Estava começando a
escurecer e para evitar dirigir a noite, Francisco tinha feito reserva em um
hotel próximo da chácara e agora o rapaz tentava convencer o namorado a parar
de conversar com Darcy, para irem embora.
Apesar do
desconforto inicial, o dia havia sido agradável para Joaquim, que naquele
momento trocava contatos com Darcy e se comprometia a mandar um whats para ela
assim que voltassem para casa e enquanto se levantava da mesa e se despedia de
Tânia e Anastácia, era abraçado pela loira com força o bastante para fazê-lo
perder o ar.
— Foi tão bom te
conhecer fofinho! E Francisco, vê se não deixa ele triste ou você vai se ver
comigo, ouviu? — a moça ameaçou sorrindo enquanto olhava para o outro rapaz por
sobre a cabeça de Joaquim, que ria ao mesmo tempo em que aspirava o aroma
delicado do perfume dela.
— Darcy, querida,
você acha que eu seria capaz de deixar ele triste? — a moça riu ainda mais alto
e após dar um beijo suave na testa do loiro, o soltou com delicadeza, rumando
para dar um tchau aos noivos.
Após conseguirem
se despedirem de todos os presentes, eles pegaram o carro para irem embora e
durante o trajeto, Joaquim ficou pensando no olhar que Maurício lhe deu
enquanto apertava sua mão durante a despedida.
Foi um misto de
amargor e aceitação que lhe causou certo desconforto e quando o abraçou,
Maurício murmurou em seu ouvido “Estou
feliz pelo Francisco.”, mas a frase soou ambígua e meio confusa para o
loiro que em resposta apenas meneou a cabeça e deu um pequeno sorriso
deslocado.
— Tá tudo bem?
Quim? — olhou para o namorado e esboçou um sorriso cansado, mas quando seu pé
encostou na mochila que havia deixado dentro do carro, ele se lembrou do que
tinha planejado para aquela noite e o sorriso se tornou mais sincero.
— Tá tudo bem sim.
Mas, me diz uma coisa, Fran, você tá muito cansado? Acha que vai chegar no
quarto e dormir? — viu o outro
observá-lo com o canto do olho e exibir uma expressão divertida.
— Não exatamente,
por quê? Você tem algo em mente? — Joaquim torceu os lábios levemente segurando
um sorriso enquanto respondia “Talvez eu
tenha...” e em seguida passou os dedos de forma despreocupada sobre os
cabelos loiros e macios.
***
Diego dirigia de
volta para casa, com Marcelo no banco do passageiro ao seu lado e Paulo
cochilando no banco de trás e enquanto parava em um semáforo, o rapaz repassou
o dia que tiveram no aniversário de Agatha.
Apesar de ver o
irmãozinho se divertindo na festa, não conseguiu deixar de notar que ele não se
comportava como as outras crianças. Paulo parecia meio retraído e tímido demais
e isso o fez pensar se o garoto estava bem.
— Sabe, eu estive
observando o Paulo brincar hoje e acho que talvez fosse bom tentar marcar uma
consulta com um psicólogo infantil pra ele. O que acha? — perguntou para o
marido em um sussurro, para não acordar o menino.
— Talvez seja uma
boa mesmo, digo, quando a gente para pra pensar no tanto que ele passou com tão
poucos anos de vida... — comentou Marcelo para em seguida dar uma espiada
rápida no banco traseiro, onde o garoto parecia continuar dormindo totalmente
alheio a conversa.
— Teve alguns
momentos durante a festa que ele só parava e ficava olhando as outras crianças brincando
com uma expressão tão... Triste. Eu sei que ele é feliz conosco, se compararmos
com quando ele chegou pra gente em Janeiro, aconteceu uma evolução muito grande
no comportamento dele, mas eu acho que... Ainda tem alguma coisa que precisa
ser resolvida. — tinha tanta coisa que Diego queria fazer pelo irmãozinho, pois
sentia que fazia parte de ser um responsável, mas ao mesmo tempo sentia receio
de decidir por algo e acabar chateando Paulo.
