? Digo vocês devem
ter outras coisas para fazer... — Vanessa sugeriu desconfortável, recebendo em
resposta, negativas gentis dos presentes.
Enquanto os três iam brincar no pula-pula
que só seria buscado pela empresa de brinquedos infláveis no dia seguinte,
Vanessa convidou os adultos para virem até a cozinha, tomarem um café.
E apesar de manter uma expressão
tranquila, tudo o que passava pela cabeça da moça era o quanto o seu ex ia
escutar dela.
***
Do outro lado da cidade, no casamento,
Joaquim se viu sozinho com as três mulheres e sentiu certo desespero, mas que logo
foi substituído por alívio. Darcy era comunicativa e simpática e o deixou
confortável em poucos segundos de conversa e Tânia e Anastácia faziam um
contrapeso suave e mais sóbrio à animação da loira.
— O Fran te contou né? Que a gente namorou
no colégio? Mas não precisa ficar com ciúmes não, porque já passou. Eu adoro o
Fran, mas hoje só como amigo. Mas confesso que ele ficou bonitão. Você viu
fotos dele na época do colégio? Não? Me passa seu numero e depois eu te mando!
Ele era tão magricelinho, bom, eu também era, quem diria que eu ia me tornar
essa grande gostosa um dia, né? — ela parecia uma cachoeira de palavras, as
frases jorravam daqueles lábios bonitos numa velocidade ímpar o suficiente para
quase atordoar Joaquim, que apenas concordava e sorria.
— Tou te sobrecarregando né? As pessoas
dizem que eu faço isso. Eu falo muito, mas é porque eu gosto de conversar,
sabe? Ai Marisa, trás essa coisinha fofa aqui, eu quero carregar! —Marisa
aproximou-se com um pequeno embrulho gordinho e resmungão que Darcy pegou no
colo com cuidado enquanto exibia um sorriso maternal.
— Tá tão grande Mari, tem quantos meses? —
ouviu a mãe dizer que o bebê tinha seis meses e então viu a loira se sentar
novamente ao seu lado e pode ver o rosto gordinho e as bochechas fofas.
— Ele pode carregar também? — a mãe disse
que sim, que o bebê não se incomodava de ir para o colo de quem não conhecia e
complementou rindo nervosa, “Se alguém
roubasse, demoraria para eu descobrir que sumiu, porque nunca chora”.
— Pega meu bem. Faz parte de ir num
casamento, carregar o bebê dos outros. — Darcy depositou aquela coisinha frágil
de olhos enormes em seus braços e Joaquim sentiu o pavor que toda pessoa tem ao
carregar um bebê. “E se eu derrubar? E se
cair? E se eu não souber segurar?”, mas no fim deu tudo certo e o bebê até
acabou tirando um cochilo nos seus braços.
O que o loiro não sabia, era que do outro
lado do campo, Francisco observava a cena e sorria, ao ver o namorado
interagindo com as pessoas e carregando aquela coisinha fofa que não chorava.
— E ai Fran, trocou por um modelo mais
novo? — Thiago, um dos seus amigos da época da escola perguntou, o que o deixou
incomodado e o fez corrigir o outro, informando que não tinha trocado nada,
aquele era o seu namorado.
— Desculpa ai, foi só uma piada. Mas,
falando do que interessa, quem diria né? Darcy tá um mulherão hein? — o fato de
nenhum dos seus amigos da época da escola fazer comentários transfóbicos sobre
Darcy já deu a Francisco algum vestígio de esperança.
Na época em que namoraram, Darcy tinha
confessado a ele que não se sentia confortável com o corpo que tinha, que não
se identificava como as pessoas a viam, mas não sabia explicar bem o que queria
fazer. E mesmo naquela época, quando tinham pouco mais de 15 anos, Francisco
lhe deu o melhor apoio que pode, disse que estaria ali caso precisasse de
alguma ajuda. Infelizmente, quando saíram do colégio, a família de Darcy se
mudou para outro estado e eles perderam o contato.
— Muito linda. E continua a mesma pessoa
divertida e simpática de sempre. Foi bom demais poder reencontrá-la. E a vocês
também! — ao dizer as ultimas quatro palavras, ouviu um coro de “êêêêê” vindo
dos amigos que brindaram com as taças de champanhe.
— Precisamos manter contato cara. Me passa
seu whats depois, a gente pode sair. Eu tou num rolo com um cara de Minas
Gerais, ele tá vendo de vir pra cá ou eu vou pra lá, num sei, mas até lá, a
gente pode sair beber alguma coisa. — disse Thiago enquanto sorria, exibindo os
dentes brancos e perfeitos que eram seu cartão de visita, afinal, ele era
ortodontista.