— E a gente vai
ajudar ele a superar isso, juntos. — sentiu a mão de Marcelo segurar a sua por
alguns segundos e Diego sorriu em resposta.
***
Vanessa estava
colocando Agatha para dormir, já tinham removido todos os presentes de cima da
cama e agora tudo estava empilhado em cima da pequena mesa que a menina tinha
no canto do quarto.
— Como você está,
filhota? — Vanessa perguntou enquanto cobria a menina e acendia o abajur ao
lado da cama. Viu a garota suspirar fundo, de uma forma triste demais para uma
menininha que tinha acabado de completar 08 anos.
— Não sei, mãe...
Hoje foi legal, meus amigos vieram, a gente brincou, eu ganhei uns presentes
bem legais, muita coisa que eu queria faz tempo, mas... — O olhar dela rumou
para a porta entreaberta do quarto, com certeza pensando no enorme urso de
pelúcia que estava largado no sofá da sala.
— Eu sei que você
estava esperando que o seu pai viesse... Mas pode ter acontecido algum problema
e por isso ele não pode vir... — sabia que não era verdade, mas não queria que
a filha ficasse ainda mais triste.
A garota abraçou
uma boneca de pano que estava ao seu lado na cama, o brinquedo tinha sido um
presente que Vanessa deu a ela há alguns anos e em seguida ela fungou baixinho
enquanto esfregava os olhos, secando supostas lágrimas.
— Ele não veio
porque não quis. Mas quer saber, mãe? Agora sou eu que não quero mais ver ele!
E nem aquela... Mulher que ta com ele. — declarou a garota enquanto encarava a
mãe com um olhar desafiador que parecia dizer “Eu não quero mais ver ele e você não vai me obrigar”.
Tal expressão no
rosto da filha, fez Vanessa pensar na situação complicada em que estava sendo
colocada. Ela e Silas tinham a guarda compartilhada da menina e se não a
enviasse para vê-lo nos finais de semana, o ex-marido poderia tentar algum tipo
de recurso para tirá-la de sua guarda. Não porque ele gostasse da menina, mas
sim para não ter de pagar a “vultuosa” quantia de R$500,00 por mês de pensão.
— Querida, vamos
esquecer isso por hoje, ta bom? Pense só nas coisas boas que aconteceram na sua
festinha. E amanhã eu vou te levar para tomar um sorvete, o que acha? — a
menina esboçou um pequeno sorriso, ainda assim foi o suficiente para deixar
Vanessa um pouco menos preocupada. Ela deu um beijo suave na testa da filha e
saiu do quarto, encostando a porta ao sair.
Ao chegar no seu
quarto, a moça ligou para o ex-marido, mas demorou três tentativas que caiam na
caixa postal até que alguém atendeu. Era voz de mulher e isso fez Vanessa
crispar os lábios em um sinal de irritação.
— Quem quer falar
com o Silas? — aquela... Abusada! Mas, após respirar fundo por alguns segundos,
Vanessa respondeu que era “A mãe da filha
dele” e então ouviu do outro lado da linha aquela voz esganiçada dizer “benhê, é a sua ex”.
— Alô Vanessa, o
que você quer? já ta tarde e íamos dormir. — pela segunda vez a moça respirou
fundo, se controlando para não despejar tudo o que estava entalado em sua
garganta em cima daquele traste inútil do ex-marido.
— Você lembra que
dia era hoje? É, isso mesmo, aniversário da Agatha. Sim, ela recebeu o seu “presente”, mas sabe o que ela realmente
queria hoje? Você sabe Silas? Ela queria o pai! Você prometeu que viria vê-la
hoje e daí faz isso! — alguns segundos de silencio do outro lado da linha e
então ele fala, como se estivesse só informando que o pneu do carro havia furado.