Combinou de mandar seu contato para todos
e então se afastou para cumprimentar os noivos e notou um certo brilho magoado
nos olhos de Maurício quando se aproximou. Assim que chegou perto, ouviu o
outro pedir ao marido que fosse buscar alguma coisa na cozinha da casa e ficou
obvio que era um pretexto para deixá-los a sós.
— Então, casados! Parabéns Maurício. — em
resposta viu o outro forçar um pequeno sorriso e em seguida murmurar. — E você
então, comprometido, parabéns Francisco.
— Achei que a gente tivesse terminado numa
boa, Maurício. Porque todo esse rancor na voz? Você acabou de casar com um cara
que te ama. — Viu o outro terminar a taça de champanhe num gole só e pressentiu
que algo ruim poderia acontecer.
— Não é isso Francisco. Ele é exatamente
igual a mim! E a Darcy na época do colégio, isso meio que machuca sabe? Eu me
pergunto como deve ser pra ele, estar aqui e ver dois dos seus
ex-relacionamentos que parecem cópias físicas dele. — Francisco suspirou
cansado, estava cheio daquela conversa de que ele tinha “um tipo” e que todos eram iguais.
— Olha, eu vou falar rápido, antes do Wagner
voltar. Quando eu namorei Darcy, eu gostava de como Darcy era. Quando eu
namorei você, eu gostava de estar com você e da sua personalidade, de como você
me fazia sentir. E agora, com o Joaquim, eu gosto dele, de tudo nele. Vocês
podem se parecer fisicamente, mas acredite quando eu digo, vocês três são bem
diferentes entre si. E eu amei vocês como eu o amo. Então não se sinta
ofendido, eu não “troquei por uma versão
mais nova” como o Thiago fez o desfavor de me dizer, eu só me apaixonei. —
viu que o outro se esforçava para não chorar e para tentar impedir que
acontecesse, ele abraçou Maurício.
— Agora, se você pudesse ser um pouquinho
menos venenoso com o meu namorado, eu agradeceria. Olha lá a Darcy, ela
praticamente adotou ele. — ouviu Maurício rir e murmurar “Ela faz isso com todo mundo, é bem mãezona mesmo”.
Wagner retornou e ao ver que o marido
estava chorando, perguntou se estava tudo bem, ao que Maurício respondeu que só
estava meio emocionado, ao mesmo tempo em que lançava um olhar de suplica para
Francisco, em um pedido silencioso por ajuda, ao que ele respondeu com um leve
meneio de cabeça e um sorriso.
— Ei Wagner, o Maurício me falou que você
é agente literário, é isso mesmo? Eu trabalho numa editora, a maioria dos
livros que a gente publica é didático, mas as vezes aparece um romance ou uma
antologia de contos. — Francisco disse enquanto via o rapaz sorrir e iniciar
uma conversa sobre a editoração no Brasil e o assunto rendeu.
Continua...
Nota final:
Gente, eu me empolguei com esse capítulo e
produzi tipo mais de dez páginas! (os capítulos costumam ter de cinco a oito
páginas), espero não ter ficado muito maçante. Na verdade tive de cortar aqui
ou ele ficaria enorme – vai continuar no próximo capítulo.
O que acharam da famigerada festa de
casamento do ex do Francisco? Joaquim tendo de encontrar os ex-relacionamentos
do namorado e se dar conta que ele tem sim um padrão físico para namorar.
E do desfecho do aniversário da Agatha?
Confesso que o pai dela, Silas, é um personagem desprezível de escrever.
Eu escrevi o Maurício (era “Mauro”, mas
isso vai ser corrigido futuramente) pra ser meio insuportável mesmo, ele é
irritante e sem noção.
Já a Darcy eu escrevi sendo uma fofa
querida.
Eu tive a ideia de criar ela há um bom
tempo, só não sabia como encaixar na história, até pensar que ela podia ser a
pessoa que celebraria o casamento – claro que ficou subentendido aqui que ela é
juíza de paz ordenada então sim, o casamento foi legal. Eu pesquisei um bocado
sobre isso, se era possível celebrar uma união fora do cartório. E a casa na
tal chácara é grande o bastante para comportar todos os convidados – como vocês
vão ver no próximo capítulo.
Eu sei que tanto o Joaquim quanto o Diego
são bastante inseguros sobre seus relacionamentos e em parte é porque os dois
têm traumas e problemas emocionais e psicológicos (ansiedade, depressão), só
espero não estar deixando eles muito chatos para os leitores.
Enfim, este foi o capítulo, espero que
tenham gostado e adianto que no próximo teremos uma surpresa bem... cof, cof,
quente.
Obrigada por ler até aqui e, por favor,
deixe um comentário se puder, são muito importantes para eu saber se você está
gostando, sua opinião vale muito.
Até o próximo capítulo,
Perséfone Tenou.
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