— A Suelen não
queria que eu fosse e você sabe né, ela ta grávida e não pode passar nervo... —
aquela frase fez um pequeno vulcão interno entrar em erupção no cérebro de
Vanessa, pois quando era ela quem estava esperando Agatha, ele tinha feito todo
tipo de coisa para deixá-la nervosa, a mais “memorável” foi se meter em uma briga de bar e ir parar na
delegacia.
— Como é? —
perguntou incrédula enquanto o ouvia repetir a mesma frase com aquele tom de
voz que desde o divórcio começou a irritá-la.
— Então ela diz
pula e você só pergunta quão alto? É isso? A Agatha é sua filha! E sabe do que
mais? Sabe o que ela me disse hoje antes de dormir? Que ela nunca mais quer ver
você! Eu sei que pela lei ela tem de passar alguns finais de semana com você,
mas adivinha só, isso não quer dizer que ela queira ou goste. — respirou fundo
pela terceira vez ao ouvir Silas dizer “Mas
eu tenho o direito!”
— Não, você é que
vai escutar Silas! — Vanessa sentiu uma queimação no estômago enquanto escutava
o ex falar um monte de absurdos, alegando que tinha direitos sobre a filha.
— O fato Silas, é
que você pode até ter o direito de vir buscá-la, mas jamais terá o amor dela de
novo. E sim, eu vou continuar enviando ela pra te ver, Silas. Eu não quero que
você arrume uma desculpa para contestar a quantia suntuosa que você deposita
uma vez por mês como pensão. Mas saiba que a Agatha não gosta mais de você. Só
achei que você gostaria de saber. — uma lágrima solitária brotou no canto do
olho direito de Vanessa, que a enxugou com cuidado. Ela não conseguia decidir o
que doía mais, a constatação de que seu casamento foi uma enorme mentira ou o
fato de que seu ex-marido magoou a pessoa mais importante da vida dela.
— Boa noite,
Silas. — declarou, desligando em seguida. Seu estomago doía e as mãos estavam
com uma tremedeira leve e ela sentia um grito desesperado querendo brotar da
garganta e teve de arrumar forças não sabia onde, para sufocá-lo, afinal, não
queria assustar a filha.
Ficou óbvio que
não conseguiria dormir naquela noite.
***
Ia pousar na casa
de Letícia novamente. Já havia avisado as mães e Lola tinha dito a Mayara para
que fosse sossegada, pois elas ficariam bem. Mesmo assim a moça pediu que a mãe
ligasse para ela caso algo acontecesse.
Desde que sua
outra mãe, Joana, teve aquele ataque do coração, a moça passou a ter cuidado
redobrado com as duas. Lola parecia forte como uma arvore centenária, mas ainda
assim era uma senhora idosa e que precisava de cuidados.
— Tá tudo bem lá
na sua casa? — Letícia perguntou enquanto entrava na garagem do prédio e ouviu
a namorada responder que sim, mas que não conseguia evitar se preocupar.
— Sabe como é, né?
As duas já têm idade e... São a minha única família e... Ai eu nem gosto de pensar muito nisso! — A
moças sentiu o nariz e os olhos arderem, enquanto impedia as lágrimas de
começarem a cair.
Sentiu-se ser
abraçada e um beijo suave ser depositado em sua têmpora por Letícia e em
resposta, Mayara suspirou fundo, aliviada de saber que tinha mais alguém em
quem podia confiar.
— Vem, vamos
subir. Você toma um banho e eu preparo alguma coisa leve pra gente comer, o que
acha? — Letícia sugeriu enquanto fazia um agrado nos cabelos macios da namorada
e a via sorrir em resposta. Letícia adorava aquele sorriso.
Depois que saiu do
banho, que a fez se sentir muito melhor, Mayara entrou na pequena cozinha do
apartamento e viu a namorada em pé próxima do fogão, usando uma camiseta larga
como pijama, e ao vê-la ali, a outra moça sentiu um desejo de abraçá-la pela
cintura e beijá-la na curva do pescoço e em questão de segundos acabou
colocando esses planos em prática, recebendo um risinho divertido em resposta.
— O banho foi bom,
hein? Você ta cheirosa. — Letícia comentou enquanto desligava a boca do fogão e
levava a panela de sopa até a mesa.
— Fiz sopa de
batata e cebola, com um pouquinho de mix de temperos... — informou Letícia ao
mesmo tempo em que pegava pratos no armário.
— O cheiro tá
muito bom... — enquanto elas comiam, Letícia comentou sobre o aniversário da
garotinha que haviam ido mais cedo. No começo, tinha se sentido meio deslocada,
afinal era só a namorada da cuidadora do amiguinho da aniversariante, mas não
demorou para se sentir incluída. A mãe da menina, Vanessa, era muito simpática.
— E aquela avó da
Agatha, hein? Que mulher mais... Ugh! — exclamou Letícia enquanto levantava
para pegar um pouco de água no filtro e ouvia a namorada concordar e
complementar com “Isso porque você não
conheceu a avó do Paulo, as duas e a mãe daquele menino que faz bullying com o
Paulo podiam dar as mãos e sumir no mundo”.
— Esse tipo de
gente não tem semancol, né? — comentou Letícia suspirando e em seguida tomando
uma colherada de sopa.
— Nenhum pouco.
Mas pelo menos a gente teve a Vanessa pra botar ordem na casa. Você viu o jeito
que ela repreendeu a própria mãe? Se bem que, se fosse minha mãe eu também a
teria colocado no lugar. — a conversa se estendeu durante o resto da janta e no
fim, após lavarem os pratos, as duas se aconchegaram na frente da tevê, enroladas
em um mesmo cobertor, para assistir algum filme.
Letícia estava
quase cochilando, quando ouviu a namorada murmurar em um tom levemente pastoso
pelo sono.
— Eu sou feliz de
ter você na minha vida... — em resposta, ela deu um beijo suave no topo da
cabeça de Mayara e respondeu no mesmo tom sussurrado: “Eu também, sou muito feliz de ter você na minha”.
Continua...
Nota da autora:
Bom, se você está
lendo este capítulo na semana de 01 de Março de 2025, então quer dizer que eu
voltei das férias que sempre tiro em Janeiro e espero conseguir terminar esta
história até no máximo o meio deste ano. Peço desculpas por ter levado 1 mês a mais do
que o normal para voltar, mas, gente, eu
tava precisando muito de um tempo longe.
Neste capítulo
tivemos o desfecho do que aconteceu no aniversário da Agatha e o quanto o pai
da menina não se importa com ela, agora que sua nova mulher está esperando um
novo bebê. O que infelizmente é bastante comum com pais divorciados – mas não
estou dizendo que é algum tipo de comportamento padrão, nem todo pai divorciado
é assim, apesar de que boa parte deles são.
Também vimos a
preocupação de Diego com o irmãozinho, que por conta de todo o trauma que
passou, tem um comportamento diferente do que costuma-se ver em crianças da
idade dele. E futuramente ele levará o menino à um psicólogo infantil.
Por fim tivemos um
pouquinho de Mayara e Letícia, um dos casais mais fofos que eu já escrevi. E
claro, uma pequena cena de Francisco e Joaquim, lembrando que, o próximo
capítulo será focado apenas neles e terá cenas +18 (então se você não curte,
basta esperar o capítulo seguinte).
Para quem
acompanhou até aqui, muito obrigada de coração, são cinco anos de escrita de
uma história que não tem nada mirabolante ou plot twists bizarros, é apenas um
grupo de pessoas comuns vivendo suas vidas comuns. E eu espero que vocês
estejam gostando – se sim, por favor, deixem um comentário.
Até o próximo
capítulo,
Perséfone Tenou
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